segunda-feira, 30 de setembro de 2013

 - Mariana Coutinho
Um jovem que viajava, já muito cansado, avistou um senhor sentado na beira da estrada e perguntou: - "quanto tempo uma pessoa consegue permanecer em estado de saudade?" O senhor sem pressa alguma convidou o rapaz a parar sua caminhada e sentar-se ao seu lado. Foi quando tragou o fumo enrolado na palha e respondeu: -"uma vida inteira, meu rapaz. Uma vida inteira". O rapaz suspirou perplexo e questionou: - "Então, se sou capaz de permanecer forte neste estado, o que é que me faz continuar?". O senhor esclareceu: -"é a saudade que nos faz caminhar em todas as estações, meu rapaz. A fome de devorá-la, dia após dia, é o que nos mantém de pé. Só há uma regra. Ela deve ser devorada antes da chegada do verão. Ainda que isso demore uma vida inteira." O rapaz, sem entender, ficou ali mais alguns dias. Sem pressa. Longos dias. E depois, na estrada mais uma vez, compreendeu: o sol ofusca os olhos que quem carrega a saudade. Não há como suportar a alegria desta estação apenas acompanhado de sua solidão.

domingo, 29 de setembro de 2013

"Não foi à toa que Adélia Prado disse que 'erótica é a alma'. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: 'continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?”
- Rubem Alves

sábado, 28 de setembro de 2013

The Love We Had (Stays On My Mind)




O Amor Que Tivemos (Continua Em Minha Mente)

Ultimamente baby, eu tenho pensado
Como era bom quando você estava aqui
E não é o vinho que estou bebendo
Por um instante eu sinto que minha cabeça está limpa

Mas cedo esta manhã, quando eu abri os olhos
Aquele velho solitário sentimento me pegou de surpresa
Eu acho que você significou mais do que pensava
O amor que tivemos continua em minha mente
O amor que tivemos continua em minha mente

E cara, eu tenho lembrado
Os bons momentos que nós costumávamos dividir
Meus pensamentos em relação a você não tem fim
E lembranças suas estão em todos os lugares

Mas porque eu deveria te dizer? Não é da sua conta
Você ganha alguns, você perde alguns
Bem eu tenho perdido e aprendido
É que eu estou tão sozinha
Sem lugar pra ir
E aqui no final eu achei

O amor que tivemos ... continua em minha mente

Cara se você estivesse mais perto, se você tivesse um espelho
Talvez você pudesse contar minhas lágrimas
E se você estivesse mais perto isso tudo poderia estar mais claro
Como queria que você estivesse aqui

Como queria que você estivesse aqui
Como queria que você estivesse aqui

E baby eu só estava cansada
Então eu deitei pra sonhar um pouco
Ultimamente eu tenho estado tão desinspirada
Sem o conforto do seu sorriso

Mas não estou reclamando
Porque é como tem que ser
Sempre há algum tipo de mágoa
Nesse mundo eu acho
Mas você não pode imaginar
Mas ninguém sabe
 
Composição: Larry Wade / Terry Callier

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

“E a verdade, por mais difícil que seja, é bela - a beleza nasce da verdade. Quando você começa a remover os amortecedores, é possível que você se depare com um deserto; e você tentará evitá-lo amortecendo novamente. Mas, chega um momento, em que você não consegue mais amortecer, por mais que tente. Isso porque os amortecedores perdem o seu poder. Você perde o entusiasmo pelos principais amortecedores: sexo, dinheiro, comida, poder... Eles perdem o sentido. Se esse é o seu caso, esse deserto precisa ser atravessado.” - Sri Prem Baba

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

C. S. Lewis -
 "O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas".

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A FERRAMENTA MAIS EFICAZ DO DIABO


