sábado, 31 de maio de 2014

SARAVÁ, MERITÍSSIMO

Imagem: Arquivo Pessoal


 Fábio Chagas
Doutor em História e Professor

O Poder Judiciário é santificado, tenta vender à sociedade a ideia de que faz justiça, porque entre coisas não tem preferências políticas e ideológicas. Entretanto, poucos ainda acreditam neste conto de fadas.
Homens como Joaquim Barbosa, o qual se aposentará sem colocar a mão nos Tucanos, desgastou e desacreditou a imagem do Judiciário. Magistrado qualificado, mas dono de seu ódio incontrolável contra Dirceu e o PT, além de uma vaidade sem fim, aceitou o papel de engraxate da burguesia. As cabeças democráticas do Direito se envergonham dele e até se sentem constrangidas perante a sociedade.
Babosa não é e nem será o único (não se pode esquecer que existem grandes homens no Poder Judiciário), uma vez que o Juiz Federal Eugênio Rosa De Araújo (RJ) deu à sociedade brasileira um fabuloso atestado de mediocridade e intolerância cultural.
Verdade, o Doutor sem Doutorado, detentor de um fabuloso salário, negou o recurso o do Ministério Público Federal para que fossem retirados do “YouTube”, inúmeros vídeos evangélicos que pregavam a intolerância contra religiões de matriz africana.
O argumento do ilustre magistrado foi o de que Umbanda e Camdomblé não são religiões, mas tão somente cultos (não desfrutam de escritos fundantes como a Bíblia e o Corão, e tampouco comportam, em seu interior, uma organização hierárquica como a Igreja Católica).
A ignorância deste funcionário público que recebe do Estado e da sociedade poderes de Imperador, dentro e fora dos Tribunais, contribui fortemente para a manutenção dos preconceitos e demonizações perpetrados contra as religiões de matriz africana e indígena.
O Juiz Eugênio Araújo, das profundezas de sua ignorância nos mostrou seu desconhecimento de que, há 500 anos, essas religiões, tal como outras grandes contribuições africanas, edificaram esta Nação. Dentre muitas grandes virtudes que se pode verificar no Brasil, verificamos a maravilhosa influência negra, inclusive religiosa. Até mesmo nosso catolicismo é mais flexível do que em outras partes do mundo por conta dos contatos culturais com o candomblé.
Se o Meretíssimo leitor de “manuaizinhos” pelo menos lesse os manuais mais apropriados a esta questão, veria que tanto na Constituição Federal como em todas as Declarações de Direitos Humanos, o que os vídeos de Igrejas Evangélicas promovem é a mais absoluta intolerância e desrespeito a outras orientações religiosas.
Ou, será que o Juiz também é um intolerante?
Ou, será que ele está com estas Igrejas nesta cruzada contra a Umbanda e o Candomblé, para arregimentar novos fieis...e muitos novos reais?
Disputa de mercado, uai...
E por este caminho vou finalizando, pela economia de mercado. Este modelo de sociedade em que nada está acima dos lucros, fabrica monstros sedentos por bens materiais, e faz da educação nada mais do que uma fábrica de competidores e de mão de obra qualificada. Humanamente vazios...
Nossa juventude ingressa na faculdade mirando um diploma, salários fabulosos e status social. Poucos conseguem desenvolver a noção de que é possível formar-se profissionalmente e se realizar, servindo à sociedade e vivendo com renda digna, sem ter que ser rico ou consumindo todas as mercadorias possíveis.
Mais do que repetidores de “manuaizinhos”, é preciso estudar História, Filosofia e Sociologia, é preciso pensar sobre o que se estuda, para saber fazer e modificar sempre que necessário.
É preciso estudar, pensar e se elevar, porque, do contrário, novos Juízes como o do RJ aparecerão e assim continuaremos à mercê de imperadores, com suas capas, decidindo coisas importantes, sem nem a ponta do nariz para fora da miséria cultural.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

"A vida é cheia de términos e novos começos.
A cada curva há algo que nos desafia, seja o novo, formidável, ou simplesmente o familiar.
O que para uns é uma montanha intransponível, para outros é um desafio a vencer.
O que se torna sombrio para alguns, ainda permanece iluminado para outros.
Os otimistas veem o caminho à frente, os pessimistas ficam tão ocupados em olhar para trás que não conseguem ver a solução bem diante deles.
Se ficarmos segurando a corda que nos arrasta para trás não teremos mãos livres para agarrar a corda que nos puxa para frente."

 - Brahma Kumaris

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Bom selvagem, mau selvagem

Esta ilustração de Jean-Baptiste Debret parece familiar?

O imaginário brasileiro sobre o índio oscila entre os extremos de duas visões herdadas da filosofia europeia. Ele é “puro” ou “atrasado”?

