Preciso cumprir o ritual da despedida. Faz-se necessário escrever sobre
nós, tentar racionalizar tudo, como numa sessão de terapia. Chegamos até aqui
pela insistência sedutora da carência. Sim. Carências que se coincidem são um prato
cheio para o ‘vôo de galinha’ nos relacionamentos. Atropelamos acontecimentos,
prometemos o que não podemos cumprir e cobramos o que não temos direito.
Erramos todos. Eu errei. Você errou. As circunstâncias atrapalharam. Nossas
fases conflitantes se transformaram em abismo. Talvez estejamos dispostos para
o amor, mas não entre nós dois. Ao mesmo tempo queremos deixa no ‘stand by’.
Falta-nos coragem para finalizar.
Curioso como estava tudo combinado. Não tinha engano, muito menos mistério.
Era tudo brincadeira e verdade, como a canção de Caetano. Não tivemos
maturidade de ver o mundo juntos, sermos dois e sermos muitos. Estamos apenas
nos fazendo sós. Você finge ter coragem acusando meus medos. Finjo não perceber
os seus medos e até demonstro uma admiração falsa por suas palavras
desafiadoras. Coisa estranha! Somos um casal sem o ser. Somos uma confusão.
Todos os filmes que me indicava já havia assistido. Isso me fazia – e faz
– sorrir. É uma boa lembrança. Em contraponto, o mundo que queria me apresentar
era totalmente novo e minhas preocupações não cabiam nele. Desejei te inserir
no meu planeta, tão pequeno quanto o asteroide B-612, e você transbordava nele.
Você no meu planeta era como Cláudia Raia num musical. Acredito que foi aí que
nos perdemos. Faltou o que mais prezo, o equilíbrio.
Interessante como falta no amor tecnicidade. De qualquer forma, ainda
acredito num claro futuro. Um futuro de música, ternura e aventura. Continuaremos
um equilibrista em cima do muro. Dessa vez, o equilibrista que vos escreve
estabacou-se. A verdade é que o amor não chega onde a carência faz morada.