terça-feira, 31 de julho de 2012

RECOMEÇAR



Não importa onde você parou…
em que momento da vida você cansou…
o que importa é que sempre é possível e
necessário “Recomeçar”.

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado…
Chorou muito?
foi limpeza da alma…

Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia…

Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos…
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora…
Pois é…agora é hora de reiniciar…de pensar na luz…
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal
Um corte de cabelo arrojado…diferente?
Um novo curso…ou aquele velho desejo de aprender a
pintar…desenhar…dominar o computador…
ou qualquer outra coisa…

Olha quanto desafio…quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.

Tá se sentindo sozinho?
besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza…
nem nós mesmos nos suportamos…
ficamos horríveis…
o mal humor vai comendo nosso fígado…
até a boca fica amarga.
Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.
Onde você quer chegar? ir alto…sonhe alto… queira o
melhor do melhor… queira coisas boas para a vida… pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos… se pensamos pequeno…
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor…
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental…
joga fora tudo que te prende ao passado… ao mundinho
de coisas tristes…
fotos…peças de roupa, papel de bala…ingressos de
cinema, bilhetes de viagens… e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados… jogue tudo fora… mas principalmente… esvazie seu coração… fique pronto para a vida… para um novo amor… Lembre-se somos apaixonáveis… somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes… afinal de contas… Nós somos o “Amor”…
"Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do
tamanho da minha altura.”

Carlos Drummond de Andrade.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e actividades são tragadas pela cobiça." - Karl Marx

domingo, 29 de julho de 2012

"Olho pro céu e peço a Deus que mande a paz
O sentimento verdadeiro dos mortais
Aqui embaixo o pesadelo está demais"
 - Márcio da Costa Batista

sábado, 28 de julho de 2012

"A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade." - Immanuel Kant

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tese de Guerdjef


Tese de um pensador russo chamado Guerdjef, que no início do século passado já falava em auto-conhecimento e na importância de se saber viver.Dizia ele: “Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nós em cada momento e daquilo que, realmente vale como principal”.
Assim sendo, ele traçou 20 regras de vida que foram colocadas em destaque no Instituto Francês de Ansiedade e Stress, em Paris.Dizem os “experts” em comportamento que, quem já consegue assimilar 10 delas, com certeza aprendeu a viver com qualidade interna. Ei-las:
1) Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo. Repita essas pausas na vida diária e pense em você, analisando suas atitudes.
2) Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme.
3) Planeje seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de você.
4) Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure.
5) Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível. No trabalho, casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo.
6) Abra mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte dos desejos, o eterno mestre de cerimônias.
7) Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de pedir às pessoas certas.
8) Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine-os porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes.
9) Tente descobrir o prazer de fatos cotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida.
10) Evite se envolver na ansiedade e tensão alheias enquanto há ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a ação.
11) Família não é você, está junto de você, compõe o seu mundo, mas não é a sua própria identidade.
12) Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca.
13) É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente ao menos num raio de cem quilômetros. Não adianta estar mais longe.
14) Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância sutil de uma saída discreta.
15) Não queira saber se falaram mal de você e nem se atormente com esse lixo mental; escute o que falaram bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento.
16) Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo … para quem quer ficar esgotado e perder o melhor.
17) A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente.
18) Uma hora de intenso prazer substitui com folga 3 horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se.
19) Não abandone suas 3 grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé!
20) E entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente:Você é o que se fizer ser!

Fonte:  http://www.extravase.com/blog/tese-de-um-pensador-russo-chamado-guerdjef-interessante/
“A escuridão não tem existência própria, pois ela é somente a ausência da luz. Quando a escuridão é muito intensa, você não consegue se mover em direção à luz. Então, você começa a tatear no escuro, o que significa fazer o processo de autoinvestigação e de relação de causa e efeito. Isso faz com que você possa se mover no escuro. Assim, você pode até começar a ver alguma claridade, porque a sua visão se acostumou com a escuridão (quando você entra em um quarto escuro, no primeiro momento, não enxerga nada, mas, aos poucos, acostuma-se com a escuridão e percebe que é possível enxergar algumas coisas). A partir disso, você consegue fazer alguns movimentos e tomar algumas atitudes. Mas, a escuridão somente será dissolvida quando a luz for ligada. E a luz é a Graça divina."

