sábado, 30 de setembro de 2017

Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas

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Por Heidi Priebe (tradução)


Eu acredito em grandes amores.
Mas falo e namoro como se não acreditasse.
Eu não tenho expectativas fúteis para o romance. Eu não estou à espera de sentir aquela sensação estranha de estar a flutuar. Eu sou um daqueles indivíduos raros, talvez um pouco cansados, que realmente gosta deste ambiente atual de conexão entre as pessoas e é feliz por viver numa época em que a monogamia não é necessariamente a norma.
Mas eu acredito em grandes amores, porque já tive um.
Eu tive esse amor que tudo consome. O amor do tipo “eu não posso acreditar que isto existe no mundo físico.”
O tipo de amor que irrompe como um incêndio incontrolável e então se torna brasa que queima em silêncio, confortavelmente, durante anos. O tipo de amor que escreve romances e sinfonias. O tipo de amor que ensina mais do que tu pensaste que poderias aprender, e dá de volta infinitamente mais do que recebe.
É amor do tipo “amor da tua vida”.
E eu acredito que funciona assim:
Se tu tiveres sorte, conhecerás o amor da tua vida. Tu estarás com ele, aprenderás com ele, darás tudo de ti a ele e permitirás que a sua influência te mude em medidas insondáveis. É uma experiência como nenhuma outra.
Mas aqui está o que os contos de fadas não te vão dizer – às vezes encontramos os amores das nossas vidas, mas não conseguimos mantê-los.
Nós não chegamos a casar-nos com eles, nem passamos anos ao lado deles, nem seguraremos as suas mãos nos seus leitos de morte depois de uma vida bem vivida juntos.
Nós nem sempre conseguimos ficar com os amores da nossa vida, porque no mundo real, o amor não conquista tudo. Ele não resolve as diferenças irreparáveis, não triunfa sobre a doença, ele não preenche fendas religiosas e nem nos salva de nós mesmos quando estamos perdidos.
Nós nem sempre chegamos a ficar com os amores das nossas vidas, porque às vezes o amor não é tudo o que existe. Às vezes tu queres uma casa num pequeno país com três filhos e ele quer uma carreira movimentada na cidade. Às vezes tu tens um mundo inteiro para explorar e ele tem medo de se aventurar fora do seu quintal. Às vezes tu tens sonhos maiores do que os do outro.
Às vezes, a maior atitude de amor que tu podes ter é simplesmente deixar o outro ir.
Outras vezes, tu não tens escolha.
Mas aqui está outra coisa que não te vão contar sobre encontrar o amor da tua vida: não viveres toda a tua vida ao lado dele não desqualifica o seu significado.
Algumas pessoas podem amar-te mais em um ano do que outras poderiam te amar em cinquenta anos. Algumas pessoas podem ensinar-te mais em um único dia do que outras durante toda a sua vida.
Algumas pessoas entram nas nossas vidas apenas por um determinado período de tempo, mas causam um impacto que mais ninguém pode igualar ou substituir.
E quem somos nós para chamar essas pessoas de algo que não seja “amores das nossas vidas”?
Quem somos nós para minimizar a sua importância, para reescrever as suas memórias, para alterar as formas em que nos mudaram para melhor, simplesmente porque os nossos caminhos divergiram? Quem somos nós para decidir que precisamos desesperadamente substituí-los – encontrar um amor maior, melhor, mais forte, mais apaixonado que pode durar por toda a vida?
Talvez nós devêssemos simplesmente ser gratos por termos encontrado essas pessoas.
Por termos chegado a amá-las. Por termos aprendido com elas. Pelas nossas vidas se terem expandido e florescido como resultado de tê-las conhecido.
Encontrar e deixar o amor da tua vida não tem que ser a tragédia da tua vida.
Deixá-lo pode ser a tua maior bênção.
Afinal, algumas pessoas nunca chegam sequer a encontrá-lo.