Certa vez foi anunciado que o Diabo iria vender suas ferramentas. Todas elas ficaram expostas de maneira atraente, para despertar o interesse dos compradores.
Estava ali a malícia, o ódio, a inveja, o ciúme, a mentira... Cada ferramenta tinha seu preço.
Em um cantinho escuro, havia uma ferramenta de aparência inofensiva. O preço dela era altíssimo, o mais alto da exposição. O nome da ferramenta era DESÂNIMO.
Quando foi perguntado ao Diabo porque daquela ferramenta ser tão cara, ele respondeu: “Porque ela é muito útil. Os homens e mulheres a aceitam muito facilmente, pensando que ela é inofensiva. Eles nem percebem que ela pertence a mim. Uma vez que o desânimo se instala na pessoa, eu posso usar qualquer outra ferramenta para derrubá-la”.
QUAL É A LIÇÃO PARA NÓS?
‘O PERIGO QUE É DEIXAR O DESÂNIMO NOS PEGAR’.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

HOJE NA HISTÓRIA:

 D. Pedro I, primeiro monarca do Império do Brasil, morreu em 24 de septembro de 1834

"Nascido no dia 12 de outubro de 1798, em Lisboa, ele foi o quarto filho do rei Dom João VI com a rainha Carlota Joaquina. Quando Portugal foi invadido por tropas francesas, ele e toda a aristocracia portuguesa fugiram para o Brasil, em 1808.

O início da Revolução liberal do Porto, em 1820, em Lisboa, obrigou D. João VI a voltar para Portugal em abril de 1821. Com isso, D. Pedro I ficou como príncipe-regente do império e precisou lutar contra ameaças de revolucionários e insubordinação de tropas portuguesas.

Diante da tentativa do governo português de retirar a autonomia política do Brasil, Pedro I optou por declarar a independência do Brasil de Portugal em 7 de setembro de 1822. Em 12 de outubro, foi aclamado imperador brasileiro e, em março de 1824, havia derrotado todos os exército leais a Portugal.

Ele ficou no poder até 7 de abril de 1831, quando, incapaz de lidar com os problemas do Brasil e de Portugal ao mesmo tempo, abdicou do trono em favor do seu filho Dom Pedro II, retornando à Europa. De volta a Portugal, ele se viu em meio a uma guerra, que envolveu toda a península ibérica, numa luta entre defensores do liberalismo e os que defendiam o absolutismo. Pedro I morreu de tuberculose, no dia 24 de setembro de 1834, poucos meses após ele e os liberais obterem a vitória. Ele morreu no palácio de Queluz, no mesmo quarto e na mesma cama onde nascera 35 anos antes."


Fonte: http://seuhistory.com/hoje-na-historia.htm.html;jsessionid=D965DBEF8959A502A3821F52BA47880C

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cinco motivos para ler: Jane Austen.

 