Sri Prem Baba

terça-feira, 24 de julho de 2012

"O que a história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história." - Friederich Hegel

segunda-feira, 23 de julho de 2012

DA ARTE DE AMAR O ESTRANHO QUE PASSA

Miguel Sousa-Aguiar

Corre o sol pelo asfalto, descendo a Rua Augusta, como água na corredeira, jogando luz nos cantos, amarelando tudo, um sol repentino, um sol de buzinas, um sol de rostos anuviados que se abrem num ou outro sorriso ao vez a luz chegar. Corre a menina de negro, os cabelos vermelhos, os olhos pintados, uma dezena de brincos no nariz, como uma jovem de alguma distante tribo africana. Ela passa por mim olhando fixamente para a frente, como se perseguisse uma presa, os olhos escondidos atrás da grossa camada de maquiagem. Atrás dela, corre a dona de casa, alguns quilos acima de seu peso, lutando contra um cabelo que teima em lhe cair sobre os olhos, arrastando uma menina de olhar sonhador. Ela esboça um sorriso triste e arrasta a criança rua abaixo, olhando de esguelha para as vitrines cheias de roupas para mulheres magras. E ainda passa correndo o homem de terno escuro e têmporas grisalhas, uma ruga profunda no meio da testa, uma determinação nos passos que chega a assustar.
Eu tomo mais um gole do café- forte, amargo, cheio de lembranças em seu aroma – e observo o grupo de funcionárias do salão, todas de branco, como um bando em revoada, gritos agudos e braços que se agitam ao mesmo tempo, enquanto correm para atravessar a rua movimentada. Mal tocam o pé na calçada e a frota de carros brilhantes toma seu lugar, correndo ladeira acima, enquanto o sol corre no sentido oposto. E corre fumaça, corre criança com fome, correm mulheres ricas com arcos dourados nos cabelos, japonesas, coreanos, judeus ortodoxos de chapéus negros e cachos balançando ao vento.
O café termina e eu continuo sentado, ali, os olhos fixos na rua que ondula com a respiração das gentes que vêm e vão – e eu brinco de lhes adivinhar os sonhos, inventar histórias sobre este ou aquele, perceber um detalhe curioso que vai para o livro das particularidades de ser humano. Esta observação cotidiana faz muito bem. É como um exercício da alma este olhar para a gente a sua frente, ao invés de não enxergar o outro, que é como somos ensinados a nos comportar. Um longo aprendizado este, o da arte de amar o estranho que passa.
O jovem chinês, recém chegado a São Paulo me oferece relógios, cremes, óculos de sol. Salta sobre mim como um tigre faminto, abrindo a mala surrada e produzindo quinquilharias e cosméticos. Vai falando uma mistura de inglês estropiado, português e uma linguagem corporal intensa. Eu acabo comprando um par de óculos e ele despenca ladeira abaixo, feliz como uma criança, sacudindo a cabeça, em agradecimento.
Observo seu corpo e percebo que ele corre de forma graciosa. Há um encanto em sua figura magra, a mala parecendo muito mais leve do que realmente é. Ainda pára na esquina e acena: e o gesto traz uma certa atmosfera chinesa, quase uma estampa: lanternas vermelhas e revelações trazidas pelo ópio, deitado nos fundos de um cabaré, enquanto a garota de cabelos negros e lisos, aquela que tinha uma tatuagem de dragão na base do pescoço, fuma atrás da cortina de contas de cristal.
A arte de amar o estranho que passa.
É quando conseguimos ir além do sexo, além das nossas repulsas, além dos nossos medos. É quando conseguimos olhar além, quando somos capazes de entender a santidade de alguns eleitos, aqueles que foram ungidos e que nos ensinam a difícil arte de viver, na totalidade, cada novo dia que nasce, ainda que ele não lhe traga nenhum grande acontecimento. Amar o movimento da areia que corre por entre o vidro da ampulheta, a serpente emplumada do nosso destino previsível. Amar o gracioso meneio dos cabelos das garotas do elenco, cantando Adeus, Batucada - lenços brancos e despedidas. Sempre despedidas, porque é disso que é feita a nossa existência, não vamos nos iludir. Vivemos a despedida de cada dia, antes mesmo que ele venha à luz.
Mas tudo parece estar no lugar certo, quando o homem canta e celebra, quando Stella corre para Soraya, que estende um olhar para Agnes que, por sua vez, eleva aos céus sua voz rara e com ela vem Germana, Sheila, Isabela, Janaína, Rita, mulheres do Brasil, cantando essas jóias do nosso cancioneiro. Os rapazes, encantados, com as vozes de mães e amantes e companheiras, respondem com o tom grave dos queixumes e a música pousa na alma com uma tal propriedade, que é como um beijo cada nota que chega pelo ar.
Estou amando um punhando de canções. Estou amando um elenco de talento. Estou, talavez por causa de tanta graça recebida, amando o estranho que passa. Começo a engatinhar nesta arte tão pouco difundida, mas com alguns bons praticantes em todos os continentes. Bem mais difícil para nós, corações urbanos marcados com as grifes, rótulos e etiquetas da nossa existência vulgar. Difícil, mas não impossível, eu penso assim.
E, talvez por isso, eu me sente aqui, como alguém em uma margem, olhando o sol que corre pela Rua Augusta, bebendo outra xícara de café, olhando para um par de óculos que eu jamais irei usar, mas que fez um jovem chinês sorrir na manhã de buzinas e carros brilhando. Essa é a idéia da coisa.
A arte de amar o estranho que passa. Ainda que não saibamos ao certo de que modo fazê-lo.

