Fotografia: Bob Wolfenson - Internet |
Desde sempre somos incentivados a ter alguém e ser alguém com quem se
queira estar. Isso sempre me soou estranho, forte, ditatorial. Não há a
possibilidade de ser feliz só? Como assim? Estou próximo dos trinta anos e não
ter uma namorada é, no mínimo, estranho. ‘Nem interesse em alguma garota?’,
‘Você namora escondido!’, ‘Não existe solteiro convicto.’,... Já ouvi
expressões como essas e outras que não valem a pena citar.
Estar só significa para muitos uma maneira da vida o punir por algum erro
que desconhecemos. Isso sempre me pareceu vazio, mesmo não sabendo defini-lo à
minha maneira. Precisaria todo um preparo para chegar a uma definição próxima e
vinda do meu interior, com o mínimo de influência externa o possível. E tudo
ocorreu de forma curiosa.
Vivo cercado de pessoas todo o tempo. Prezo muito os momentos de solidão.
Aliás, solidão tem pra mim um significado singular. É o momento de um contato
real comigo mesmo, de autojulgamento, de um monólogo longo e inquietante, de
uma cobrança conscientizadora. Apaixonante! Autoconhecimento. É o momento em
que me apaixono por mim mesmo e, às vezes, me odeio também. Esses momentos
sempre me soaram negativo, egoísta. As pessoas ao meu redor pensavam assim e
queriam me moldar da mesma forma. Sempre foi muito cansativo tentar me adequar.
Tenho gostos peculiares para as pessoas do meu convívio social. Portanto,
não é incomum que me sinta só na presença deles – ao participar de suas
atividades sociais. Sempre me pergunto: ‘O que é que vim fazer aqui? Não quero
estar aqui.’ Isso sim é perturbador. Sempre os convido para eventos que me
interesso, mas dificilmente aceitam. Cada um cria suas desculpas e depois de
ter passado a data expressam algum tipo de arrependimento por não ter ido,
talvez para me fazerem sentir melhor e não tão ‘jogado de escanteio’.
Agradeço a Bob Wolfenson pela contribuição na construção de uma teoria
sobre a beleza de estar só. Falo sobre Bob porque me interessei por sua
exposição e não tinha companhia para ir à abertura. Fui só. Quando cheguei me
senti deslocado. Inicialmente perturbador. Protagonizei altos diálogos mentais.
Para não me sentir tão só me acompanhei de uma taça de espumante, mas logo a
abandonei. Compreendi que minha alegria era estar onde queria, como desejava e em
minha própria companhia e de alguns que chegaram e conversavam brevemente, como
visita de beija-flor. Foi libertador.
Vivo em paz comigo e a multidão. Posso, e sou, um indivíduo preparado, ou
mais capacitado, para estar só por escolha e, ao mesmo tempo, ter alguém para
transbordar. É isso. Cresci para mim, além de mim. Posso colecionar novas pessoas
que chegarão, continuar a zelar pelas que me rodeiam e ainda desejar estar só.
Me sinto mais leve. Eu cansei de ter medo de ficar sozinho.