Mércio Pereira Gomes

Admiração e desprezo, encantamento e repulsa. Os mesmos sentimentos dos portugueses que primeiro se depararam com um grupo tupinambá na costa de Porto Seguro, há mais de 500 anos, perduram ainda hoje. Do mais odiento dos fazendeiros ao mais diligente dos antropólogos, compartilhamos doses variadas dessa ambígua impressão sobre os índios brasileiros.
Pode-se argumentar que o encantamento e o respeito vêm se impondo nas últimas décadas. Provas disso seriam a Constituição de 1988, a extensão de terras demarcadas, o crescimento demográfico indígena, a participação do índio no panorama político-cultural brasileiro. Finalmente aprendemos a respeitar o índio? Tal certeza se esvai quando, na menor confusão que surge na mídia – disputa de terras, atitudes beligerantes contra invasores, assassinatos de índios e por índios – levantam-se as suspeitas antigas: os índios, afinal, são gente inconfiável, incontrolável... “incivilizável”!
Foi pelo espanto que começou a ser elaborada a visão sobre os índios. Cartas de Américo Vespúcio se difundiram pela Europa desde sua publicação, em 1512. Lá estava o encantamento e a repulsa pelo índio, sua nudez confiante, seu destemor, seu “comunismo primitivo”, mas também sua crueldade, sua inconfiabilidade e o mais abominável de todos os seus costumes: o canibalismo.

A partir de então, muitos visitantes se arriscaram a escrever sobre os índios que viviam no Brasil. No entanto, foram dois pensadores que nunca conviveram com os índios que escreveram as obras mais influentes do século XVI. O teólogo e humanista inglês Thomas Morus publicou em 1516 aquele que seria um dos mais importantes livros de todos os tempos: Utopia. Trata-se de uma descrição conjectural de um não lugar, numa ilha do Atlântico Sul, com uma baía esplendorosa e ao fundo uma cadeia de montanhas. Ali viveria um povo diferente: homens e mulheres solidários uns aos outros, sem diferenças sociais ou econômicas, decidindo os assuntos políticos em coletivo. De onde Morus havia tirado as informações? No prólogo, ele relata que conversara com marinheiros irlandeses que haviam estado no Brasil e lhe contado detalhes sobre o povo que lá vivia: eram os tupinambás. Foi esse povo o modelo para a obra que iria influenciar todo um sonho utópico do Ocidente.
Em Paris, na década de 1560, alguns tupinambás foram trazidos da Baía da Guanabara para conhecer os franceses. Na ocasião, através de um intérprete, Michel de Montaigne indagou sobre seus costumes, sua visão de mundo e até suas opiniões sobre a França. No brilhante artigo “Dos canibais”, ele demonstra ter compreendido bem o significado do canibalismo tupinambá, que horrorizava os europeus: os inimigos aprisionados são honrados como grandes guerreiros ao serem mortos e devorados, transmitindo sua coragem aos vencedores. Sorrateiramente, Montaigne compara a prática com as guerras civis que estavam ocorrendo entre huguenotes e católicos franceses, e seus horrendos métodos para obter informações, castigar ou simplesmente torturar os inimigos mútuos – todos franceses. Corpos despedaçados, chumbo derretido derramado nos ouvidos, queima nas fogueiras. Quem é o selvagem nessa comparação? Montaigne sugere que a repulsa e as críticas a costumes diferentes brotam da visão interna de cada cultura, que pensa que os seus são os hábitos mais naturais e corretos – o que mais tarde a antropologia iria nomear de etnocentrismo. E foi assim que Montaigne semeou no pensamento ocidental a noção de relativismo cultural. Mais uma vez, a partir dos tupinambás.
Na Inglaterra, um século depois, Thomas Hobbes escreveria o Leviatã (1651) o grande tratado que inaugura no pensamento político ocidental a visão de que o Homem é um ser intrinsecamente egoísta e mau, ainda mais na condição de selvagem, de ser da Natureza. Ilustríssimo conselheiro do rei Carlos II, Hobbes argumenta que só a dureza do poder soberano e a submissão dos homens a esse poder é que poderiam controlar os maus instintos.
A visão hobbesiana sobre o Homem teve influência bem mais profunda e abrangente do que as obras de Morus e Montaigne. Estas, porém, iriam inspirar a filosofia do genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e a teoria do bom selvagem. Em Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, ele afirma que a utopia teria existido, sim, como um estado da humanidade: uma sociedade igualitária, na qual o bem comum prevalece sobre o individualismo. Mas esse estado teria sido suplantado desde o surgimento do egoísmo e da propriedade privada. Àquela altura, só com leis e um contrato social é que os homens teriam jeito. Restavam no mundo apenas ilhas de igualitarismo social, ainda no passado do bom selvagem. Como os tupinambás.
No Brasil do século XIX, o índio emerge como herói trágico no romance O Guarani, de José de Alencar, e como herói das raízes nacionais no poema épico “Os timbiras”, de Gonçalves Dias, ambos publicados em 1857. Dom Pedro II usava sua estola real feita com penas de papo de tucano, à moda indígena, mesmo quando seu principal historiador, Francisco Adolpho de Varnhagen (1816-1878), apregoava que a civilização só poderia chegar aos rincões do país pela destruição do índio “incivilizável”.
Veio a República e, em 1891, a Igreja do Apostolado Positivista propôs à Assembleia Constituinte o reconhecimento do índio como parte da nação, porém com direitos específicos: que suas terras fossem consideradas “estados autóctones americanos”. Anos depois, em 1910, um membro dessa igreja não cristã e que era oficial do Exército, o então coronel Cândido Rondon, inauguraria o Serviço de Proteção ao Índio, a agência mais francamente favorável à assistência e ao respeito aos indígenas, com a atitude filosófica mais humanista jamais estabelecida por um Estado. Rondon e seus seguidores consideravam os índios como "nações autônomas com as quais o Brasil deveria procurar estabelecer laços de amizade". Ao entrar em um território presumivelmente indígena, era preciso pedir licença a eles; se a resposta fosse um ataque, não se devia revidar, prevalecendo a atitude de "Morrer se preciso for, matar nunca!". Ao contrário de tantos slogans inúteis, este teve consequências reais. Em mais de cem anos de política indigenista rondoniana, foram muitos os que morreram cumprindo o solene dever de jamais atacar ou revidar o ataque de algum grupo indígena belicoso. Esse espírito influencia em muito a crescente tolerância do brasileiro com o índio.
A teoria do bom selvagem prevalece no espírito nacional. O índio é inocente, puro, vive em harmonia com a natureza, é contra estradas que rasgam a Amazônia, contra desmatamentos criminosos e hidrelétricas que destroem rios e espécies animais e vegetais. Certo? Nem tanto. Os índios são seres históricos. Vivem na natureza, mas a modificam, criando novos meios ambientes. Agregam excedentes econômicos, criam sociedades complexas. Antes da chegada de Cabral, o Brasil abrigou, em bacias amazônicas, sociedades indígenas estratificadas, com sistemas religiosos complexos e cerâmica artisticamente elaborada.
Seres históricos fazem coisas históricas. Daí o espanto veemente sobre aspectos considerados negativos na atualidade indígena. Por que o índio vende madeira escondido das autoridades? Por que aqueles que têm tão poucas terras, sobretudo nos estados do Sul e no Mato Grosso do Sul, as arrendam para os brancos? Por que se tornam dependentes de programas de alimentação, quando têm tantas terras para plantar? Por que não se integram logo ao país e se sujeitam aos mesmos direitos dos demais brasileiros e sem mais privilégios? O mau selvagem é preguiçoso e incapaz, e sua cultura tem pouco a oferecer à humanidade.
Melhor conhecimento da nossa história: eis o que precisamos para incorporar o índio como parte da cultura brasileira, aceitando suas especificidades. Lutar por uma visão respeitosa, amorosa e solidária para com os índios é essencial para a sua pertinência no mundo contemporâneo, mas também para a transformação do Brasil numa nação digna e aberta aos seus primeiros filhos.
 