domingo, 22 de julho de 2012

Regina Duarte disse que 'a amizade é um amor incondicional'. Realmente esse amor é diferente. Sabe aquela pessoa que é capaz de te dizer todas as verdades, mesmo que essa verdade seja inconveniente, ou inventar a maior 'mentira temporária' para te fazer feliz por alguns instantes, tendo a consciência da necessidade dela? Então, esse é o AMIGO. Aquele que discorda de sua opinião, mas a respeita. Te irrita na medida certa. Diz que você é capaz de algo só para te ver lutar pelo que deseja. E quando perde uma batalha tem a 'cara de pau' (estou utilizando essa expressão de forma carinhosa) de dizer que já sabia, mas que na próxima luta você estará melhor preparado. Ele te impulsiona, nem que seja para fugir do problema juntos. É aquele que quando você está preocupado com alguma coisa pode ter certeza que ele também está, e pode multiplicar isso por três (pois ele pensa em você, no problema e em como resolver), mesmo que aparentemente não tenha nada a ver com o assunto. É aquele que os olhos contam segredos. Quem, às vezes, nos faz confundir com eles mesmos. Que inventa aquele apelido horroroso e você deseja 'torcer o pescoço' dele, mas ele continua a usar porque sabe como te tirar do sério, sem passar dos limites. Aquele que você é capaz de dizer EU TE AMO sem preconceito, mas faz isso escondido pra ninguém ficar sabendo. Que tem a audácia de falar que sua mãe também é mãe dele, e você nem sente ciúmes. Te faz passar vergonha, te emociona... Em fim... É você em outro corpo. Realmente INCONDICIONAL!

sábado, 21 de julho de 2012

Abrir os olhos, procurar a luz,
De coração erguido no alto, em chama,
Que tudo neste mundo se reduz
A ver os astros cintilar na lama!

Amar o sol da glória e a voz da fama
Que em clamorosos gritos se traduz!
Com misericórdia, amar quem nos não ama,
E deixar que nos preguem numa cruz!

Sobre um sonho desfeito erguer a torre
Doutro sonho mais alto e, se esse morre,
Mais outro e outro ainda, toda a vida!

Que importa que nos vençam desenganos,
Se pudermos contar os nossos anos
Assim como degraus duma subida?

Florbela Espanca

sexta-feira, 20 de julho de 2012

"Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento."

 - Luís de Camões

quarta-feira, 18 de julho de 2012

CIRCUITO FECHADO


Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone, papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira, copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesas, cadeiras, prato, talheres,copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro. Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga ,pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
         - Ricardo Ramos
"Estava tão embrenhado nos seus pensamentos que não ouviu o resto do grupo, até que seu pai pôs o cavalo a par com sua montaria.
 - Está bem, Bran? - perguntou, não sem simpatia.
 - Sim, pai - disse Bran. Olhou para cima. Envolto em peles e couros, montado no grande cavalo de guerra, o senhor seu pai pairava acima de si como um gigante. - Robb diz que o homem morreu bravamente, mas Jon disse que ele tinha medo.
 - E o que você pensa? - perguntou-lhe o pai.
 Bran refletiu sobre o assunto.
 - Pode um homem continuar a ser valente se tiver medo?
 - Esta é a única maneira de um homem ser valente - seu pai respondeu. - Compreende por que o fiz?"

 - George R. R. Martin - A Guerra dos Tronos - Livro Um

terça-feira, 17 de julho de 2012

TRÊS DIAS ANTES DO AMOR

(Uma lembrança do verão no frio do inverno. Pros amigos.)
Por Miguel de Sousa-Aguiar



Tenho corrido tanto neste início de século, que mal tenho tido tempo de aproveitar a chegada do verão - mas ele chegou, finalmente, e trouxe as mudanças de espírito que estávamos aguardando desde o início de dezembro. Chegou meio inesperado, meio molhado, mas ainda assim merecia ter sido melhor recebido, reconheço. Mas a vida vai empurrando a gente pra lá e pra cá, um passo desajeitado aqui, um pisão no pé ali, e a gente sem se dar conta de que o céu já está se tingindo de outra cor.
Dia desses, entretanto, nem sei mais porquê, cheguei na varanda e me permiti ficar na contemplação da vida que estava passando ali, embaixo da minha janela, numa tarde de janeiro. E que tarde beijava a lagoa, que grande iluminador, esse! - eu pensei comigo mesmo. Uma luz perfeita, de um amarelo vibrante, uma vontade de ficar debruçado e admirado com aquilo tudo, sem nada que quebrasse o mágico daquele momento. Uma brisa que se podia sentir mergulhando no corpo e até ver no encrespado do espelho d’água. Fiquei lembrando de uma frase de Virginia Woolf, acho que está em Mrs Dalloway e ela se refere à beleza da manhã - como para crianças numa praia! - acho que é isso, e eu pensei que aquela tarde era o cenário ideal para crianças numa praia e todos os seus castelos de areia. E celebrei, ali, em silêncio, o meu festival do estio, acendendo o coração e enchendo as narinas com o cheiro que vinha pelo ar. O meu festival do estio. Cheio de entidades tropicais, eu ia pensando, sereias e índios, sacis e caiporas. Dias antes, com alguns amigos, eu tinha assistido a um vídeo de um balé irlandês e ficamos comentando sobre a antiga religião celta. De repente, Mary começou a contar a história de uma raça de fadas, as pixies, na verdade humanóides alados, que habitavam as florestas da Irlanda. Daí que, ali, pendurado na sacada, lembrei da história e fiquei inventado as minhas entidades, umas fadas brasileiras, cheias de gingado no bater de asas, despudoradas no vôo, que eu fui soltando pelo céu da minha imaginação.
O verão tira as pessoas de casa e coloca a cidade num movimento gracioso. A volta da Lagoa ia ondulando com o tanto de gente que passeava e corria e pedalava, celebrando a temporada. É bom olhar pra gente. Tem gente que gosta de observar os pássaros. Eu gosto de observar gente. Fico inventando histórias e acontecimentos, partindo de alguém que acabou de cruzar o meu campo de visão. As histórias vão se misturando e trazendo outras e, no final, a cidade é cheia de personagens, porque é isso que elas são, na verdade.
A brisa ganhou corpo e mexeu com tudo lá embaixo. Era só uma ameaça de vento, mas não ia se concretizar. Ela soprou a calçada e um bando de folhetos fez um vôo rasteiro, para aterrisar mais adiante. Devem ser folhetos de cartomantes e adivinhos, eu pensei, porque eles proliferam nesta época do ano.
Trago a pessoa amada em três dias.
Eu adoro isso. Trago a pessoa amada em três dias.
Cada vez que alguém me entrega um desses panfletos, eu me imagino sentado numa cadeira, na frente da clássica cigana da bola de cristal. Sempre reluto, antes de atirar o papel fora. Sabe Deus quando é que vai se precisar de uma força extra!, eu penso, tentando gravar o número do telefone. E tudo porque me fascina essa única frase: trago a pessoa amada em três dias.
O que faríamos, se soubéssemos, com certeza, que dali a três dias ia chegar o amor que se foi? Não é tão simples assim, se a gente pensar bem. Se o amor chegasse com hora marcada, na estação, como alguém querido que se ausentou por um tempo, esses três dias antes do amor iam ser inacreditáveis! Afinal, esta volta com hora marcada exige um encontro impecável.
Sarita chegou sem se anunciar, pousou o queixo no meu ombro, leu o início da crônica e disse que estava sem pé nem cabeça. Depois, concluiu que não esperaria os três dias estipulados para a volta da pessoa amada.
- Não esperaria nem um! Nem um minuto! Se não esbarrasse com o cachorro na porta da cartomante, dava a visita por perdida!
E concluiu, com uma careta de desprezo:
- Quer saber do que mais? Estou chegando à conclusão de que amor é coisa pra desocupado!
Saí do computador e abandonei a crônica. Arrastei Sarita pra varanda, achando que a visão da cidade maravilhosa à noite, acalmaria aquele coração, mas ela não me deu trégua. Praticamente exigiu que eu mudasse o rumo da crônica e eu concordei, tentando não alongar a conversação. De repente, ela parou de falar.
A noite estava linda. A lua, nos céus, era uma lua árabe. A tarde generosamente tinha ofertado sua perfeição à noite. Havia uns pássaros voando na lagoa. Volta e meia um planava sob a luz e era como se ele brotasse do nada, uma mancha de branco que estendia as asas, uma, duas vezes, até desaparecer de novo na escuridão.
- O que é aquilo? – Sarita espichou o pescoço, abruptamente.
- São pixies – eu disse, sem pensar.
Ela me olhou com um ar de interrogação e desenhou a palavra, puxando o queixo pra baixo: pi – xies?
Eu não respondi.

