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domingo, 14 de setembro de 2014

Para lembrar como o amor é simples



Sério. Antes de qualquer coisa, assista ao vídeo. São 8 minutos que valem a pena. Tipo Fred: vai te fazer sorrir.





Não é lindo? O filme é tão querido, fofo e real! O curta começa falando sobre como todos queremos ser amados e estar apaixonados. Depois, ele pergunta: estamos todos prontos para o amor?
Não sei. Quer dizer, acho que complicamos tanto o “amor” que nem lembramos muito bem como ele é. Quanto tempo gastamos imaginando mil monstros, fantasmas e minhocas (...) e encanando tentando complicar o que deveria ser descomplicado? Quantas mensagens você escreveu e não enviou! É que, na sua cabeça, a pessoa poderia pensar horríveis sobre você. Mas qual o problema? Quantas vezes imaginamos milhões de situações que nunca existirão e fantasiamos com coisas tão distantes da realidade? E quantos encontros divertidos perdemos por isso? Perdemos tudo ao não darmos uma chance para alguém apenas pelo fato de ele não se parecer com o marido (hellooo, acorda Cinderela) perfeito que você imaginou que teria um dia?
Com certeza, eu perdi vários momentos sinceros. A realidade me decepcionava porque minha criativa imaginação impedia. E foi isso que o video me lembrou: essa sensação gostosa de gostar e de ser simples, divertido e gostoso. E real.
Onde estou em relação ao amor? Numa jornada em busca da simplicidade da vida cotidiana e acho que não estou sozinha nessa. Por um amor divertido, leve, gostoso e, principalmente, sincero. Não mais fantasias mirabolantes em que o primeiro beijo só acontece no meio do deserto sob um céu cheio de estrelas [...]. Não mais sonhar em encontrar o príncipe encantado numa viagem para Dinamarca porque talvez o cara certo more bem aqui pertinho. Não mais esperar que as flores que ele traz serão sempre brancas, pois as flores sinceras não são perfeitas e tem manchas. As relações também. Elas acontecem nas horas mais inapropriadas dos jeitos mais inoportunos e sinceros depois que as minhocas e a imaginação dão espaço a encarar a vida real, como no video. Porque a realidade é mais simples e descomplicada do que a imaginação. E também muito mais gostosa de viver. 


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Quem ama tem um quê de guarda-costas



  - por Ricardo Coiro
Imagem: O Guarda-Costas (Divulgação)
Hoje de manhã – diferente das primeiras vezes em que a levei até o lar dela – eu só consegui me sentir aliviado depois de tê-la visto fechar, em total segurança, o portão que separa o Edifício Arminda da parte pública – e supostamente mais perigosa – do mundo. Após o beijo de “tchau” e antes que ela tivesse tempo para sair do meu carro, eu fiz a varredura visual dos poucos metros que a separavam da porta para a qual ela estava prestes a se dirigir – exatamente como faz um guarda-costas profissional. E, felizmente, não identifiquei elementos suspeitos ou possíveis ameaças àquela que amo. Mas continuei de olhos arregalados, atento aos mínimos passos dela e pronto para entrar em ação caso algum meliante, tarado, cão raivoso, abelha teleguiada, barata voadora ou camelô insistente resolvesse ameaçá-la. Mas nada ocorreu. Ela apenas fechou o portão de ferro, virou-se para mim e acenou sem fazer alarde ou descolar o cotovelo do corpo; e, assim que a luz do farol ficou verde, pude perceber que ela fitou o meu carro até onde a miopia dela permitiu.
E se está me achando um baita de um exagerado graças ao que descrevi no parágrafo acima, você, caro leitor, certamente não ama ninguém e, obviamente, nunca amou. Porque o amor, irmão, sempre nos torna seres zelosos e extremamente preocupados com o bem-estar daquele (a) que amamos.
E o meu zelo pela moça que amo não se limita às vezes em que a deixo em frente ao prédio no qual ela mora; meu cuidado vai muito além: quando estamos em um show, por exemplo, muitas vezes, ao invés de olhar para o palco, eu permaneço atento aos potenciais focos de confusão. E sabe por que eu faço isso? Não faço por mim, óbvio! E sim para aumentar as chances de conseguir protegê-la caso comece um corre-corre ou um quebra-pau.
E quando ela engasga (...) então? Tirando o uso do vocativo “bem”, que me parece um pouco antiquado, eu digo as mesmas palavras (“Beba água, bem! Passou? Beba mais! Passou? Erga os braços! Passou?”) que a minha avó diz ao meu vô que – mesmo depois de anos de treino – ainda insiste em engasgar em todas as refeições.
E nas vezes em que ela, antes de rumar ao trabalho, beija-me a testa e pisa manso para não me acordar, por amor e só por ele, eu sempre consigo arrumar forças para abrir as pálpebras e analisar se ela está bem agasalhada e com os cabelos secos. E se ela por acaso estiver com a vasta cabeleira úmida, com a voz embriagada de quem está sonado por ter ficado dentro do Netflix até altas da madruga, eu invento: “O secador de cabelo não atrapalha o meu sono, cabeção!”. E tento, sempre em vão, voltar ao mesmo sonho. Ou fugir do velho pesado.
É, pensando bem, talvez eu seja demasiadamente zeloso. Mas, e daí? Se leio as contraindicações dos remédios que os doutores apressados a mandam tomar, é por amá-la a ponto de não querer vê-la, em hipótese alguma, sentindo qualquer efeito colateral ruim. Se displicentemente entrego o meu peito, de bandeja, ao vento gelado da madrugada, é por não suportar vê-la tremendo de frio. E se fico triste a cada vez em que a ouço dizer que está sem saco para se cuidar, é, com certeza, por saber que muito depende também dela.
Se quando a gente gosta é claro que a gente cuida – como bem diz a música Sozinho – fica bem fácil de imaginar (mas impossível de medir!) o tamanho do zelo de quem ama.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Serial Lover