Mércio Pereira Gomes é antropólogo, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Funai.
 
Saiba mais - Bibliografia
CUNHA, Manuela Carneiro da(Org.) História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil. São Paulo: Ed. Contexto, 2012.
MELATTI, Júlio Cesar. Índios do Brasil. Rio de Janeiro: EdUSP, 2007.
RIBEIRO, Darcy. Diários Índios. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Fonte: Revista de História

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Como pedir desculpas e assumir seus erros



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Escrevi esse guia, antes de tudo, para mim mesmo. Claro que ele não serve para todas as situações, não vai resolver todos os problemas e conflitos do mundo. Sei que há questões muito mais complexas e que podem tornar bastante difíceis aproximações e pedidos de desculpas, por melhores que sejam as intenções.
Compartilho com vocês essas ideias justamente na esperança de poder lapidá-las um pouco mais e, quem sabe, melhorar a forma como eu mesmo tenho tentado assumir meus erros e reparar as mancadas que sigo dando pela vida.
Ouvindo histórias por aí, às vezes tenho a impressão de que em muitas das nossas fantasias, não precisaríamos pedir desculpas. Muitos de nós cultivam secretamente delírios nos quais somos infalíveis, honrados, dignos, fortes.
Sabemos, porém, que não é tão fácil quanto no discurso. Somos desajeitados, orgulhosos, temos pouquíssima habilidade ao agir e nos comunicar. Frequentemente causamos danos e perdemos a consciência a respeito de nossos atos. Saímos falando sem pensar, nos arrependemos e sentimos a necessidade de tentar reparar as consequências do que fizemos.
Diante disso, surgem vários conflitos. Será que devemos admitir nossa fragilidade? E se formos rejeitados? Como lidar com a vergonha por ter errado?
Como pudemos relaxar e, diante de algo que foge às nossas expectativas, lidar com isso sem adicionar camadas de culpa e vitimização?