domingo, 15 de julho de 2012

"..Seu vento é Sagrado
que ele te sopre:
as dores
as notas
as flores
a paz.
Que ele te leve pra perto de mim,
pra longe do "eu"
pra casa do existir
que é além do "ser".. "


 - Luís Kiari

sábado, 14 de julho de 2012

"Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama..." - William Shakespeare

sexta-feira, 13 de julho de 2012

“Descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar.” — O Caçador de Pipas.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Posso? Falar de amor aqui? Porque amor quando acontece, é porque ele já estava potente desde o primeiro dia. Sim, quando se da conta, você já está mergulhado neste sentimento que começou em um algum momento, assim desapercebido." - Mariana Coutinho

terça-feira, 10 de julho de 2012

"O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro." - Leonardo Boff

segunda-feira, 9 de julho de 2012

“Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse.” - Friedrich Nietzsche

domingo, 8 de julho de 2012

TUDO QUE VICIA COMEÇA COM "C"




- Luiz Fernando Veríssimo

Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios.

Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei, pensei e, de repente, um insight: tudo que vicia começa com a letra C!

De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê.

Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaína, crack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê.

Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café,mas não deixam de tomar seu chimarrão que também - adivinha ? - começa com a letra c.

Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insight finalmente revelara a resposta. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum.

Impressionante, hein?

E o computador e o chocolate? Estes dispensam comentários. Os vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana.

Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada "créeeeeeu". Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade? cinco.

Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o ato sexual e este é denominado coito.

Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada em Cultura.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

"A gente dorme de olhos fechados que é para poder sonhar por dentro, amor." - Rita Apoena

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"Eu me preocupava bastante com o que queria ser quando crescesse, quanto ganharia ou se me tornaria alguém importante. Às vezes, as coisas que você mais quer, não acontecem. E às vezes, as coisas que jamais esperaria, acontecem. Você encontra milhares de pessoas e nenhuma delas te tocam, e então encontra uma pessoa, e sua vida muda. Pra sempre.” - Anne Maciel

quarta-feira, 4 de julho de 2012

"– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?" - Monteiro Lobato

terça-feira, 3 de julho de 2012

SONETO LXXXVIII


"Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto."
 
William Shakespeare

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Se no momento em que fôsse esmagar uma formiga, ela unisse suas duas miseráveis patinhas numa prece a mim dirigida, eu me mostraria bondoso com ela. Por que então não há de Deus mostrar-se bondoso comigo?... Suplico-lhe que vos dê a vida eterna... a vós...a mim...a todos." - Victor Hugo

domingo, 1 de julho de 2012

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,

Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,

Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,

Seja uma flor ou uma idéia abstrata,

"Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.

E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.

São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,

E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,

Porque ser inferior é diferente de ser superior,

E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.

Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,

E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,

E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,

E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.

Sim, como sou rei
como sou rei absoluto na minha simpatia,

Basta que ela exista para que tenha razão de ser."
 
  - Fernando Pessoa