Os
afetos infantis são sempre excessivos, transbordantes, duradouros.
Quando o amor pela mãe é onipotente, ele não pode ser contido pelo Eu,
facilmente se transforma em aversão, raiva, vergonha, ressentimento -
são inúmeras as formas de tentar dar um destino ao que não cabe em si. O
primeiro encontro com o outro - a figura materna ou seu substituto -
desperta em nós o incabível. Este, muitas vezes,
só encontra seu lugar no reconhecimento, ainda que tardio, da dor das
diversas formas de perda e suas recusas. A dor da perda nos impõe o
reconhecimento da fragilidade humana: a nossa e a de nossas mães - o
encontro com o incabível do amor. Na precariedade do início da vida, o
encontro com o outro-mãe inscreve em nós não só o amor, mas, também, a
marca da finitude. Depois do fim, ainda resta o amor.
(Evelin Pestana, Casa Aberta - Página, Psicanálise, Artes, Educação).
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Outro dia vi um estudo que diz que 25% das
músicas do Spotify são puladas após 5 segundos. E que metade dos
usuários avança a música antes do seu final. Enquanto isso, no YouTube, a
média de tempo assistindo a vídeos não passa dos 90 segundos. O mais
chocante desses dois dados é que o uso do Spotify e do YouTube, em
geral, está focado no lazer, no entretenimento. Ou seja, se a gente não
tem paciência para ficar mais de 90 segundos focado em uma atividade que
nos dá prazer, o que acontece com o resto das coisas?
Você ficou sabendo da entrada do ator Selton Mello no seriado Game Of
Thrones? Saiu em vários grandes portais brasileiros e a galera na
internet compartilhou loucamente a notícia. Tudo muito bacana, não fosse
a notícia um hoax, um boato inventado por um empresário brasileiro
apenas pra zoar e ver até onde a história poderia chegar. Bem, ela foi
longe: mais de 500 tuítes com o link, mais de 3 mil compartilhamentos no
Facebook, mais de 13 mil curtidas, matéria no UOL, Ego, Bandeirantes, O
Dia e vários outros sites.
Quem não tem paciência de ouvir cinco segundos de uma música tem menos
paciência ainda pra ler uma notícia inteira. Pesquisas já mostraram que a
maioria das pessoas compartilha reportagens sem ler. Viramos a Geração
“só a cabecinha”, um amontoado de pessoas que vivem com pressa, ansiosas
demais pra se aprofundar nas coisas. Somos a geração que lê o título,
comenta sobre ele, compartilha, mas não vai até o fim do texto. Não
precisa, ninguém lê!
"SOMOS A GERAÇÃO QUE LÊ O TÍTULO, COMENTA SOBRE ELE, COMPARTILHA, MAS NÃO VAI ATÉ O FIM DO TEXTO. NÃO PRECISA, NINGUÉM LÊ!"
Nunca achei que a internet alienasse as pessoas ou nos deixasse mais
burros, pois sei que a web é o que fazemos dela. Ela é sempre um reflexo
do nosso eu, para o bem e para o mal. Mas é verdade que as redes
sociais causaram, sim, um efeito esquisito nas pessoas. A timeline corre
24 horas por dia, 7 dias da semana e é veloz. Daí que muita gente acaba
reagindo aos conteúdos com a mesma rapidez com que eles chegam. Nas
redes sociais, um link dura em média 3 horas. Esse é o tempo entre ser
divulgado, espalhar-se e morrer completamente. Se for uma notícia, o
ciclo de vida é ainda menor: 5 minutos. CINCO MINUTOS! Não podemos nos
dar ao luxo de ficar de fora do assunto do momento, certo? Então é
melhor emitir logo qualquer opinião ou dar aquele compartilhar maroto só
pra mostrar que estamos por dentro. Não precisa aprofundar, daqui a
pouco vem outro assunto mesmo.
Por outro lado... quem lê tanta notícia? Se Caetano Veloso já achava
que tinha muita notícia nos anos 1960, o que dizer de hoje? Ao mesmo
tempo em que essa atitude é condenável, também é totalmente
compreensível. Todo mundo é criador de conteúdo, queremos acompanhar
tudo, mas não conseguimos. Resta-nos apenas respirar fundo, tentar
manter a calma e absorver a maior quantidade de informação que pudermos
sem clicar em nada. Será que conseguimos?
* Co-criadora e curadora do youPIX e da Campus Party Brasil. Seu
trabalho busca entender como os jovens brasileiros usam a rede para se
expressar e criar movimentos culturais.
Fonte: Galileu