Fonte: ContiOutra

domingo, 20 de agosto de 2017

Vacilamos




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Vacilamos! Todos os dias, insistentemente. Vacilamos quando não damos ouvidos aos nossos pais, especialmente, na fase da adolescência. Vacilamos quando nos apaixonamos perdidamente pela pessoa errada. Vacilamos quando não reconhecemos, ou menosprezamos, um verdadeiro amigo. Vacilamos mais ainda quando não escutamos os sinceros conselhos deste amigo. Vacilamos quando não somos o adulto que queríamos ser quando criança, a pessoa da qual nos orgulharíamos. Vacilamos quando esquecemos, ou adiamos o envio, de uma mensagem de ‘Boa Noite!’. E continuamos a vacilar, constantes e (in)consequentes. Permitimo-nos ser influenciados por más ações, nos estressar por problemas que não nos cabem, por exagerar sentimentos, por esperar demais ou por ser imediatistas. Simplesmente vacilamos por causar dor do outro, por preocupar o outro, por julgar o outro (e essa história de juiz é pesado e perigoso). Vacilamos por egoísmo, por orgulho, por excesso de experiência - ou a falta dela. Vacilamos quando temos dificuldade de agir de acordo com a lei, apesar de não estarmos rodeados de bons exemplos. Vacilamos por não lutar para ser um bom exemplo. Vacilamos quando desejamos fazer justiça com as próprias mãos, desrespeitando o próximo. Vacilamos quando moldamos o mundo à nossa maneira, quando rotulamos, quando perdemos a paciência no momento que mais precisamos demonstrar. Vacilamos quando desistimos de nossos bons objetivos no meio do caminho por medo, insegurança, impaciência, influências negativas ou ignorância. Vacilamos quando festejamos a desgraça alheia. Eu vacilo. Tu vacila. Nós continuamos vacilando e incomodando. A palavra vacilo está tatuada em nossa alma, em nosso ser – visível ou não. Sejamos juízes de nós mesmos, decerto teremos uma vida mais significativa.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Pizzaria de bons sentimentos



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Esse texto não pode começar de outra maneira se não por um protesto contra a maneira em que as matérias são ensinadas na alfabetização das crianças. Nada contra as professoras, mas, sim, contra a didática utilizada para ensinar a soma, subtração, divisão e multiplicação. Por favor, revejam a prática de ensino dessas matérias. Isso fará bem para o emocional e vida social de seus alunos quando adultos. Ainda não me entendeu? Vou expor melhor as ideias.
De alguma forma (bem louca – e que não sei explicar) a divisão está relacionada à subtração. Percebo isso na forma como muitas pessoas expõem seus pensamentos, mesmo inconscientemente. Temos o hábito de achar que o nosso irmão mais novo irá roubar um pouco (ou tudo) do amor de nossos pais, muitos de nós acreditamos que nossos amigos vão nos amar menos quando criarem novas amizades, que o sentimento de nossa(o) namorada(o) é menor que o que sentia pelo(a) ex. Comparamos diminuindo. Isso é bem curioso. Lanço logo um conselho: ‘Examine cada um seus próprios sentimentos (principalmente pelo outro), e então terá motivo para se alegrar apenas com respeito a si mesmo, e não em comparação com outra pessoa. Pois cada um crescerá com o amor que nutrir.’
Voltando à sala de aula, o erro pode estar ao exemplificar a divisão usando a famosa, saborosa, desejada, amada pizza. Sim... A pizza! Quem nunca ouviu a famosa possível questão de prova: ‘João comprou uma pizza e partiu-a em oito pedaços para dividir com mais três amigos. Quantas fatias da pizza cada um comeu?’ Logo pensava na pizza como um sentimento completo, amor total. Amor total que foi cruelmente partido e divido até se acabar. Estava errado. O amor não é uma pizza, é uma pizzaria. Qualquer bom sentimento é uma pizzaria. Bons sentimentos devem apenas ser produzidos, entregues, servidos para alimentar nossas almas sedentas do que é bom e agradável. Assim como qualquer excesso deve ser digerido e eliminado no bolo fecal, naturalmente os maus sentimentos.
Professoras, usem a pizza como exemplo de multiplicação. Montem com seus alunos belos cálculos de pizzarias. Ajudem a compreender que o que deve ser subtraído são as maldades, mágoas, coisas ruins. O que deve ser divido são as tristezas, problemas. Faça-os compreender a importância de somar o perdão, a generosidade, paciência, o cuidado com o outro em suas vidas. E multipliquem o amor. Que sejam servidas muitas pizzas de amor!