Por que não admitimos o erro?

Se alguém erra na nossa frente, é muito fácil culpar, punir e tirar disso um sentimento de que a justiça foi feita. Se somos nós errando, melhor que ninguém perceba. Se o flagrante é inevitável, então a situação pode até atingir extremos de raiva, frustração. Relações podem terminar.
Nessas situações, somos rápidos em cair na tentação de evitar a falha, de querer maquiar o deslize. Para isso, muitos não poupam esforços.
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Se você perde o prazo, a vontade de mudar um detalhe no cronograma sem que ninguém perceba surge. Talvez você tenha feito intriga por causa de um objeto que não lembrava onde deixou e, de repente, encontra sozinho, depois de fazer várias acusações. Melhor que ninguém saiba, né? Por que não deixar no local anteriormente dito para que as pessoas o encontrem “por acaso”?
Quem sabe, pode ter feito algo diferente do combinado com sua mãe, irmão, irmã, amigo, amiga, namorada, etc. É preciso dar um jeito nisso.
Mentir, enganar, disfarçar provas, culpar outros. Esses são apenas alguns dos pequenos truques que podem ganhar maiores proporções à medida que damos importância a algo que saiu do nosso roteiro.
Somos incapazes de admitir uma falha porque começamos a nos enxergar como se fôssemos nossos próprios erros.
Ninguém quer se ver feio, falível, errado, quase um criminoso, um incapaz.
Uma boa alternativa pode ser não entrar nesse padrão. Não culpar e não reforçar o impulso de se culpar. Surgindo um enrosco, talvez seja mais apropriado se colocar na posição de ajudar, se livrando da identificação direta com o erro.
Uma relação construída de forma a não haver culpa, tende a tornar desculpas cada vez menos necessárias. As duas partes vão estar mais atentas ao fato de que nossas ações se dão por condições e que nem sempre elas são favoráveis e, por isso, cometemos deslizes. Se alguém erra, os dois vão ser capazes de enxergar aquilo de uma forma impessoal. Não é o fulano, é o deslize. Assim, é mais fácil agir e resolver qualquer que tenha sido o problema decorrente da falha. Ombro a ombro, sem inimigos.
“O verdadeiro perdão não é aquele que perdoa. O verdadeiro perdão é aquele que não culpa.” – Lama Padma Samten

Como pedir desculpas e assumir seus erros

Mesmo com tudo isso em mente, pode ser importante aceitar que errou e fazer um pedido de desculpas. Não por você querer se punir, aceitando uma posição de vítima, mas como um meio-hábil, uma forma de resolver conflitos, de aproximar, de tocar e abaixar as barreiras que alguém pode ter construído na relação. É para isso que pedidos de desculpas podem ser úteis.
Por isso, separei aqui um pequeno passo-a-passo para lidar com minha própria dificuldade de pedir desculpas.

1. Abaixe a guarda

Em situações de trabalho, na família, ou em relacionamentos, pode ser importante se aproximar com as guardas baixas. Reconhecer o ponto de vista do outro, respirar e falar de coração.
Você não vai conseguir diminuir uma eventual rusga se seu pedido de desculpas for feito com clara má vontade, envolto em raiva ou orgulho.Você não quer mais guerra. Se o objetivo é encerrar os ataques, abaixe suas defesas.
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Abertura

2. Ouça

Quando enfrentamos um sofrimento, especialmente se isso envolve uma relação, temos uma forte tendência a querer que o outro nos ouça e nos entenda. Queremos perdão para nos livrarmos da nossa culpa e, por isso, acabamos atropelando tudo, sentando e tagarelando, tentando explicar nossas motivações numa tentativa de minimizar o peso.
A hora de falar virá. Mas, antes de qualquer coisa, é essencial ouvir. Fazer perguntas, ser curioso, realmente querer entender o que o outro está pensando e talvez tenha levado todo o enrosco a surgir. Muitas vezes esquecemos o valor do feedback de alguém que tem uma crítica ou insatisfação a nosso respeito.
É desse processo que surgem as bases para o diálogo, para a conexão que pode permitir o surgimento de uma relação ainda mais madura do que a anterior ao erro.

3. Peça desculpas

Esse pode ser o momento mais difícil, mas não pense que há como evitar. Você pode até achar que passar por todo o processo de assumir o erro, não se justificar, tomar a responsabilidade e reparar os danos é suficiente. Mas não é. Apenas fale.
Não falar pode dar a péssima impressão de que você sabe o que fez mas se orgulha, que está batendo no peito.
Portanto, peça desculpas.

4. Não tente se sair bem

A melhor forma de aumentar os danos em uma situação embaraçosa é ter a motivação de se sair bem, jogar o problema para debaixo do tapete e fingir que nada aconteceu.
É muito mais efetivo se debruçar sobre o problema, admitir a derrota. Ao invés de tentar fugir ou evitar expor as feridas, melhor escancarar tudo – nem preciso dizer aqui que “escancarar tudo” não significa chutar o pau da barraca e soltar a metralhadora de ofensas, né?
Erramos, ponto. Vamos olhar pra isso sem medo e tentar seguir em uma direção melhor.

5. Assuma responsabilidade, não se vitimize

Todos nós já cometemos erros. Sem exceção. Isso não é motivo para sair agindo de maneira irresponsável e não ligar para as consequências dos próprios atos. Mas também não significa que devemos nos culpar e nos posicionar como vítimas.
Se você chegou ao ponto de se dispor a pedir desculpas, expresse seu conhecimento a respeito da falha que cometeu. Seja claro e honesto.
E lembre-se: o foco não é você. É o erro.

6. Ofereça-se para reparar os danos

Uma das partes principais de assumir a responsabilidade é oferecer-se para reparar os danos. Se você reconhece que houve algum tipo de prejuízo, seja ele material ou emocional, é de bom tom ajudar ou tentar de alguma forma trazer as coisas o mais próximo possível de seu estado anterior.
Claro, nem sempre é possível. Há coisas que não podem ser reparadas.
Mas, se puder, faça.

7. Não tente escapar do erro se explicando

Não se explicar não é deixar a pessoa no escuro, sem informação alguma a respeito do que ocorreu. Errou, conte o que aconteceu. Explique a situação, mas não use isso como justificativa. Há uma boa razão para algo ter ocorrido, conte. Não use isso para evitar encarar a responsabilidade.
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Esse é o tipo de terreno que você entra quando tenta se justificar
Um parâmetro que uso para ligar o radar da autoexplicação é perceber se estou com vontade de falar “aconteceu uma coisa, mas…”. Quando isso acontece, é certo: estou evitando assumir de verdade a falha.
Não se explique, não adicione nenhum “mas…”, não tente justificar. Não passe seu erro adiante, fique com ele.

8. Peça ajuda

Você falhou. Agora, pode se blindar das melhores intenções, desenvolver métodos e até listas como essa, mapeando todo o terreno do engano no qual se meteu. Porém, não adianta: vai voltar a falhar.
Melhor do que fazer promessas é pedir ajuda. Estamos todos no mesmo barco.
“Hoje, eu errei. Me desculpe. Quero cometer erros menos grosseiros, mas sei que sozinho não tenho chance alguma. Me ajuda a evitar cair nos mesmos enganos?”
Pronto, além de resolver um conflito, podem se tornar parceiros. Podem caminhar lado a lado, criar laços mais fortes e crescerem juntos.
* * *

Fonte: Papo de Homem

segunda-feira, 26 de maio de 2014

As defesas que o Eu pode construir diante da ameaça de sofrimento psíquico são inúmeras. Uma das mais frequentes, mais sutis e perigosas, é aquela que se impõe ao eu através da negação da realidade: quanto maior o choque, maiores são as chances que tem o Eu de dizer a si mesmo "...isto não está acontecendo...". O traumático, todavia, fica marcado, interrompendo as possibilidades de amadurecimento emocional, quer pela via da inibição, da paralisação, das impulsividades ou do panico. Com a parte recusada da realidade vão se embora também as condições que o Eu possui de verdadeiramente criar defesas que o protejam. As ameaças passam, então, a vir também desde dentro. 

 (Evelin Pestana, Casa Aberta - Página, Psicanálise, Artes, Educação)

domingo, 25 de maio de 2014

A morte é um dia que vale a pena viver

Por um lado, aliviar a dor e o sofrimento de doentes e familiares. Por outro, resgatar a biografia de pacientes. Esse é o exercício diário de Ana Claudia Quintana Arantes, médica formada pela FMUSP e especialista em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford, além de pós graduada em Intervenções em Luto. Foi a responsável pela implantação das políticas assistenciais de Avaliação da Dor e de Cuidados Paliativos do Hospital Israelita Albert Einstein e é sócia fundadora da Associação Casa do Cuidar. Atualmente trabalha em consultório e como médica assistente do Hospice do Hospital da Clinicas da FMUSP, na Unidade Jaçanã.

 




sábado, 24 de maio de 2014

A relatividade do viver




Imagem: Reprodução

Ao observar as várias faces de uma mesma situação, concluí que a vida é uma equação matemática interessante e instigante. Quantas vezes já não reclamamos da chuva que veio em péssima hora? Tivemos que adiar compromissos que fazíamos questão de cumprir. Talvez nesse mesmo dia alguém festejava esse fenômeno meteorológico. Como no caso que Kayden, de 15 meses, que viu e sentiu a chuva pela primeira vez, se emocionou e fez a festa. Uma mesma história pode, e têm, várias versões. Tenho amigos que insistem em repetir que cada acontecimento tem no mínimo três variantes: a minha, a sua e a verdadeira. E, constantemente, nos perguntamos: ‘Quem tem razão?’ Ao desatar os nós com calma somos obrigados a reconhecer que todos temos nossa parcela de culpa, mesmo que inconscientemente. Amores desfeitos, amizades encerradas, oportunidades perdidas – tudo culpa nossa. Também temos muitos méritos. Nem tudo dá errado em nossa história. Uma de nossas essências é a felicidade. Sendo assim, muito do que realizamos nos fazem felizes. Seja na vida familiar, amorosa, profissional ou espiritual. Praticamos o que achamos correto, mesmo que pareça imoral para os outros. A nossa existência segue um curso interessante – não sei o porquê, mas nesse momento só consigo visualizar um riacho. Vidas se entrelaçam, aparentemente sem motivo. ‘Há males que vem para o bem’, dizia minha bisavó. E na dor nos tornamos seres mais sensíveis, fortes, felizes, amáveis. Quanta complexidade! Por isso, julgo tão curiosa a arte do viver. No fundo, todos sabem viver com arte, ou simplesmente seguem a correnteza. No fritar dos ovos, mesmo muitas vezes dizendo que trocaria sua vida pela do outro que tanto inveja, você jamais desconsideraria a sua existência. Afinal, tudo é muito relativo!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sobre os 20% de cotas para negros

por Felipe Andrade


Em vista da recente notícia de aprovação pelo Senado da reserva de vagas para negros e pardos (cotas de 20% acima de 3 vagas), publiquei um parecer em outro ambiente no Facebook e resolvi compartilhar aqui também para apreciação e discussão. Estou aberto a opiniões complementares e antagônicas.

Então, povo...
Sou a favor de cotas baseadas no critério de afrodescendência como medidas paliativas a fim de corrigir uma realidade de forte desigualdade socioeconômica e de discriminação racial praticada há pelo menos 4 séculos em nosso país. Veja bem, são medidas paliativas, ou quebra galho no bom português, pois o correto seria aprimorar os serviços de saúde, educação, previdência e ampliar a acessibilidade à cultura, lazer, mercado de trabalho a fim de melhor servir e incluir a todos. Com uma boa educação de base, cotas talvez não seriam necessárias.
Porém, enquanto isso não acontece, procuro enxergar as cotas como um pedido de desculpas incipiente dirigido aos negros pela sangrenta e horrível história de dominação, tortura e estigmatização escrita pelos portugueses e, infelizmente, até hoje pela nossa sociedade.
Não sou negro então não sou capaz de descrever os olhares tortos, piadas racistas, acusações levianas ou mesmo a desconfiança simplesmente baseada na cor da pele - mas sou capaz de imaginar. Eu mesmo parei pra refletir na questão das cotas para concursos públicos pois me peguei pensando "Isso não fere o princípio de igualdade? As cotas em universidades já não são o bastante?" Não. Nada é o bastante. Não se trata de tratamento desigual, afinal um candidato negro às vagas públicas é ferido pela desigualdade desde o berço, sendo rotulado, vigiado e perseguido pelos agentes do Estado como marginal, criminoso, pessoa inapta. Quantos negros foram aptos a se sobressair em meio a uma sociedade que lhes mostra o punho fechado, disposta a condená-los sob o pressuposto da culpabilidade implícita? Logo, um concorrente negro a vagas públicas não está em pé de igualdade comigo. Ele tem todo um contexto anterior que reduziu suas chances e que deve ser levado em conta. Contexto esse que se estende a seus antepassados, conforme discuti a pouco.
Enfim, numa sociedade miscigenada como a nossa pode parecer estranho observar critérios de cor, de fato tal avaliação não é de todo eficiente. Mas é costumeiro que aqueles que se enquadram na cor negra sejam vítimas desse cenário opressor que descrevi. Minha bisavó era negra, mas nem por isso me sinto apto a comparar meus desafios pessoais com os vividos por um jovem negro.
Então... cotas? Ok, mas o povo afrodescendente merece mais, muito mais que isso.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Quanto de barbárie existe ainda dentro de nós?




Perversidades sempre existiram na humanidade, mas hoje com a proliferação dos meios de comunicação, algumas ganham relevância e suscitam especial indignação. O caso mais clamoroso, nos inícios de maio de 2014, foi o linchamento da inocente Fabiane Maria de Jesus em Guarujá no litoral paulista. Confundida com uma sequestradora de crianças para efeito de magia negra, foi literalmente estraçalhada e linchada por uma turba de indignados.
Tal fato constitui um desafio para a compreensão, pois vivemos em sociedades ditas civilizadas e dentro delas ocorrem práticas que nos remetem aos tempos de barbárie, quando ainda não havia contrato social nem regras coletivas para garantir uma convivência minimamente humana.
Há uma tradição teórica que tentou dilucidar tal fato. Em 1895 Gustave Le Bon escreveu, quiçá por primeiro, um livro sobre a “Psicologia das massas”. Sua tese é que uma multidão, dominada pelo inconsciente, pode formar uma “alma coletiva” e passa a praticar atos perversos que, a “alma individual”, normalmente jamais praticaria. O norte-americano H. L. Melcken ainda em 1918 escreveu “A Turba” um estudo judicioso sobre o fato e mostra a identificação do grupo com um lider violento ou com uma ideologia de exclusão que ganha então um corpo própro e, sem controle, deixa irromper o bárbaro que que ainda se aninha no ser humano. Freud em 1921 retomou a questão com o seu “Psicologia das massas e a análise do eu”. Os impulsos de morte, subsistentes no ser humano, dadas certas situações coletivas, diz ele, escapam ao controle do superego (consciência, regras sociais) e aproveitam o espaço liberado para se manifestar em sua virulência. O indivíduo se sente amparado e animado pela multidão para dar vazão à violência escondida dentro dele.
A análise mais instigante foi feita pela filósofa Hannah Arendt. Em 1961 acompanhou em Jerusalém todo o processo de julgamento do criminoso nazista Adolf Eichamann por crimes contra humanidade. Arendt escreveu em 1963 um livro que irritou a muitos:”Eichmann em Jerusalém:um relato sobre a banalização do mal”. Ela cunhou a expressão “a banalização do mal”. Mostrou como a identificação com a figura do “Führer” e  as ordens dadas de cima podem levar às piores barbaridades com a consciência mais tranquila do mundo. Mas não só em Eichmann se expressa a barbárie. Também naqueles judeus que extravassavam seu ódio a ele, exigindo os piores castigos, como expressão também de um mal interno.
Que concluimos disso tudo? Que um conceito realista do ser humano deve incluir também sua desumanidade. Somos sapentes e dementes. Em outras palavras: a barbárie, o crime, o assassinato pertencem ao âmbito do humano. Demos um dia, há milhares de anos, o salto da animalidade para a humanidade, do inconsciente para o consciente, do impulso destrutivo para a civilização. Mas esse salto ainda não se completou totalmente.
Carregamos dentro de nós, latente mas sempre atuante, o impulso de morte. A religião, a moral, a educação, o trabalho civilizatório foram os meios que desenvolvemos para pôr sob controle esses demônios que nos habitam. Mas essas instâncias não detém aquela força que possa submeter tais impulsos às regras de uma civilização que procura resolver os problemas humanos com acordos e não com o recurso da violência.
Cumpre reconhecer que vigora em nós ainda muita barbárie. Não diria animalidade, pois os animais se regem por impulsos instintivos de preservação da vida e da espécie. Em nós esses impulsos perduram mas temos condições de conscientizá-los, canalizá-los para tarefas dignas, através de sublimações não destrutivas, como Freud e recentemente, o filósofo René Girard com seu “desejo mimético” positivo tanto insistiram.
Mas ambos se dão conta do caráter misterioso e desafiante da persistência desse lado sombrio (pulsão de morte em dialética com a pulsão de vida) que dramatiza a condição humana e pode levar a fatos irracionais e criminosos como o linchamento de uma pessoa inocente.
Todos pensamos nos linchadores. Mas quais seriam os sentimentos de Fabiane Maria de Jesus, sabendo-se inocente e sendo vítima da sanha da multidão que faz “justiça” com suas próprias mãos? A questão principal não é o Estado ausente e fraco ou o sentimento de impunidade. Tudo isso conta. Mas não esclarece o fato da barbaridade. Ela está em nós. E a toda hora no mundo ela ressurge com expressões inomináveis de violência, algumas reveladas pela Comissão da Verdade que analisa as torturas e as abominações praticadas por tranquilos agentes do Estado de terror, implantado no Brasil.
O ser humano é uma equação ainda não resolvida: cloaca de perversidade para usar uma expressão de Pascal e ao mesmo tempo  irradiação de bondade de uma Irmã Dulce na Bahia que aliviava os padecimentos dos mais miseráveis. Ambas realidades cabem dentro desse ser misterioso – o ser humano – que sem deixar de ser humano ainda pode ser desumano.
Temos que completar ainda o salto da barbárie para a plena humanidade. A situação violenta do mundo atual, também contra a Mãe Terra nos deixa apreensivos sobre a possibilidade de um desfecho feliz deste salto. Só mesmo um Deus nos poderá humanizar. Ele tentou mas acabou [sacrificado]. Um dos significados da ressurreição é nos dar a esperança que ainda é possível. Mas para isso precisamos crer e esperar.