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Um fascínio que completa 200 anos: Jane Austen
Pelo menos uma vez na vida você já deve ter ouvido falar em “Orgulho e Preconceito”, “Persuasão”, “Razão e Sensibilidade”, entre outros clássicos. Jane Austen é uma das autoras mais geniais que já existiram e vem inspirando amores há 200 anos. Se você nunca leu nenhum livro de Austen, prepare-se para quebrar paradigmas e romper todas as barreiras do preconceito literário. A partir de agora você terá no mínimo cinco motivos para conhecer a obra de Jane Austen.
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Jennifer Ehle e Colin Firth como Elizabeth Bennet e Mr. Darcy na adaptação mais famosa do livro “Orgulho e Preconceito”. A adaptação é uma série que foi produzida pela BBC em 1995.
Austen nasceu 16 de dezembro de 1775, em uma sociedade inglesa totalmente machista, e para se tornar escritora, teve que provar de diversas experiências e sacrifícios. É de suma importância ressaltar que Austen usou toda a atmosfera a sua volta para retratar a vida, principalmente da mulher inglesa, a sociedade da época e todo todo um contexto religioso, político e social em seus romances.Foi em 1795,  que após ter  tido sua primeira paixão,  Jane começou a escrever “Primeiras Impressões”, que foi rejeitado assim que ficou pronto. Determinada, revisou o livro e mudou o título para “Orgulho e Preconceito”, publicando com codinome de “A Lady”. Jane Austen desafiou a sociedade da época em um épico romance que contava a história de amor de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, mais precisamente , contava os desafios de um amor que atravessa os séculos.  Elizabeth Bennet, uma mulher extremamente inteligente e culta, pertencente a uma família sem muitas posses, numerosa e sem um herdeiro varão.  Elizabeth muitas vezes se provou mais sábia que suas irmãs, sua mãe, e até mesmo seu pai, por ser desinteressada materialmente e principalmente por não estar desesperada por casar-se.  Fitzwilliam Darcy, nosso famoso Mr. Darcy, um homem rico, de família nobre, orgulhoso, inteligente e…Apaixonante. Parece até clichê, não é mesmo? O homem rico, a mulher pobre, que se conheceram, se apaixonaram e viveram felizes para sempre. É nessa hora que todos se perguntam: Onde se encaixaria o  orgulho e o preconceito? E é aí, nesse exato momento, que Jane Austen excede as expectativas. Com  bom humor e uma ironia agradável, muitas vezes é disfarçada, de  forma perspicaz, a autora discorre em todo o livro. Lembram-se da história de amor? Essa mesma história fica evidente, mas não menos importante do que os retratos da época.
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Matthew MacFadyen e Keira Knightley na versão cinematográfica de “Orgulho e Preconceito”, de 2005. Essa adaptação é diferente das demais e é mais conhecida fora da Europa e do Reino Unido.
A mulher do século XIX precisava ser totalmente prendada para ser capaz de fazer um bom casamento – que como havia ressaltado antes, era a grande preocupação, não só da Sra. Bennet, mas de todas as mães desse tempo. Era preciso ler muito, costurar, pintar, falar fluentemente outras línguas (dando destaque ao latim e ao francês, que eram de grande predominância na época), dançar, ser agradável, ser bonita…Acredite, essa lista é grande. Para complicar, o pai da moçoila tinha que apresentar um poupudo dote, em dinheiro, propriedades ou títulos, para atrair um bom partido que se comprometesse a desposar sua filha. O dote era um investimento para algumas famílias, uma certeza de  aliança, mas para muitos era um prejuízo, porém sem um bom dote, uma dama não tinha muitas chances de realizar um bom casamento. Uma mulher solteira, não tinha valor nessa sociedade, era um estorvo.  Enfim, tais pressões sofridas pelas mulheres, foi perfeitamente retratado por Austen.  Para facilitar o entendimento, precisamos dizer só mais uma única coisa: se essa dama não tivesse filhos homens, quando seu marido morresse – quase sempre eles eram muito mais velhos que suas esposas –,  ela perderia seus bens e sua casa, que seria herdada por um  parente homem mais próximo da família de seu esposo. Não só em Orgulho e Preconceito é retratado isso, como também em Razão e Sensibilidade, que aliás é o precursor de todos os infortúnios das irmãs Dashwood.
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As irmãs Dashwood: (esq. para dir.) Emma Thompson, como Elinor; Emilie François, como a irmã mais nova, Margaret; Kate Winslet como Marianne. O filme, de 1995, ganhou diversos prêmios importantes do cinema, inclusive o Oscar de melhor roteiro adaptado. O filme ainda conta com Alan Rickman, como o icônico Coronel Brandon, e Hugh Grant, como Edward Ferrars.
E o homem nessa sociedade? Ah, ele só precisava casar-se. Não se pode afirmar que esse foi o grande motivo que levou Jane Austen a não se casar, afinal, ela foi pedida em casamento algumas vezes e também teve romances conhecidos, como é o caso de sua paixão por Mr. Tom Lefroy, mas tal afirmação é verídica em todos os aspectos que já foram citados, levaram-na a descrever em seus livros situações tão reais quanto as que ela vivenciava.
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Mr. Tom Lefroy. A primeira paixão de Jane Austen e a inspiração do personagem Mr. Darcy. O romance de Lefroy com Austen deu origem a um filme. “Razão e Inocência” (ou “Becoming Jane”) é estrelado por Anne Hathaway e James McAvoy.
Orgulho e Preconceito fez sucesso na época, mas não a deixou rica e é preciso enfatizar que Jane fez muito mais sucesso morta do que viva. Essa é uma triste realidade. Seus romances sucessores também arremataram grandes fãs, quando publicados, principalmente entre as mulheres. Aliás, não só quando lançado, até hoje esse sucesso se perpetua. Acredita-se que meninas, de diversas partes do mundo, conhecem Jane Austen a partir dos doze anos. Uma leitura leve,  mesmo sendo ácida em seus livros,  Austen usou de muito bom humor para descrever tanto as coisas ruins quantos as boas da época. Os costumes, as roupas, a educação, os bailes, as caminhadas, os grandes salões, todos esses estão perfeitamente vivos em suas páginas, ainda hoje, duzentos anos depois.
Outro motivo para conhecer a obra de Austen é o fascínio exercido por seus personagens, com destaque para Mr. Darcy, que arrebata fãs há duzentos anos, mesmo nos tempos atuais onde tantos consideram a gentileza e o cavalheirismo fora de moda, mesmo depois de luta a luta feminina por direitos iguais para as mulheres, Mr. Darcy permanece intocável no sonho e principalmente no imaginário  feminino.
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Matthew MacFadyen ou Colin Firth: qual é o seu preferido?
Todos os personagens das tramas escritas por Jane Austen são diferentes mas tem traços marcantes no caráter, todos os seus questionamentos, como em Persuasão, onde traça uma forte opinião sobre a futilidade e superficialidade da sociedade da época, a valorização da beleza, da posição social em detrimento ao amor, respeito e caráter. Jane é incisiva nos questionamentos propostos por suas personagens que aparentemente frágeis, demonstram muita força e determinação para vencer as desgraças, desilusões e obstáculos. Em contrapartida, os personagens masculinos, apesar de toda a força, o orgulho e postura de lords, também demonstram um lado humano, onde a ternura e paixão existem na mesma intensidade que a teimosia e o cumprimento dos deveres e obrigações impostas na sociedade da época. Embora o casamento tivesse um papel de contrato entre as famílias, ainda existia espaço para o amor, e a luta das pessoas que se amam para ficarem juntas é retratada em suas obras com toda maestria e inspiração.
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Duas famosas versões de Persuasão (esq. para a dir.):  Esta primeira é a versão de 1995, estrelada por Ciarán Hinds e Amanda Root. A versão de 2007, com os atores Rupert Penry-Jones e Sally Hawkins.
Se todos esses motivos não forem suficientes, temos ainda que ressaltar que Austen faz várias citações a outros autores, o que agrega ao leitor mais conhecimento da literatura da época e ainda faz um mergulho histórico com descrições das cidades onde se ambientam suas obras. Uma descrição detalhada e bucólica, até mesmo dos locais urbanos com o burburinho, as carruagens e paisagens, que fazem o leitor entrar na máquina do tempo e desembarcar há 200 anos com toda riqueza de detalhes.
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Emma é um dos livros que mais explora o universo luxuoso da sociedade de Jane Austen. O livro ganhou duas famosas adaptações: A adaptação cinematográfica, de 1996, com Gwyneth Paltrow e a série, com Romola Garai, de 2009.
Mesmo com todos esses motivos, ainda assim você estiver em dúvida, salientamos que na obra de Jane Austen não existem finais perfeitos, e sim finais possíveis. Toda história tem uma moral e uma razão de ser. E com um detalhe que não poderíamos deixar de citar que é o emprego adequado do idioma, da forma clássica, que com uma tradução adequada nos permite aprender muito do vocabulário e enriquecê-lo ainda mais. Por todos os motivos e razões enumeradas, recomendamos que os leitores conheçam a obra desta escritora fantástica, que com uma fórmula simples, vem encantando gerações. Suas obras já foram adaptadas para o cinema, teatro em peças e musicais, séries de Tv e a cada adaptação, o sucesso se repete. Vale a pena conhecer a obra de Jane Austen!
Nas listas de livros de Jane Austen, temos:
Orgulho e Preconceito – 1813
Razão e Sensibilidade – 1811
Mansfield Park – 1814
Emma – 1815
Persuasão – 1818
Abadia de Northanger Abbey – 1818
Esses dois últimos são obras póstumas, pois Austen morreu em 1817, quando só tinha 41 anos.

