Imagem: Divulgação |
As relações vez por outra
acabam. Muitos desejam a lealdade unilateral, o amor eterno, compreensão do
outro. Nada mais ‘politicamente correto’ que uma conversa sincera e definitiva
ao encerrar uma experiência amorosa frustrada. Hora de desatar os nós. A grande questão é que ao abrir
espaço para esse dialogo queremos na verdade a reconciliação. Aceitar o convite
para tal evento – sim, porque se torna um evento – estamos reconhecendo o
desejo de voltar. É a oportunidade de reatar, de salvar, o que de melhor existe
entre o casal – o amor. Abre-se um monte de parênteses, relatamos o que até o
momento era segredo, passamos a conhecer detalhes que não gostaríamos e
mentiras apropriadas. Negamos o amor e, muitas vezes, o chamamos de desamor. Aliás, que péssimo hábito esse que
desenvolvemos de negar o que sentimos. Isso me soa tão medíocre, principalmente
quando nos achamos cheios de razão. É como se estivéssemos numa guerra, na
defensiva e sempre atacando. Muitas vezes nos ferimos mortalmente. Queremos ceder,
mas o orgulho não permite. Passamos então a apelar para a memória, enumerando
todas as provas de amor que acreditamos nunca terem sido percebidas. E aguardamos
a gratidão que não será demonstrada, pois o ressentimento é grande demais para
permitir isso. Julgamos. O assunto se perde. Ambos se perguntam o que estão
fazendo ali. A resposta é óbvia. O laço de amor os une por uma linha invisível
e perceptível. Até a vizinha que soube que haveria tal conversa sabia que os
dois se reconciliariam. Eles se amam, só um tolo não vê. O orgulho não permite
a reaproximação. Ai! Não há nada num relacionamento mais desafiador que o
prefixo ‘re’. Reaproximar, reconciliar, reatar, recomeçar. Aprendi com um
desses personagens da dramaturgia que retomar (outra palavra com o prefixo ‘re’
que não alistei anteriormente) uma relação é como tomar café requentado, quando
não queima a língua tem gosto de passado. Eis a grande questão! Se não houver perdão,
sim, aquele que nos faz jogar para trás tudo o que aconteceu e recomeçar do
zero, a amargura será como uma cicatriz dolorosa. É desnecessário negar o amor.
Se entregar é preciso. Ceder muitas vezes nos salva da dor. A decisão da
reconciliação é individual. Se a cena final será feliz dependerá unicamente de
nós. É! Nessa hora somos só nós. Nossas aspirações somadas ao desejo do outro
de viver uma bela história de amor. Afinal, queremos ser os príncipes e
princesas dos contos de fadas, mesmo que não reconheçamos isso.
A reflexão acima foi possível através da arte espetacular, singela,
simples e real da peça Só Nós, da Cia Perambulantes. Há cerca de ano estive no
Rio de Janeiro para assistir uma peça na Casa de Cultura Laura Alvim com atores
não muito reconhecidos pela grande massa. Fiquei feliz e impressionado pela
interpretação e entrega dos atores. Pensei que não mais veria algo como aquilo,
atores infinitamente talentosos, com anos de estrada na carreira teatral e
desconhecidos pelo grande público. Senti-me um privilegiado. Na estreia do
espetáculo Só Nós esse sentimento se repetiu. Quanta responsabilidade e maturidade
dos atores Diego Matos e Mariana Siniscarchio! Mesmo sendo uma história que
muitos consideram previsível, representaram-na de forma simples, particular,
convincente e diferente. Tenho muitos e sinceros elogios a tecer a todos
envolvidos neste trabalho. Viva a arte com simplicidade e competência! Que se
torne rotina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário