terça-feira, 30 de setembro de 2014

ESTAVA CURADO ATÉ VOCÊ APARECER


Imagem: Reprodução


Fabrício Carpinejar


Tudo tão bem guardado, eu jurava que tinha esquecido, controlado o nosso passado.
Eu já sorria com os amigos, já me divertia, já trabalhava com afinco, viajava leve, flertava livre.
Eu já contava com uma outra vida.
Já não resmungava seu nome em cada ligação, já não rezava pelo seu retorno, já não esperava que o celular fosse tocar, já passava pelos nossos lugares favoritos como se fossem ruas desconhecidas do GPS.
Até que vi você em minha frente.
Até que abracei você.
Até que seu perfume voltou a se misturar à minha barba.
Até que sua boca se aproximou do meu pescoço, macia e fria, como a gola de uma camisa recém estreando.
E aquela atração que julgava desaparecida e morta ressurgiu como se fosse o nosso primeiro dia, o nosso primeiro dia com a memória do último dia.
Você me reabriu muito rápido. Quanta facilidade, quanta naturalidade. Precisou de pouco, quase nada. Eu me senti inútil, despreparado, decepcionado com a fraca resistência.
Você reabriu a caixa cardíaca que destruí e não acabou, a caixa cardíaca que enterrei e continua mandando em mim.
Você precisou só me olhar como se estivesse com fome, sem dizer nada, para que eu colocasse dois pratos na mesa.
Você só precisou ameaçar abrir o botão, sem dizer nada, para que lhe ajudasse a tirar o casaco.
O que sofri não me protegeu de você. A angústia não me protegeu de você. A raiva não me protegeu de você.
E me desesperei porque poderia sofrer tudo de novo e ainda assim não me protegeria de você.
Todo esforço foi em vão. Todo o domínio foi em vão. Toda a reabilitação foi à toa.
Tanta dor para erguer paredes, que apenas serviram para não ter saída.
Deveria saber que a dor não imagina portas, a dor não cria portas, a dor unicamente levanta paredes.
A dor me facilitou para você, estava preso em minhas palavras enquanto se aproximava.
Vejo hoje que, durante o tempo distanciado, enfrentava sua lembrança, jamais sua pele roçando a minha, jamais sua voz a um passo de meu rosto, jamais suas pernas entrelaçadas.
Não me preveni contra sua presença, e sim contra sua imagem.
Eu treinei me separar com você longe, não perto, não rente, não soluçando beijo. Este seu beijo que fica soluçado quando aumenta o desejo.
Bastou uma centelha para a esperança queimar a casa inteira. Bastou o fósforo apagado para recobrar o fogo.
Antes seguro, tranquilo, confiante, agora tremia, balbuciava, perdia o discurso, agradecia o abismo.
Meses de ressurreição desmoronados em segundos.
Você se escondeu de mim dentro de mim.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4, 30/9/2014
Porto Alegre (RS), Edição N°17938

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Beijo de hortelã (Ukulele Cover) | Silvazé

Beijo de Hortelã, cover de Liah Soares e Ivete Sangalo. Releitura feita pela banda barbacenense, Silvazé. Gravação caseira realizada dia 31/08/2014, na Estação abandonada em Campolide (Antônio Carlos / MG)