Imagem: Reprodução


Existe uma infidelidade mais secreta e menos evidente, que acontece depois do relacionamento. Só acontece depois. É uma traição póstuma, retardatária, residual.

É quando você repete os mesmo lugares, os mesmos apelos, as mesmas confidências com outro. É quando você insiste em escrever e tecer declarações exatamente iguais.

É uma extorsão sentimental colocar um desejo para sua nova companhia como se fosse inédito e que já foi dividido com a anterior.

Pois a paixão só é idêntica para quem não enxerga as diferenças.

É como remanejar presentes, aproveitar alianças antigas.

Você prova que não tem criatividade nenhuma, demonstra a maior apatia: refaz os passeios que já realizou, leva para os restaurantes que freqüentava, as baladas e festas conhecidas, reincide nos roteiros de viagem, destina sonhos e palavras já gastos, reemprega até os nomes aprovados para quando nascessem seus filhos.

Mudou a pessoa, mas não o seu jeito de seduzir. Mudou a pessoa, mas não sua rotina de amar. Mudou a pessoa, mas não seu script.

É uma melancólica sobreposição, desastrada colagem.

Nem precisa cometer o ato falho de trocar o nome do atual pelo ex, porque estará revisitando atmosferas e cenários. Experimenta locações contaminadas por juras velhas.

Não há sensação mais ingrata para seu namorado anterior ao perceber que era mais um. Um qualquer, nem um pouco especial. Um sósia de cenas românticas. Um dublê da adrenalina e dos feromônios.

Você oferece um passado usado sob o disfarce de futuro. Alcança aquilo que foi ensaiado com o antecessor. Não se dá o luxo de disfarçar, o trabalho de maquiar, colocar uma manta no mobiliário da memória.

Recorrendo à fórmula fixa de história feliz, estabelece uma competição imaginária, anula a individualidade do seu par, apaga a invenção a dois e a costura por caminhos surpreendentes e inesquecíveis.

Acredita em sua inocência porque ninguém comentará o assunto. Desfruta da tolerância dos garçons, dos colegas, dos amigos, dos parentes. É realmente um segredo com pequenas chances de ser revelado, porém a consciência não é boba e um dia se vinga.

O que vive está longe de ser amor, é obsessão.

 



Publicado na Revista IstoÉ Gente
Agosto de 2014 p. 48
Ano 14 Número 711
Colunista

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Carta aberta a você que ainda acredita no amor

 