domingo, 11 de junho de 2017

Piada de Estimação - Texto de Quinta

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Eu tinha uma piada de estimação. Era bem engraçada e eu a tinha escondida na manga para os mais diversos momentos. Como era engraçada! E como eu ficava engraçado contando-a. Podia contá-la nas mais diferentes situações que era batata, risos ecoariam. Com o tempo eu fui melhorando o modo de contá-la conquistando ainda mais gargalhadas por onde eu passasse. Até que aconteceu o que parecia impossível: a piada perdeu a graça. Mais que isso, ela virou algo absolutamente constrangedor.
Pior, fui descobrir isso na prática enquanto a contava numa roda predisposta ao riso. Enquanto contava fui percebendo seu teor que até então tinha passado batido. E isso é o mais curioso, como eu nunca tinha me atentado para o fato de que a essência daquela piada era de extremo mal gosto e reafirmava estereótipos que eu sempre repudiei? Como eu já estava contando, resolvi ir até o fim. Mas ao invés de risos o que vi foram olhares de constrangimento uns para os outros. E é evidente que o mais constrangido era eu. A primeira pergunta que me veio foi “o que havia mudado naquela piada que antes causava tantos risos?”. E não estou falando de muito tempo. Falo de meses. Mas logo eu entendi que essa era a pergunta errada. A piada não havia mudado. Nem o humor geral. O que estava mudando era nossa cultura. Será?
Essa questão parecia ir além do dito politicamente correto. Parecia uma evolução disso. Era cultural rir daquilo. E agora parecia também cultural repudiar rir daquilo. Algo estava mudando no nosso modo de ser. Ao menos naquela roda que de alguma forma representava uma parcela da nossa sociedade. Será?
Pensei em escrever a piada aqui pra deixar mais claro o que digo, mas concluí que isso é desnecessário por dois motivos. O primeiro é que não preciso passar por tal constrangimento novamente. Nunca mais. O outro motivo é que essa minha ex-piada representa tantas outras de teor parecido e que estão absolutamente ultrapassadas.
Quando eu disse que a piada não faz mais parte do meu repertório tenho que dizer que na verdade aquela era a única piada do meu repertório. Nesse sentido me sinto órfão. Sempre que começavam a contar piadas eu já me preparava pra contá-la. O que vou fazer daqui pra frente? Apenas rir das piadas dos outros é o que me resta. Ou posso tentar decorar alguma outra piada de que goste. Mas sou muito ruim pra decorar piada. Por isso aquela era como que minha filha única. A verdade é que apesar de ser ator e ter textos longos decorados (posso dizer que tenho quatro peças na ponta da língua agora – dentre elas três monólogos), não sou bom pra lembrar de piadas. Nem músicas. Infelizmente não me lembro da maioria das letras das minhas músicas preferidas. Sei de cor apenas meia dúzia do Caetano. Se quiser posso cantar agora. Mas piada aquela era a minha única. E já comecei a esquecê-la. Infelizmente felizmente.
Quando digo que sinto que há uma mudança cultural em curso, é porque não se trata mais apenas do politicamente correto. Acho que ele foi e é fundamental para chegarmos a esse ponto de uma mudança no nosso modo de pensar as relações. E se você reparar bem, os que mais repudiam o politicamente correto são os mais interessados na manutenção daquele status quo. Os que se dizem “cansados dessa coisa de politicamente correto” querem apenas a manutenção dos seus preconceitos. Pra mim esse foi (e é) um caminho importante para superarmos preconceitos introjetados em nossa cultura. Pois bem, seria preciso mudar suas perspectivas. Será?
Claro que ainda estamos longe de superarmos aquilo que por muito tempo fez parte de nós. A cultura do estupro, por exemplo, ainda faz parte da nossa sociedade. Tal como os mais diversos tipos de preconceitos. Mas creio eu que há uma mudança em curso. E pra que essa mudança se efetive e se efetue será preciso muita gente passar por constragimentos como o que passei. Ou sentir na pele o que tais situações antes digna de riso de fato significam.
Desejo que os constragimentos se proliferem cada vez mais até que de fato comecemos uma mudança cultural efetiva.
Enquanto isso estou buscando piadas que ridicularizem os que de fato merecem esse lugar. Está mais do que claro que rir do oprimido é no mínimo ridículo. É preciso rir, rir é preciso. Mas é preciso saber do que se ri.
Alguma sugestão de piada? Prometo cuidar dela com todo meu afeto, como se fosse única. E será. Será?

