segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Romeu & Julieta (fragmento)

Cena II
O mesmo. Jardim Capuleto. Entra Julieta.

Julieta - Correi, correi, corcéis de pés de fogo, para a casa de Febo. Um condutor como Faetone vos teria há muito tocado para o poente e, na mesma hora, trazido a noite escura. Espalha tua cortina, ó noite, guarda dos amores, para que os olhos curiosos nada vejam e a estes braços Romeu se precipite, de manso e sem ser visto. Os namorados enxergam o ato do amoroso rito, pela própria beleza; ou então, se é cego, de fato, o amor, diz bem com a negra noite. Vem noite circunspecta, com teu manto de matrona severa, todo preto, e me ensina a perder uma partida que já está ganha e em que se joga duas virgindades sem mancha. Ao rosto sobe o sangue tímido; em teu manto envolve-o, até que o amor esquivo, já se tendo tornado corajoso, só a inocência veja no ato do amor sincero e puro. Vem, noite! Vem, Romeu! tu, noite e dia, pois vais ficar nas asas desta noite mais branco do que neve sobre um corvo. Vem, gentil noite! Vem, noite amorosa de escuras sobrancelhas! Restitui-me o meu Romeu, e quando, mais adiante ele vier a morrer, em pedacinhos o corta, como estrelas bem pequenas, e ele a face do céu fará tão bela que apaixonado o mundo vai mostrar-se da morte, sem que o sol esplendoroso continue a cultuar. Comprei a casa de um amor, sem estar na posse dela; vendida embora me ache, possuída não foi ainda. Tão tédio e lento é este dia, tal como a noite em véspera de alguma grande festa para criança impaciente que tenha roupa nova, mas não possa vesti-la. (...)

 - William Shakespeare

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