Você sabe que tem gente se matando agora, não sabe? Tem um povo bombardeando outro, crianças apavoradas, mulheres subjugadas. Uns homens soltam bombas, outros prendem o choro. Edifícios desabam fáceis, sob a mira dos mísseis prateados, impecáveis. Famílias se desmancham como papelão na enxurrada, canalhas fogem com o dinheiro do povo. Ódio vira regra, medo se faz prática, desespero se torna música. O sucesso de audiência é a nossa escandalosa miséria de todos os dias.
E você, decerto, já se deu conta do quanto sobrevivemos desviando, esquivando, escapando, correndo uns contra os outros. Não que eu acredite que isso tudo vá mudar por obra da nossa mais pura e simples vontade esperneada. Mas eu tenho a impressão de que a gente devia passar mais tempo juntos, sabe?
Porque assim, juntos, talvez a gente perceba, cheios de vergonha, o quanto se deixou convencer de que essa porcaria toda é “normal”. Normal, assim, como um cachorro ordinário que morde o outro porque tem todos aqueles dentes pontudos e eles não podem ficar ali na bocarra sem uso e você sabe, cachorro morde mesmo, morde por puro instinto.
Juntos, quem sabe a gente compreenda que “normal” é coisa nenhuma! E que é preciso resgatar do fundo da gaveta aquela velha capacidade de indignação desbotada que fazia tanto sucesso no verão passado.
Quem sabe assim teremos, para cada declaração de guerra, um milhão de declarações de amor rasgadas, confessadas sem pudor a quem quiser ouvir. E na esteira de cada afirmação amorosa seguirão novos gestos e atitudes renovadas e medidas de amor desmedidas.
Para cada um dos longos anos que nos separaram até agora, brotarão das rachaduras no asfalto florestas de instantes a nos unir em abraços emocionados de encontro e festa.
É, sim. A gente devia passar mais tempo juntos. Devia parar e sentar e conversar e lembrar nossas coisas. E lá, no terreno baldio das lembranças saborosas, estaremos nós, engatinhando por uma selva de pernas enormes em uma festa chata de adultos enfadonhos, ouvindo ao longe suas conversas altas e miradas importantes, até uma hora chegarmos ao abrigo sob a mesa grande, de onde roubaremos uns brigadeiros e cajuzinhos para nossa ceia secreta e submersa, protegidos do mundo e de suas questões inatingíveis em nosso universo simples e subterrâneo.
De nosso encontro, soltaremos os risos que um dia seguramos para a foto até doer o rosto. E a cada risada alta, o amor há de acordar de seu sono, o amor e sua energia atômica, sua força motriz poderosa, sua vontade que a tudo movimenta e estremece acenderá nas sombras e explodirá feito as bombas dos facínoras.
Seu estrondo despertará nossas coisas de amor que nos arrancam do sofá e nos põem de pé, em movimento, a seguir nosso caminho de um tempo novo, a seguir cenas dos próximos capítulos, rodadas na descida de nossa serra do mar, nosso corredor da vida onde se vai adiante mais do que se espera cair do céu.
Porque do céu nada cai exceto nós mesmos, despertos de nossos sonhos de grandeza em cada pequeno acaso de nosso dia depois do outro.
Juntos, aprenderemos de novo a pedir com jeito, a trabalhar com força e desejo e honestidade, repetindo delicadezas em todos os idiomas, batucando textos de amor como pretextos para amar.
E em nossa imaginação amorosa, inventaremos pessoas, cenas, famílias, festas, churrascos de domingo, casamentos repletos de gente amiga, disposta a reescrever a história toda. Ou ao menos a nos fazer sentir menos sós.
Assim, juntos, irmanados pela aventura do amor à vida, a nós mesmos e ao outro, criaremos uma nova ordem, um novo estado de coisas, e escreveremos a milhares, milhões, bilhões de mãos a nossa declaração universal dos direitos e deveres de amar.
Não que eu acredite que toda a miséria do mundo assolado pela raiva e a burrice vá frear sua marcha louca de uma hora para outra, e os exércitos se ajoelhem sob a beleza de um arco-íris monumental debruçado sobre todos os continentes. Mas ao menos estaremos juntos.
Amantes, amores, amados, avante. Ao trabalho!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Conversa à toa sobre o começo, o meio e o fim do amor