 - Vinícius Piedade

(Texto de Quinta - publicado todas as quintas-feiras no site viniciuspiedade)

terça-feira, 23 de maio de 2017

Eu sei, mas não devia

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Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

segunda-feira, 10 de abril de 2017

O indivíduo na multidão


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Fotografia: Bob Wolfenson - Internet

Desde sempre somos incentivados a ter alguém e ser alguém com quem se queira estar. Isso sempre me soou estranho, forte, ditatorial. Não há a possibilidade de ser feliz só? Como assim? Estou próximo dos trinta anos e não ter uma namorada é, no mínimo, estranho. ‘Nem interesse em alguma garota?’, ‘Você namora escondido!’, ‘Não existe solteiro convicto.’,... Já ouvi expressões como essas e outras que não valem a pena citar.
Estar só significa para muitos uma maneira da vida o punir por algum erro que desconhecemos. Isso sempre me pareceu vazio, mesmo não sabendo defini-lo à minha maneira. Precisaria todo um preparo para chegar a uma definição próxima e vinda do meu interior, com o mínimo de influência externa o possível. E tudo ocorreu de forma curiosa.
Vivo cercado de pessoas todo o tempo. Prezo muito os momentos de solidão. Aliás, solidão tem pra mim um significado singular. É o momento de um contato real comigo mesmo, de autojulgamento, de um monólogo longo e inquietante, de uma cobrança conscientizadora. Apaixonante! Autoconhecimento. É o momento em que me apaixono por mim mesmo e, às vezes, me odeio também. Esses momentos sempre me soaram negativo, egoísta. As pessoas ao meu redor pensavam assim e queriam me moldar da mesma forma. Sempre foi muito cansativo tentar me adequar.
Tenho gostos peculiares para as pessoas do meu convívio social. Portanto, não é incomum que me sinta só na presença deles – ao participar de suas atividades sociais. Sempre me pergunto: ‘O que é que vim fazer aqui? Não quero estar aqui.’ Isso sim é perturbador. Sempre os convido para eventos que me interesso, mas dificilmente aceitam. Cada um cria suas desculpas e depois de ter passado a data expressam algum tipo de arrependimento por não ter ido, talvez para me fazerem sentir melhor e não tão ‘jogado de escanteio’.
Agradeço a Bob Wolfenson pela contribuição na construção de uma teoria sobre a beleza de estar só. Falo sobre Bob porque me interessei por sua exposição e não tinha companhia para ir à abertura. Fui só. Quando cheguei me senti deslocado. Inicialmente perturbador. Protagonizei altos diálogos mentais. Para não me sentir tão só me acompanhei de uma taça de espumante, mas logo a abandonei. Compreendi que minha alegria era estar onde queria, como desejava e em minha própria companhia e de alguns que chegaram e conversavam brevemente, como visita de beija-flor. Foi libertador.
Vivo em paz comigo e a multidão. Posso, e sou, um indivíduo preparado, ou mais capacitado, para estar só por escolha e, ao mesmo tempo, ter alguém para transbordar. É isso. Cresci para mim, além de mim. Posso colecionar novas pessoas que chegarão, continuar a zelar pelas que me rodeiam e ainda desejar estar só. Me sinto mais leve. Eu cansei de ter medo de ficar sozinho.

terça-feira, 14 de março de 2017

Pode sair, nem senti sua presença




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“Não tenho interesse em falar com você. Sua presença não significa nada pra mim. Não estou interessado em ouvir uma palavra que sai da sua boca. Quando pergunto se está ‘tudo bem’ é por pura educação forçada. Não sei nem a cor dos seus olhos. Não me recordo onde o conheci e porque continua a insistir uma amizade/relacionamento comigo. Não entendo como sua ficha ainda não caiu. Será que não percebe que meu diálogo com você se limita a ‘aham’, ‘sei’, ‘uhm’, ‘prossiga’ (com cara de poucos amigos)?! Sou M-O-N-O-S-S-I-L-Á-B-I-C-O! Isso quer dizer muita coisa. Não compreender esse tratamento é falta de interpretação da vida.
Agora me pergunta: ‘Por que você nunca falou isso claramente?’ Na verdade, detesto ter que ficar me explicando para pessoas como você. Tenho preguiça, muita preguiça. Ah... E quando estou rindo não é de você, muito menos para você. Sou realmente indiferente. Sua presença não me faz diferença. Para você estou constantemente atrasado, tenho muito trabalho, estou sempre ocupado.
 Já falei que nem sei a cor dos seus olhos, né?! Pois é, nem suas roupas reparo. Nem sei se está careca, com peruca, mudou o cabelo. Para te dizer a verdade, se me perguntar seu nome agora vou custar a lembrar. Te bloqueio da minha mente. Não há qualquer registro seu em meu mundo particular. Poderia me fazer um favor? Visto que não existe no meu mundo particular, poderia se retirar da minha presença física. E não se preocupe em dizer ‘tchau’. Nem vou me lembrar que um dia esteve aqui.”
 Tudo isso era o que o casal da mesa ao lado no restaurante dizia um ao outro silenciosamente, ao estar cada um com seu celular na mão verificando suas atualizações pessoais sem se olhar durante o almoço.