Por: ~A e ~M.

Fonte: Leitores Depressivos

domingo, 22 de setembro de 2013

Trocando de lugar – os estereótipos de gênero

Estudantes canadenses produzem vídeo no qual invertem os “papéis” femininos e masculinos em anúncios para mostra como a propaganda perpetua representações equivocadas


   Sarah Zelinski, Kayla Hatzel e Dylan Lambi-Raine, alunas do curso de estudos de gênero da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, tiveram uma ideia criativa para expor a forma como a publicidade explora massivamente os estereótipos de gênero. As estudantes canadenses produziram um vídeo no qual invertem o papel de homens e mulheres em anúncios reais.
  Quando acaba de apresentar os anúncios originais, o vídeo pergunta se o espectador achou os mesmos “ridículos”. Após o questionamento, são apresentados os anúncios com os “papéis” invertidos. O resultado é a sensação de que os estereótipos de gênero estão de tal forma culturalmente enraizados que o ridículo de explorá-los só se torna evidente com a inversão dos “papéis”.
  O vídeo, intitulado ‘Representations of gender in advertising’ (‘Representações de gênero na propaganda’), ainda apresenta estatísticas quanto aos números da violência de gênero no Canadá e os relaciona com a representação da mulher nos anúncios publicitários.

  “Algumas campanhas retratam a mulher como altamente sexual e submissa. E o homem, como dominante e agressivo”, diz Sarah Zelinsky.

  Confira abaixo o vídeo.
 


Fonte: Revista Forum

sábado, 21 de setembro de 2013

Frase do dia: "Se a única ferramenta que a vida te dá é um martelo, tratarás tudo como se fosse um prego." (BORBA 2013)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"Aprendi que a humildade mora em corações alados que não carregam o peso do orgulho. Que respeito é par constante da admiração. E que só a generosidade é capaz de descongelar sentimentos frios."

( Eder Bukowisk Jr.)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."
Lya Luft

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Tênis x frescobol

por Rubem Alves



Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.


Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta ‘Você crê que você seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa, até a sua velhice?’ Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.”


           Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo, eu te amo...” Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.


O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário - e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque.o adversário
foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.


O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...


A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...


Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros Cadernos, é sobre este jogo de tênis: “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo’. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida.’ A situação está salva e o ódio vai aumentando.”


         Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.


Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...


(Correio Popular, 1991 ou 1992)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Devidamente registrado



Relacionamentos superficiais, comunicação digital e um monte de gente dizendo nada. Faltam verdades, olhos nos olhos e valores reais.
Vivemos em um mundo de egos inflados, de umbigos gigantes que contestam a teoria de Galileu e giram em torno de si mesmos. Fotos lindas, pessoas sorridentes e pratos perfeitos! Brindes, risadas, amores, tudo devidamente registrado e compartilhado.
Momentos reais, perdidos em fotografias… Antes registrávamos para lembrar, hoje lembramos só para registrar.
A música parou de tocar, não ouvimos mais nada além dos nossos próprios desejos.  Almejamos cada vez mais coisas, queremos ser outras pessoas, não para ser melhores, mas para nos mostrarmos para aquela pessoa ou aquele grupo.
Vivemos um eterno contar de horas, dia após dia, esperando as sextas-feiras, as férias, o fim de ano ou algum acontecimento qualquer que venha nos salvar de nossas vidinhas medíocres e nos traga a tão esperada felicidade.
Então, nos poucos momentos em que  a sentimos (a tal felicidade), ela fica ali, registrada, nas redes sociais, para rapidamente ser  substituída (ou substituível)… Felicidade perecível, volátil, vazia.
Pregamos a paz gritando aos quatro cantos valores que não cultivamos, fazendo guerra. Falamos sobre desapego como virtude maior quando, na verdade, não abrimos mão nem das pequenas coisas. Queremos amores verdadeiros, mas sem ter que renunciar a nada. Queremos que o outro nos aceite, mas na verdade preferíamos que ele não existisse…
Cada um no seu mundo, todo mundo online, conectados a milhares, porém cada vez mais sozinhos, perdendo o que Deus, ou seja lá a força que for, nos deu de mais valioso: a vida.
por Laura Barreto



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domingo, 15 de setembro de 2013

Meditação




dentro de si mesmo
mesmo que lá fora
fora de si mesmo
mesmo que distante
e assim por diante
de si mesmo, ad infinitum

tudo de si mesmo
mesmo que pra nada
nada pra si mesmo
mesmo porque tudo
sempre acaba sendo
o que era de se esperar

Composição: Gilberto Gil

sábado, 14 de setembro de 2013

“Patrulha” são soldados armados que podem te matar se você os desobedecer.