domingo, 28 de setembro de 2014

Água-marinha

Imagem: Reprodução



 por Miguel de Sousa-Aguiar

Uma tarde chuvosa, cinzenta, a única que me restou para matar as saudades do meu canto. Uma tarde só minha, de volta ao lar, aproveitando o silêncio da mata. Uma tarde de vidraças salpicadas de chuva e piscinas azuis na televisão. A Austrália mostra ao mundo sua civilização e a gente tem mais é que aplaudir a beleza do espetáculo.
Assisto às competições da natação, nas Olimpíadas, e a memória me leva de volta ao Vasco da Gama, meu pai com o cronômetro na mão, no fim da raia, gritando palavras de incentivo. Ele desejava que eu vencesse e externava sua vontade com o olhar febril, à minha espera no fim da faixa azul. Mas não eram essas as minhas vitórias. Não era esse o meu dom. Sempre em segundo lugar. Ou terceiro. Nunca aquele que galgaria o mais alto lugar do pódio. Eu engolia o ar, lutando contra a água que ia se tornando mais e mais pesada, à medida que a competição avançava. Com o canto do olho, via meu adversário avançar na raia ao lado, em direção à vitória e, embora isso frustrasse as expectativas familiares, não eram essas as vitórias que eu desejava intimamente. A decepção de meu pai pelas derrotas escorregava pelo meu corpo. Nunca me importei de verdade. Nunca fiz nenhum esforço para vencer.
Na televisão desfilam chineses, australianos e romenos. Americanos, sul africanos e russos. O mundo todo na piscina de São Januário, já faz muito tempo. A penumbra do vestiário e o túnel que conduzia ao parque aquático – no ar o cheiro de café torrado, talvez. O aroma do açúcar na refinaria, o sabão português, o cloro que invadia as narinas, esverdeava os cabelos e deixava os olhos em fogo. Um mundo de aromas é o que me apresenta a memória. O perfume do sabonete de pinho, uma forma verde e arredondada, de que meu pai gostava muito. É esse o cheiro das primeiras descobertas de prazer, do corpo sendo assuntado, tocado, acarinhado. O cheiro das essências que a memória guardou com cuidado.
Os aromas são liberados e vão se encadeando, saindo de alguma nebulosa do cérebro. O cheiro de São Cristóvão, nas manhãs de inverno. Correr em volta da piscina, ginástica no solo e, depois, o bando ruidoso ia para a água. Metros e metros em diferentes estilos, instruções, tábuas, borbulhas e silêncio. A perna doendo, o braço doendo e a cabeça muito longe dali. Sempre longe dali. Eu não gostava daquilo, não era o meu melhor. Nunca entendi muito o porquê, se é que há um por que. Mas aí são questões metafísicas demais para uma crônica. Antes dos questionamentos, há o trajeto da sede de São Januário até a casa de minha avó, subindo a Rua General Padilha. Os cabelos molhados, a mochila nas costas, as casas do tempo do império. Na minha infância, São Cristóvão ainda se agarrava a seu passado de glória. A imagem do cortiço imenso que ficava no caminho, logo antes da rua de minha avó. Um bando de gente barulhenta olhando o dia desaparecer por entre os dedos, sentados no muro baixo. Uma mulher cansada que estendia roupas no longo varal comunitário. Pão com manteiga na hora do lanche. Um relógio que marcava as horas, com uma seriedade assustadora.
Na televisão, outros troféus são distribuídos, bandeiras içadas e o hino americano se faz ouvir, enquanto a moça loura esbugalha os olhos de emoção. Pela manhã, nossa bandeira tremulou, com a medalha de prata no judô e o italiano que ganhou o ouro chorou feito criança ao ver o pavilhão tricolor ser içado à glória olímpica. Mediterrâneos. Lágrimas e sentimento. É disso que somos feitos. Essa é a nossa matéria prima, eu penso.
Todo o dia se passou dentro da água marinha brilhante, os corpos com roupas futuristas, tubarões e sereias. Fiquei deitado na cama, acompanhando a transmissão, lembrando de outras marolas, do corpo curvado antes do tiro da largada. Acabei cochilando e sonhei com aqueles dias de verão, quando eu terminava o treino e caminhava até a Avenida Brasil, seguindo o muro branco do cemitério do Caju, o uniforme do ginásio, o escudo preso no bolso da camisa.
Será que eu já sabia?
Será que tudo aquilo que eu sonhava, dentro da água-marinha onde eu nadava, era apenas uma lembrança do futuro?
Apenas uma lembrança do futuro. Como um eco.

sábado, 27 de setembro de 2014

Que tipo de amigo você é? – Um texto sobre amizades, o pra sempre que nunca acaba!