Elena Romanova



É certo que o amor começa quase sempre pelo mesmo mecanismo perfeito, preciso, inexplicável que organiza o reencontro inesperado de dois velhos conhecidos numa cidade com seis milhões de habitantes. Do nada. Nasce com a impertinência de uma espinha no rosto da debutante, da noiva ansiosa, da madrinha solteira. No descabimento de um espirro durante o orgasmo, o amor também dá o ar de sua graça. Surge como visita inesperada, resfriado, bolada na praia, multa de trânsito, mamangava, maria-fedida, vagalume, conjuntivite, cabelo branco em adolescente, flor no asfalto, passarinho em escritório.
Sem aviso, o amor rompe a membrana tênue que separa as coisas elevadas, impossíveis, da vida corriqueira e seus acontecimentos rasteiros. Dá as caras à toa, sem mais, como alguém que vai ao mercado, o despertador que não toca, a moça que acorda com raiva, o pobre que acerta na loteria, o tombo da patinadora. Porque o amor pertence à insuspeitada categoria das coisas imprevisíveis. O amor vive no terreno do imponderável. É ali que ele respira, ali ele espera, invisível, seu tempo fortuito e incalculável de vir a ser.
Ah… o amor que adora despertar no desencontro absoluto e na coincidência escandalosa dos números inacreditáveis, na história improvável da moça que passa sete anos sozinha e, dois meses depois de engatar um namoro assim-assim, encontra um moço que viveu os mesmos sete anos casado e há dois meses — os mesmos e inacreditáveis dois meses — encerrou mais uma entre tantas tentativas de amar e ser amado. É, o amor também principia em desarranjo e escárnio divino.
Então, uma vez iniciado, o amor vive sua maior peleja: o meio. Porque difícil não é o começo e nem o fim do amor. É o meio, o que existe entre um e outro lado da história, entre a capa e a contracapa, a frente e o verso. O morno que um dia foi água pelando e no outro será gelo e indiferença. A segunda, terça, quarta e quinta feiras de todo amor.
Quando chega ao meio é que o amor se põe à prova. E só sobrevive a esse terreno esburacado e enganoso o amor dos amantes operários. O amor trabalhador. Porque é de subidas dolorosas, descidas traiçoeiras e retas sonolentas que se compõe esse meio-caminho.
Quem aprende a ficar e se manter de pé, a cair e levantar nesse território impreciso vive o amor em sua face mais primorosa. O amor parceiro de quem se sabe disposto a caminhar rumo ao inferno para estar ao lado do outro, ou na frente, ou atrás. Porque só quem sobrevive às trevas há de entrar no paraíso.
No meio do amor, é preciso perder o medo de se arrebentar inteiro no campo minado do dia a dia. Ali, os casais caminham com cuidado para não pisar em nenhuma mina, ora sabendo, ora não, que se um o fizer os dois serão atingidos na explosão, tão perto estão um do outro.
A quem supera essa fase é reservado um regalo sublime, bônus do exercício maravilhoso de amar: as lembranças. Vagas e adocicadas lembranças de longas conversas tarde da noite, ouvindo a cidade dormir lá fora. As memórias de viagens e festas, sábados de cinema, domingos de churrasco, segundas a sextas de trabalho, planos e sonhos. As reminiscências, tão sublimes quanto os instantes que as originaram. Afinal, seja qual for o tamanho do meio, um dia o amor chega ao fim.
Nesse dia, a decência dos amantes é medida pelo tamanho de seu desprendimento e de sua capacidade de engolir o pranto e dizer “adeus, seja feliz”. Porque só merece as dores e as delícias do amor aquele que um dia saiba deixar o outro ir em frente. E que aprenda a estar só novamente e a guardar a dor consigo até a dor passar, como as antigas personagens de desenho animado que engolem bananas de dinamite acesas.
No amor, que também ama a lógica, depois do começo e do meio vem o fim. Tempo em que ele se arrasta entre migalhas, restos e sobras. Como o guaraná que perde o gás, a cerveja que esquenta, a goiaba que passa do tempo e deixa a casa inteira com cheiro de quintal, é certo que o amor também acaba como começou. Do nada. Em nada, como uma estranha sombra pálida e triste, sinal agudo de que seu tempo já foi e de que é hora de seguir em frente para, tomara Deus seja logo, começar tudo de novo e de novo outra vez.


Fonte: Revista Bula

domingo, 27 de julho de 2014

Terreno perigoso




Imagem: Reprodução

Quando Lígia e Ricardo se falaram foi amor a primeiro clique. Isso mesmo! É cada dia mais comum em nossos tempos esse perigoso ‘pré-relacionamento’ virtual. Os dois se apresentaram frágeis, apaixonados pelas mesmas coisas, parecia tudo combinado. As mensagens enviadas tinham uma certa ambiguidade e interesse oculto. Na verdade, os dois estavam carentes, outro sentimento cada vez mais comum entre nossos contemporâneos. Daí começaram a trocar juras de amor. Terreno perigoso esse tal coração, principalmente quando está desesperado. Ao se falarem, mesmo à distância, o mundo parava, estavam longe de tudo, viviam uma ilusão. Algo dizia aos dois que não daria certo, não era apenas insegurança. Sua história não daria certo. Essa frase ecoava em suas mentes. Mas havia, como ainda há, uma conectividade impressionante entre eles. Seria uma bela história. E fica a pergunta: quantas histórias nunca se concretizaram, mesmo na proximidade? Muitas! São muitos os enlaces que moram na subjetividade e nas promessas não cumpridas. Lígia e Ricardo prometeram um dia abandonar tudo e começar uma vida nova em outro lugar, mas nunca tiveram coragem. Um pensa no outro todos os dias. Ficam admirando a foto do outro, pensando em como seria se tivessem seguido seus planos audaciosos. Quantos planos deixamos pelo caminho, não é mesmo? Muitos! Mais do que deveríamos. E a sensação de vazio os invade. Horrível! Aliás, com que constância sente um vazio? É! Você mesmo, Caro Leitor! Esse sentimento também é muito perigoso. Cuidado! Mas o vazio desse casal se dá porque se amam e tem medo do que a realidade pode os apresentar e o receio da recíproca de seu amor não ser verdadeira. Mais que isso, medo de terem idealizado alguém que não existe. Um sério risco. Afinal, cometemos esse erro com quem convivemos diariamente, imagina com uma pessoa que nunca esteve em sua presença?! E quem conhece a história deles se divide em duas opiniões. Ou pensam que tudo não passa de uma grande bobagem ou que eles têm medo do amor. Mas vai muito além disso, eles temem a mudança que a concretização desse amor pode causar em suas vidas.