Torcer o nariz para as piadas racistas, homofóbicas ou machistas de um comediante não é “patrulha”.

É o público exercendo pacificamente sua liberdade de expressão de considerar babaca um comediante que faça piadas racistas, homofóbicas ou machistas.

Esses pobres humoristas “perseguidos” que reclamam da “patrulha politicamente correta” não estão defendendo a liberdade de expressão: liberdade de expressão de verdade é o cara poder fazer piada sobre mulher estuprada e nós podermos criticá-lo por isso.

Na verdade, a liberdade que querem esses paladinos do “politicamente incorreto” é a liberdade de falar os maiores absurdos sem nunca serem criticados.

Aí é fácil, né? Assim eu também quero.

Falar besteira, qualquer criança fala.

Adulto é quem sabe que falar significa se abrir para a possibilidade de ouvir a resposta. Adulto é quem entende que ele tem a mesma liberdade de falar que seus críticos tem de criticá-lo.
 
 - Alex Castro

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Homem acorda de cirurgia com amnésia e se apaixona pela própria mulher


Jason Mortensen não reconheceu a própria mulher após acordar de uma cirurgia, mas mesmo assim se apaixonou à primeira vista por ela.
Meio grogue, ele elogia a beleza de Candice, com quem é casado há seis anos, e tenta paquerá-la.
Aos prantos, a mulher diz a ele que eles são casados. Jason não consegue acreditar.
Na descrição do vídeo, publicado por ele mesmo no Youtube, Jason explica que essa foi sua quinta cirurgia para retirar uma hérnia. "Ela ficou ao meu lado em todas as cirurgias. Ela é o amor da minha vida", escreveu.


"O médico que mandou você aqui?", pergunta Jason ao acordar. "Meu... você é muito linda. É a mulher mais linda que eu já vi. Você é modelo?"
Chorando e rindo ao mesmo tempo, ela desvia o assunto.
"Estou aqui do seu lado, coma a bolacha", responde.
"Qual seu nome?", insiste Jason, tentando paquerar a própria mulher.
"Meu nome é Candice. Sou sua mulher". Jason fica chocado.
"Você é minha mulher? Meu Deus! Mas faz quanto tempo?"
"Come a bolacha, vai. Você acabou de acordar", responde Candice, chorando.
"A gente tem filhos?", insiste ele.
"Ainda não", responde a mulher, paciente.
"A gente já se beijou?", pergunta ele, ainda encantado com a beleza da moça.
Ela ri e o manda comer a bolacha.
"Tá difícil baby", reclama ele, sentindo dor. "A gente chama um ao outro de baby? Por quanto tempo estamos casados?"
"Muito tempo".
"Meu Deus... tirei a sorte grande!", comemora Jason. "Ela é linda demais", continua ele, sozinho.
"Deixa eu ver seu rosto. Nossa, seus dentes são perfeitos! Vira de costas?", pede, querendo ver o derriére.
"Não! Come a bolacha", insiste ela.
"Somos mesmo casados? Eu te dei esse anel? Eu devia estar gostando muito de você".

Fonte: Folha - UOL

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Show das Poderosas (Versão Jazzy-Bossa-Acústica)



SHOW DAS PODEROSAS

Composição: Larissa Machado
Arranjo: Caio Alves & Tiago Galdino
Vozes: Gabriela Albuquerque & Caio Alves
Violões: Tiago Galdino
Direção, filmagem e edição: Saulo Vilela
Áudio e vídeo caputrados no C&G Studio

Soundcloud:

Primeira versão: https://soundcloud.com/tiago-galdino/...

Download: jazu.in/KMz (Link disponibilizado por Rodrigo Veras)

Gabriela Albuquerque: https://soundcloud.com/gabriela-awbooc
Caio Alves: https://soundcloud.com/caioalvesmusic
Tiago Galdino: https://soundcloud.com/tiago-galdino
Saulo Vilela: https://www.youtube.com/channel/UCIrP...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quando amanhecer




Quando amanhecer será
Para iluminar você
Vai anoitecer o dia
Se não vier
Mas se for presente
Tudo iluminará
Meu humor, meu coração
Como deve ser se
Ser como Deus quer for
Milagre, resignação
Roupa colorida
Alegria às vistas,
indescência, indiscrição
Seu cheiro me achando
Minh'alma perdida
Direi que é céu no chão
Quando anoitecer será
Para te fazer dormir
Estrelas que nem brilhantes
Pra te vestir
Vai saber que Deus fez
As damas da noite
Preparando o seu buquê
Como vai dizer não
Se tudo o que eu vejo
Está aqui pra te servir
A mais bela roupa
Roupa de ir à festa
Coloquei pra te esperar
Disco na vitrola
Uma vela acesa
E a lua mais cheia
Quando o sol nascer será
Para desenhar você
Ou será você que virá pro sol nascer
Composição: Gilberto Gil / Vanessa da Mata

terça-feira, 10 de setembro de 2013

10 LIVROS PARA CONHECER O BRASIL, SEGUNDO ANTONIO CANDIDO



No ano 2000, a revista Teoria e Debate trouxe em sua edição de número 41 um texto do sociólogo, crítico literário e ensaísta que recomendava a leituras de obras que, em sua visão, são importantes para compreender o país:


"Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.

Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.

Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.

Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.

Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.

Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).

Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império (1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República (1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.

A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras.

Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.

Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).

O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.

Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.

No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.

* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000

Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta."



FONTE: http://autoreselivros.wordpress.com/2013/05/18/antonio-candido-indica-10-livros-para-conhecer-o-brasil/

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

23 sinais inconfundíveis de uma pessoa introvertida


LuisaoCS

23 sinais inconfundíveis de uma pessoa introvertida
A dualidade introversão/extroversão sempre foi uma das mais recorrentes nas explorações da psique humana, talvez porque se consideram polos opostos e irreconciliáveis, dois extremos mutuamente incompreensíveis que, no entanto, não existem de maneira pura no mundo: todos temos algo de cada um, apesar do bando para o qual nos inclinemos.

Logo depois do introvertido salto compartilhamos 23 sinais que distinguem inconfundivelmente uma pessoa introvertida, ao menos segundo a consideração de Sophia Dembling e Laurie Helgoe, autoras de vários livros sobre o assunto.

Porque, curiosamente, essa pretensa extravagância dos introvertidos cobre os de um halo fazendo com que se pareçam incompreendidos sociais.