Imagem: Reprodução
Já ouvi dizer que pessoas interessantes a gente conhece ajudando a lavar louça depois da festa. Levar o cachorro fofo para passear, puxar assunto no fumódromo, ou abraçar estranhos amigáveis depois da terceira tequila na balada são também situações bem favoráveis pra novas amizades. Antigamente era tudo mais fácil e mais junto: os amigos se dividiam entre os que eu chamava pra entrar e os que eu não chamava para entrar em casa. De tarde era futebol de salão, “três dentro três fora”, “gol a gol”, “paredão”, às 17 horas todo mundo subia pra assistir Cavaleiros do Zodíaco, e eu colecionava figurinhas da Copa de 94: tempo de Roger Milla, Valderrama, Baggio. E a gente só percebe que cresceu quando não quer mais ficar em cima no beliche.
Eu acredito em um lado conveniente e ocasional, em todas as relações amistosas que construímos. Comecei a pensar nisso nos tempos de escola, eu era o gordinho amigão, aquele que é querido por todas as tias da cantina, e eu realmente gostava delas, mas eu gostava um pouco mais porque elas caprichavam no recheio do X-Tudo. E tem gente que andava mais com o amigo que dava carona, e eu percebia que geralmente os caras mais galãs tinham mais amigos, eram entidades “alfa”, eram como uma publicidade conveniente pros amigos “menos bonitos” que aproveitavam as beiradas.
O lado ocasional da amizade funciona assim: no dia da formatura você jura – aos choros – pros colegas de colegial que tudo vai ser pra sempre, que as bebedeiras da viagem de formatura irão se repetir, que vocês vão se encontrar toda semana, e o tempo vai passando e você começa a frequentar novos espaços de convivência, conhecendo novas pessoas que vivem dilemas parecidos com o seu, que concordam com você sobre aquela decisão imbecil que o seu chefe tomou, e talvez no curso de inglês ou na faculdade você faça amigos que vão pegar o mesmo ônibus e frequentar as mesmas cervejadas que você.
Aqueles de antigamente continuam ali no nosso mural de fotos dos mais chegados, em encontros sazonais, no amigo secreto anual, no telefonema de aniversario, nas curtidas do Facebook – aquelas que possuem subtextos dizendo: “apesar da distância, nós ainda concordamos, e eu estou por perto”, e não, essas amizades realmente não acabaram, mas a convivência sim; acabou! E não, aquele tempo não volta mais. São os espaços que se fecham pro antigo para que o novo entre. Mudaram os pensamentos, mudaram as barrigas, e agora a barba é item fixo. Percebemos que a vida é feita apenas de encontros, de minutos ou de anos e não existe o tal pertencimento, há apenas uma caixinha mágica chamada memória, e ela é seletiva, ela sabe o melhor a guardar, e ela tem alarmes deliciosos.
Amizade é também escolha, é quando você aprende a gostar dos outros apesar do que eles são. E eu gosto de amigos que me mostram a imperfeição, que desmontam o tal maniqueísmo. Tenho amigos divertidos, engraçados e nem um pouco confiáveis no quesito guardar segredo. Eles são menos amigos por isso? A resposta é não.
Tenho amigos que quando estão junto comigo estão inteiros, são os que a gente passa horas conversando sem nem ver o tempo passar, mas por outro lado são aqueles que esquecem do seu aniversario, são desligados da coisa de procurar, são sumidos profissionais, e não, eles não são menos amigos por isso, mantemos contato por telepatia.
Tenho amigos que passaram bons momentos da vida ao meu lado, e através das redes sociais eu hoje vejo que mudaram radicalmente, e eles não sabem, mas eu bato palmas pras mudanças radicais e desejo imensamente ter participado delas. Tem também a ala dos decepcionantes, aqueles que através de postagens e posicionamentos de timeline, vejo que estacionaram, ficaram atados por pensamentos que considero ignorantes, mas que apesar disso, em nome das boas lembranças, eu não deleto.
E na hora do conselho, pra quem corremos? A verdade é que sabemos muito bem pra quem: costumamos procurar quem tem o conselho que a gente quer ouvir naquela hora, mesmo que isso signifique procurar quem vai te passar a mão na cabeça; isso não é aleatório. Os amigos na hora do conselho geralmente se dividem da seguinte forma:
- O amigo “não fica assim”: aquele que ouve você despejar toda a sua vida, e tudo o que ele tem a dizer é essa frase animadora.
- O amigo “eu te avisei”: é aquele que já tinha te alertado antes, geralmente é meio intrometido, é aquele que sempre sabe o que é bom pros outros, sem os outros terem perguntado. Tudo o que vai acontecer nessa conversa  é a repetida manifestação de que ele sempre esteve certo.
- O amigo “espelho”:  se você disser “ que droga, hoje está chovendo” ele vai responder “nossa que droga mesmo”, mas se você disser “que legal, hoje está chovendo” ele vai responder “ nossa, verdade, que legal!”.
- O amigo ladrão de assunto: é aquele umbigudo que começa a ouvir a sua história e de repente faz uma associação pertinente ao próprio cotidiano e te interrompe e desembesta a falar pra sempre, e o seu problema imediatamente é engolido pelo monólogo dele, porque ele tende a achar que os problemas dele são sempre maiores e mais interessantes.
- O amigo que você NÃO imagina dando conselhos: é o ogro, aquele que a gente não procura, porque só fala abobrinha, porque só fala de futebol, porque você não imagina algo que ele possa dizer em um momento sério.
- O amigo psicólogo: todo mundo precisa de um desses, é aquele expert em papos cabeça, que vai te mandar o link do “Entenda os homens” [e/ou do Pens'Antes*]  com o texto-chave pro seu problema, e que mesmo que num tenha nada de útil pra te dizer vai te ouvir atentamente, vai esquecer dele por minutos, ou quem sabe arriscar um conselho ponderado.
Amizade é bagunça e vontade genuína. São os amigos que provavelmente irão guardar nossos maiores segredos e não nossos amores, é pra eles que contaremos das traições e dos arrependimentos, sem contar as festas inesquecíveis, os momentos chaves, os beijos acidentais. Amizade é quando a gente da aquela “curtida solitária” no post do amigo, por puro apoio moral.

* acrescentado ao texto original

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Deixe os sonhos levarem as dúvidas


Imagem: Reprodução
 




Quando a noite chega, daquele jeito manso, me ensina que pensar ao olhar o teto é como beijar a boca do destino. É ficar ali, pensando, e refletindo como a vida é feita de um pouco que muito diz. À minha maneira observo o teto mudo e converso com as minhas dúvidas, mas não faço promessas, não quero engaiolar meu futuro.
Só quem sonha antes de dormir sabe como é acordar para dentro de si. E assim, ensaiar futuros, desvendar amores e acreditar que o ineditismo da vida sempre será o nosso maior apaziguador. Acreditar que o destino – mesmo que ele não exista – é o nosso maior companheiro, é a forma mais branda de deixar nossos corações mansos e leves. E de coração leve o amor flui. E como flui…
Como a boca de um amor repentino a noite me afaga e, como quem nada quer, me diz que o sono sempre leva as dúvidas para longe. Sonho com o dia que eu consiga olhar o teto antes de dormir e só consiga sorrir. Sorrir sem motivo, sorrir preenchido, sorrir refletindo o sossego do meu coração. Coisa rara e inimaginável nesses últimos tempos. Mas logo eu esqueço isso, pois eu sei, minha memória sempre me trai.
Refletir antes de dormir é buscar conserto para a alma. É desencaixotar emoções e brincar de um talvez que, hoje, tanto dói. Dor com mistério de rio e grandiosidade de mar. Dor necessária para desembocar emoções que há tempos estavam guardadas numa caixinha repleta de orgulhos e desdouros.
E assim, com olhar de aguardo, admito que não consigo dormir sem antes me refazer.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O que aprendi com quem


Ouvir o texto


Saia à francesa. A despedida não é um momento bom pra ninguém. Pule essa parte. A única escapada decente de uma festa é aquela que ninguém percebe. Obrigado, Clarice.
Dê uma desculpa só. Duas desculpas são menos fortes que uma, três são menos fortes que duas e por aí vai. Por exemplo: "Não fui porque estava gripado" é uma desculpa simples e forte. "Não fui porque estava gripado, e um amigo morreu, e estava trânsito, e choveu" é uma desculpa péssima, mesmo que tudo isso seja verdade. Escolha uma desculpa como se fosse a única. Obrigado, Bruno.
Para saber se o espaguete está pronto, jogue um fio na parede. Se grudar, está pronto. Obrigado, pai.
Se quando venho, venho da, quando vou, craseio o a. Se quando venho, venho de, quando vou, crase pra quê? Obrigado, D. Vilma.
Angule o iPhone ou o iPad do seu amigo numa posição em que você consiga ver as impressões digitais. As quatro marcas de dedo mais visíveis pousarão sobre os números que compõem a senha. Faça bom uso. Obrigado, Tomás.
Não se amplia a voz dos imbecis. Responder uma crítica é amplificá-la -e o crítico costuma ter menos leitores que você. Obrigado, Millôr.
Boicote. Se você estiver filmando e não gostar de um take, não adianta pedir para o diretor não usá-lo. Ele vai usar. Por isso, estrague o take assim que perceber que não rolou. Engasgue. Tussa. Obrigado, Selton.
Defunto quando arranja quem carregue se embalança e faz peso. Obrigado, vó.
Preguiçoso trabalha dobrado. Vai devagar que eu tô com pressa. Obrigado, outra vó.
Se você souber o nome do animal de estimação do dono da casa, tem 90% de chances de saber a senha do wi-fi. Obrigado, Andinho.
O trânsito da Lagoa Rodrigo de Freitas flui melhor no sentido horário. Obrigado, João meu irmão.
Right to tight, left to loose. Para a direita a torneira fecha, para a esquerda abre. O mesmo vale para parafusos. Obrigado, Paulo Britto.
Mesmo se estiver a jato, seja sempre o último a sair do avião. Obrigado, Gilberto Gil.
Chapéu é sinal de carência afetiva. Evite chapéu. Evite pessoas de chapéu. A não ser os idosos, que com a gratuidade no transporte público, ganham alvará de chapéu. Obrigado, Maria Clara Gueiros.
Lave as louças assim que acabar de comer. O tempo que passou desde que você comeu é proporcional ao quanto é insuportável pensar em lavá-las. Obrigado, mãe.
Não compre, plante. Se não plantar, fique amigo de quem planta. Obrigado, amigo que não posso falar o nome.


gregorio duvivier

Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

Fonte: UOL - Folha

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Não é joguinho – Ele(a) realmente não está a fim de você


Imagem: Reprodução
Ela sorriu quando você insistiu naquela piada sobre astronautas e papagaio, mas não gargalhou pra você, entende? Ou naquele outro momento, que você pediu o telefone dela, ela não deu e você anotou o teu no celular dela, mas ela não te ligou, nem nada.
Mas aceitou o teu pedido de amizade no Facebook e te encheu de esperanças novamente.
Ela responde tuas mensagens – mas sempre com um ar de quem está em uma reunião importante ou operando o coração de alguém, e você se pergunta quem-fica-no-celular-com-o-coração-de-alguém-nas-mãos?
E pensando por esse lado, você até se considera muito importante pra ela já que mesmo super ocupada, ela insiste em te responder uma junção de “rs” com “aham”.
Você responde tuas próprias perguntas e acha que está numa conversa à dois.
E na sexta? Ela não poderá porque ficará com a família que chegou de longe. No sábado? Ela precisa levar o cachorro para passear e não sabe que horas voltará. No domingo, nem pensar. Ela não gosta de fazer nada no domingo. Sem contar que durante a semana, ela só consegue estudar e não tem tempo para mais nada – a não ser para sair com aquele outro cara de cabelo bonito ou com o de óculos estiloso.
E talvez até com aquele fortinho que faz Teoria da Comunicação II com ela.
Cara, vai por mim, ela não está a fim de você.
Quem sente fome, engole loucamente uma pizza gordurosa ou uma caesar salad. Quem sente sede, consegue beber sem parar quatro litros inteiros – de água ou de suco ou de refrigerante, que seja. Quem sente vontade, faz meia-noite virar dia, (...) e inbox do Facebook se transformar num delicioso par de ouvidos.
Se é mais-fácil-aprender-japonês-em-braile, está na hora de você trocar de idioma – e de curso.
 
 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

21 coisas sobre a sua casa que você só descobre quando vai morar sozinho


Incluindo lavar a máquina de lavar roupa. 


1. Você descobre que ir ao mercado pelo menos três vezes por semana não era um hobby da sua mãe.

21 coisas sobre a sua casa que voc� s� descobre quando vai morar sozinho
Adicionar legenda

2. Aprende que para ter uma geladeira completa você precisa passar em pelo menos três lugares: mercado, açougue e padaria.

3. Ou encarar uma fila quilométrica em um supermercado.

4. Mesmo que você tenha uma lista de compras sempre vai faltar alguma coisa.

5. A vida útil de um sabonete é muito mais curta do que você imaginava.

6. Assim como a do papel higiênico, e que ele custa uma pequena fortuna.

7. Em compensação, um saco de sal é infindável.

JANIFEST/JANIFEST
Sal, o item sem fim.