 Fonte: WordPress - Leonardo Boff

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Recordações de breves existências

Imagem: Reprodução - bmaxima.blogspot.com



E ocorre que inesperadamente você conhece e convive com uma pessoa que é exatamente o que sempre idealizou. Mas sua permanência em sua vida é tão breve quanto a vida de uma blattodea sem água, sem alimento. E fica aquela incógnita: 'Será que foi tudo fruto da minha imaginação?' O fato é que existem, sim, pessoas generosas, amáveis, divertidas, criativas e de tantos outros predicados espalhados pelo universo. Mas estas vivem pelo céu a voar. E suas visitas são sempre breves. O que nos resta é convidá-las para passar uma breve temporada em nossas casas, pois já residem permanentemente em nossos lares interiores. O mais curioso é que estes seres puramente belos e elevados recebem nosso carinho da maneira mais inusitada e original possível, através de nossos pensamentos. E temos a impressão que nunca receberão, ou sentirão, nosso amor, admiração e expressões afetuosas. Isso é uma grande injustiça! Todos os bons sentimentos voam pelos ares das cidades e chegam milagrosamente aos seus destinos. Não, não é mágica! Não tem nada a ver com isso. As juras de amor não ouvidas são sentidas. As mágoas curadas dão a sensação de alívio. Tudo chega aos seus destinos. Quando dormimos permitimos que todos esses sentimentos perpassem caminhos desconhecidos. Quando nossa existência está confinada no mundo dos sonhos ocorrem milagres no mundo real. Dessa vez, essa mensagem atingirá seu alvo quando ouvir Arnaldo Antunes quando seus pensamentos serão tomados pela breve existência de quem enviou palavras silenciosas de sua recordação...


terça-feira, 20 de maio de 2014

Humildade x Subserviência

Imagem: Reprodução - sopihainfoco.blogspot.com


"A Humildade é um valor. Talvez a pedra fundamental de todas as virtudes. A consciência de que não sabemos tudo, não podemos tudo. É colocar nosso tamanho ou importância em perspectiva. Não existe honestidade ou sinceridade , arrependimento ou retratação sem humildade . A maior companheira da verdade é a humildade .
A Subserviência não é um valor. É submissão, falta de auto estima e de amor próprio, a resignação com uma situação infeliz de degradação, indignidade, pequenez , rebaixamento.
Muita gente confunde Humildade com Subserviência.
Humildade é pensar menos em si.
Subserviência é pensar menos de si."

Paulo Gusmão

Autor de Saúde: O maior dos prazeres

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sobre a morte e o morrer



 'É preciso aprender a morrer, senão a vida acaba antes de começar.'
- Miguel Falabella


Imagem: Reprodução - andreaneas.com




E nos deparamos vez por outra diante de nossa grande, invencível e última inimiga - a morte. Nessa hora refletimos sobre a efemeridade do viver. Pesamos o que é de real importância - sentimentos, ações, objetivos. E sem perceber, concluímos que a vida é um labirinto surpreendente. Podemos estar aqui hoje e daqui alguns segundos não mais existir. Ouvi uma expressão curiosa hoje. A breve história de uma garotinha que dizia: ‘Quando nasci as pessoas sorriam e eu chorava. E quando morrer, muitos irão chorar e eu sorrir’. Ai! A morte, grande vilã da humanidade. Miguel escreveu certa vez que ‘é preciso saber morrer, senão a vida acaba antes de começar’. E ele está coberto de razão! Somos treinados para a morte desde o dia que nascemos. Acordar todos os dias é uma espécie de ressurreição. Na verdade, já morremos tantas vezes que não há como contar. Morremos por causa de um amor que não deu certo, de uma amizade encerrada e sempre que sentimos dor. Morremos, apenas morremos, mas não queremos. Por isso, julgamos a vida tão breve. Tanto para os que viveram trinta, como os que viveram noventa ou cem anos. Nunca acreditamos ter vivido o suficiente, ter realizado o bastante. Temos o desejo da eternidade em nossos corações. Fomos criados assim! Queremos sempre mais. Nem que seja mais um breve instante do sorriso, da dor, da beleza, da voz, do toque, de tudo que for possível. É horrível imaginar que ao caminhar por esse vasto planeta, de mais de 7 bilhões de habitantes, não encontraremos aquela face, aquele expressão única. Sentimos tanto que nossas vísceras parecem clamar de dor. E assim nos tornamos aprendizes da vida e da morte. Nos fazemos fortes, renascemos na certeza que morreremos outras tantas vezes – querendo que na próxima haja uma ‘ressurreição’. Convivemos com a dor, tentando não ser dominados por ela. O importante é seguir. E antes de ser surpreendido novamente por nosso inimigo, através de nossas ações mostramos o que tem primeiro lugar em nossa existência. O fato é que nada é motivo justificável para partirmos. O que nos resta é silenciar. Pois nada que se diga será consolador. Sendo assim, ouso trocar a fala da garotinha já mencionada. ‘Quando nasci as pessoas sorriam enquanto eu chorava. E quando eu morrer, me silenciarei e eles também’!