  1. As conversas banais parecem incômodas.
    Introvertidos não gostam de conversa fiada por ser uma fonte de ansiedade e de aborrecimento. Isso, lógico, não se deve ao fato de que eles detestem as pessoas, senão porque odeiam as barreiras que este tipo de conversa cria entre pessoas.
  2. Vão a festas, mas não para conhecer pessoas.
    Para os introvertidos, uma festa é mais uma ocasião de encontrar-se com os amigos, conhecidos e sentir-se a vontade com eles, do que uma oportunidade para conhecer novas pessoas.
  3. Usualmente sentem-se sozinhos em uma multidão.
    Apesar do contraditório que possa parecer, é usual que uma pessoa introvertida se sinta sozinha no meio de muitas pessoas.
  4. A autopromoção faz com que se sintam falsos.
    Essas conversas que têm por objetivo apenas se autopromover como pessoa ou profissional adoecem de autenticidade, pelo qual preferem não tê-las.
  5. Intensos é um qualificativo usual.
    - "Os introvertidos gostam de saltar no profundo", diz Sophia Dembling em alusão às práticas sobre o sentido da vida, a natureza do amor, a pertinência do governo estabelecido ou qualquer outro assunto sobre o qual os introvertidos encontram especial interesse em falar, com paixão, a respeito.
  6. Distraem-se facilmente (ou pelo menos parece).
    A distração dos introvertidos é consequência da capacidade para aborrecer se facilmente em ambientes onde há estímulos em excesso, como música barulhenta, muita gente falando ao mesmo tempo ou várias fontes de informação que não podem ser filtradas.
  7. O lazer não é improdutivo.
    Uma tarde a sós, decorrida com nada mais que uma bebida e, digamos, uma série de televisão, não é considerada entre os introvertidos uma perda de tempo, pelo contrário, é vista como uma necessidade para juntar energia para voltar ao mundo.
  8. Falar ante 500 pessoas é mais fácil do que fazer com uma só.
    Não é raro que pessoas públicas ou que detenham algum tipo de liderança sejam também introvertidas. Curiosamente, para elas é menos angustiante falar ante grandes audiências do que estabelecer uma conversa com apenas uma.
  9. Quando usam o transporte público, usam os últimos assentos.
    Gostam de sentar nos lugares onde seja mais fácil descer quando chegar ao destino.
  10. Começam a se fechar após ficar ativos por muito tempo.
    Para os introvertidos a energia vital é coisa séria e ao que parece incorrem em comportamentos que revelam um alto grau de preocupação para conservá-la. Assim, após passar um bom tempo ativos, se fecham e ativam uma dinâmica para reabastecer suas energias em um ambiente tranquilo.
  11. Estabelecem relações amorosas com pessoas extrovertidas.
    O casal introvertido-extrovertido pode funcionar porque os extrovertidos obrigam os primeiros a divertir-se e não se levar tão a sério e isso acaba dando certo, um completa o outro em suas faltas e excessos.
  12. Preferem ser especialistas em algo do que em muitas coisas ao mesmo tempo
    De acordo com uma pesquisa realizada recentemente, os padrões mentais preferidos pelos introvertidos faz com que se enfoquem em apenas uma coisa, à qual se dedicam, deixando voluntariamente outras nas quais também poderiam intervir.
  13. Conscientemente evitam espetáculos que requeiram participação pública.
    Nada mais terrível.
  14. Ignoram chamadas telefônicas, inclusive de amigos.
    O celular toca, olha para ver quem é e, ao final, escolhe ignorar a chamada, ao menos até que esteja verdadeiramente com vontade de falar.
  15. Vê detalhes que outras pessoas não.
    Se os introvertidos sentem-se superados pelos muitos estímulos deve-se em parte porque têm especial habilidade para se deter nos detalhes e notar coisas que os outros não percebem.
  16. O monólogo interior não cessa.
    Os introvertidos pensam mais do que falam, e talvez por isso precisam pensar bem antes de poder dizer algo.
  17. Padecem de hipotensão.
    Uma pesquisa da Universidade Médica de Shiga, no Japão, encontrou uma relação entre a introversão e uma tendência a padecer de pressão sanguínea baixa.
  18. Qualificados como velhos, ainda em sua juventude.
    A inclinação ao pensamento analítico e reflexivo pode criar certa impressão de sabedoria em torno de um introvertido, o que por sua vez pode fazer com que se pareça com mais idade da que em verdade tem.
  19. O prazer da recompensa não está no entorno.
    Um experimento realizado por neurobiólogos da Universidade de Cornell descobriu que o centro de recompensa do cérebro responde de maneiras diferentes em pessoas introvertidas e extrovertidas, ao menos no caso do lugar onde esta possa estar. Para os extrovertidos a recompensa está sobretudo no exterior, no entorno, prazer não compartilhado pelos introvertidos.
  20. Olham o quadro completo.
    O gosto pelo pensamento abstrato desenvolve certa facilidade entre os introvertidos para descobrir logo o "panorama completo" de uma situação.
  21. Vivem pedindo para que saia da concha.
    A tendência ao silêncio e ao isolamento provoca petições frequentes para que os introvertidos saiam e participem mais do mundo em que vivem, inclusive gerando preocupações familiares.
  22. Escrevem muito.
    Uns dos hábitos mais comuns entre introvertidos é a escrita, esse meio que permite se comunicar sem estabelecer um contato imediato e pessoal, além de que, por sua natureza, requer da solidão, o silêncio, a introspecção e outras condições afins.
  23. Alternam temporadas de trabalho e solidão com outras de atividade social.
    A busca do balanço entre o exterior e o interior em ocasiões se expressa em alternar períodos de intenso trabalho solitário com outros de intensa vida social.

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