domingo, 20 de julho de 2014

O momento Só Nós



Imagem: Divulgação


As relações vez por outra acabam. Muitos desejam a lealdade unilateral, o amor eterno, compreensão do outro. Nada mais ‘politicamente correto’ que uma conversa sincera e definitiva ao encerrar uma experiência amorosa frustrada. Hora de desatar os nós. A grande questão é que ao abrir espaço para esse dialogo queremos na verdade a reconciliação. Aceitar o convite para tal evento – sim, porque se torna um evento – estamos reconhecendo o desejo de voltar. É a oportunidade de reatar, de salvar, o que de melhor existe entre o casal – o amor. Abre-se um monte de parênteses, relatamos o que até o momento era segredo, passamos a conhecer detalhes que não gostaríamos e mentiras apropriadas. Negamos o amor e, muitas vezes, o chamamos de desamor. Aliás, que péssimo hábito esse que desenvolvemos de negar o que sentimos. Isso me soa tão medíocre, principalmente quando nos achamos cheios de razão. É como se estivéssemos numa guerra, na defensiva e sempre atacando. Muitas vezes nos ferimos mortalmente. Queremos ceder, mas o orgulho não permite. Passamos então a apelar para a memória, enumerando todas as provas de amor que acreditamos nunca terem sido percebidas. E aguardamos a gratidão que não será demonstrada, pois o ressentimento é grande demais para permitir isso. Julgamos. O assunto se perde. Ambos se perguntam o que estão fazendo ali. A resposta é óbvia. O laço de amor os une por uma linha invisível e perceptível. Até a vizinha que soube que haveria tal conversa sabia que os dois se reconciliariam. Eles se amam, só um tolo não vê. O orgulho não permite a reaproximação. Ai! Não há nada num relacionamento mais desafiador que o prefixo ‘re’. Reaproximar, reconciliar, reatar, recomeçar. Aprendi com um desses personagens da dramaturgia que retomar (outra palavra com o prefixo ‘re’ que não alistei anteriormente) uma relação é como tomar café requentado, quando não queima a língua tem gosto de passado. Eis a grande questão! Se não houver perdão, sim, aquele que nos faz jogar para trás tudo o que aconteceu e recomeçar do zero, a amargura será como uma cicatriz dolorosa. É desnecessário negar o amor. Se entregar é preciso. Ceder muitas vezes nos salva da dor. A decisão da reconciliação é individual. Se a cena final será feliz dependerá unicamente de nós. É! Nessa hora somos só nós. Nossas aspirações somadas ao desejo do outro de viver uma bela história de amor. Afinal, queremos ser os príncipes e princesas dos contos de fadas, mesmo que não reconheçamos isso.

A reflexão acima foi possível através da arte espetacular, singela, simples e real da peça Só Nós, da Cia Perambulantes. Há cerca de ano estive no Rio de Janeiro para assistir uma peça na Casa de Cultura Laura Alvim com atores não muito reconhecidos pela grande massa. Fiquei feliz e impressionado pela interpretação e entrega dos atores. Pensei que não mais veria algo como aquilo, atores infinitamente talentosos, com anos de estrada na carreira teatral e desconhecidos pelo grande público. Senti-me um privilegiado. Na estreia do espetáculo Só Nós esse sentimento se repetiu. Quanta responsabilidade e maturidade dos atores Diego Matos e Mariana Siniscarchio! Mesmo sendo uma história que muitos consideram previsível, representaram-na de forma simples, particular, convincente e diferente. Tenho muitos e sinceros elogios a tecer a todos envolvidos neste trabalho. Viva a arte com simplicidade e competência! Que se torne rotina.