domingo, 20 de julho de 2014

O momento Só Nós



Imagem: Divulgação


As relações vez por outra acabam. Muitos desejam a lealdade unilateral, o amor eterno, compreensão do outro. Nada mais ‘politicamente correto’ que uma conversa sincera e definitiva ao encerrar uma experiência amorosa frustrada. Hora de desatar os nós. A grande questão é que ao abrir espaço para esse dialogo queremos na verdade a reconciliação. Aceitar o convite para tal evento – sim, porque se torna um evento – estamos reconhecendo o desejo de voltar. É a oportunidade de reatar, de salvar, o que de melhor existe entre o casal – o amor. Abre-se um monte de parênteses, relatamos o que até o momento era segredo, passamos a conhecer detalhes que não gostaríamos e mentiras apropriadas. Negamos o amor e, muitas vezes, o chamamos de desamor. Aliás, que péssimo hábito esse que desenvolvemos de negar o que sentimos. Isso me soa tão medíocre, principalmente quando nos achamos cheios de razão. É como se estivéssemos numa guerra, na defensiva e sempre atacando. Muitas vezes nos ferimos mortalmente. Queremos ceder, mas o orgulho não permite. Passamos então a apelar para a memória, enumerando todas as provas de amor que acreditamos nunca terem sido percebidas. E aguardamos a gratidão que não será demonstrada, pois o ressentimento é grande demais para permitir isso. Julgamos. O assunto se perde. Ambos se perguntam o que estão fazendo ali. A resposta é óbvia. O laço de amor os une por uma linha invisível e perceptível. Até a vizinha que soube que haveria tal conversa sabia que os dois se reconciliariam. Eles se amam, só um tolo não vê. O orgulho não permite a reaproximação. Ai! Não há nada num relacionamento mais desafiador que o prefixo ‘re’. Reaproximar, reconciliar, reatar, recomeçar. Aprendi com um desses personagens da dramaturgia que retomar (outra palavra com o prefixo ‘re’ que não alistei anteriormente) uma relação é como tomar café requentado, quando não queima a língua tem gosto de passado. Eis a grande questão! Se não houver perdão, sim, aquele que nos faz jogar para trás tudo o que aconteceu e recomeçar do zero, a amargura será como uma cicatriz dolorosa. É desnecessário negar o amor. Se entregar é preciso. Ceder muitas vezes nos salva da dor. A decisão da reconciliação é individual. Se a cena final será feliz dependerá unicamente de nós. É! Nessa hora somos só nós. Nossas aspirações somadas ao desejo do outro de viver uma bela história de amor. Afinal, queremos ser os príncipes e princesas dos contos de fadas, mesmo que não reconheçamos isso.

A reflexão acima foi possível através da arte espetacular, singela, simples e real da peça Só Nós, da Cia Perambulantes. Há cerca de ano estive no Rio de Janeiro para assistir uma peça na Casa de Cultura Laura Alvim com atores não muito reconhecidos pela grande massa. Fiquei feliz e impressionado pela interpretação e entrega dos atores. Pensei que não mais veria algo como aquilo, atores infinitamente talentosos, com anos de estrada na carreira teatral e desconhecidos pelo grande público. Senti-me um privilegiado. Na estreia do espetáculo Só Nós esse sentimento se repetiu. Quanta responsabilidade e maturidade dos atores Diego Matos e Mariana Siniscarchio! Mesmo sendo uma história que muitos consideram previsível, representaram-na de forma simples, particular, convincente e diferente. Tenho muitos e sinceros elogios a tecer a todos envolvidos neste trabalho. Viva a arte com simplicidade e competência! Que se torne rotina.

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