8. Escova de dente não se materializa no seu banheiro.

9. Uma faxina envolve pelo menos 5 panos de chão, que você não tem.

10. Na verdade você descobre que faxina é algo que nunca acaba.

11. E que lugares como tomada, quinas e batentes acumulam uma quantidade expressiva de pó.

12. Que a sua roupa de cama tem que ser trocada pelo menos uma vez por semana.

13. E que dobrar lençol com elástico é algo bastante complexo.

14. Copos e talheres sujos se acumulam de forma assustadora e do nada não tem nenhum limpo.

15. Panos de prato não são apenas itens decorativos e ficam encharcados e sujos com muita frequência.

16. Descobre que alguns itens de cozinha podem explodir no microondas.

17. E que aquelas comidas maneiras congeladas não são tão maravilhosas quando se come todo dia.

18. Ovo e pão se tornam seus melhores amigos e inclusive podem ser comidos juntos.

A receita está aqui.

19. Gavetas e guarda-roupas na verdade têm vida própria e se bagunçam sem interferência externa.

20. Lavar roupa é um pouco mais complexo do que você imagina.

21. E lavar a maquina de lavar roupa inclusive é a maior novidade do mundo

domingo, 21 de setembro de 2014

O coração cuspindo

Imagem: Reprodução





Fabrício Carpinejar


Quando você não tem como resgatar uma história de amor, meu amigo, meu irmão, o coração vai cuspindo.
O coração está gripado. Está doente.
Você respira bem, mas o coração não. Não criaram uma aspirina para o coração.
Não tem como tomar um remédio. Ou esquecer.
Seu coração cospe o nome dela, as imagens dela em cada tentativa de romance.
As mulheres com quem vai sair não notarão o seu peito apertado. O seu peito confrangido. O seu peito constrangido. O seu peito doendo a falta de esperança.
Mas, entenda, seu coração vai cuspir muito ainda. Talvez seja pneumonia do coração.
Seguirá com a vida porque não tem o que fazer: ela arrancou o futuro da relação, a esperança, ela não mudará, continuará lhe destratando, sendo grosseira, muda, fria, insensível.
Ela não dará jamais as respostas que deseja. A saúde que espera. O arrependimento que anseia.
Cuspirá, meu querido. Nas calçadas e nos canteiros, cuidando para não ser visto.
Um exorcismo que não termina, fracassando para jogar fora o excesso não vivido a dois.
Sofre da nostalgia do que não viveu e não viverá mais.
Ela não merece seu amor - o que agrava a sua angústia. Pertencimento e merecimento não andam lado a lado, descobriu isso, infelizmente.
Você já cansou de rezar. A tosse é o cansaço da memória. O cansaço do silêncio. (...) O cansaço da insistência: esta insistência cansada na desistência.
O amor pulsa inteiro entre palavras quebradas.
O amor bate inteiro com a fé estraçalhada.
Tudo foi piorando de tal forma que ou você afundava junto com ela, humilhado, ou você emergia, sozinho e ferido.
Todo amor a uma mulher deve coincidir com o amor à vida.
Seu coração tosse quando janta acompanhado em um restaurante diferente e percebe que sua ex poderia gostar de um prato, da decoração, quando seu pedido no cardápio é mais o pedido dela do que o seu, quando você tem vontade de sair dali para contar para ela que precisa conhecer um novo restaurante, que é a sua cara.
Mas ela não escutará você. Porque estará de mau humor, estará cobrando novamente, sempre insatisfeita, sempre infeliz.
Você tentou fazê-la feliz e ela somente lhe machucou.
Já conclui que ela odeia sua felicidade, ama seu amor e odeia sua felicidade.
Não dará importância à sua poesia, aos seus detalhes, ao tempo que leva reunindo a saudade de lugar a lugar para oferecê-la.
Seu coração tosse sem parar quando busca se envolver com uma pretendente. Depois da euforia (...) ficará com uma vontade imensa de se isolar e mandar a companhia embora. Terá que ser educado para disfarçar a tosse e não transmitir a sensação que usou a pessoa. Você vem se usando, não usando ninguém.
A tosse é indelicada e convence seu rosto a mergulhar na tristeza. Não consegue conversar, pois seu coração quer cuspir. De novo e de novo.
Você não fala mais com ela. Você não telefona. Você não manda mensagens. Você não tem nenhum motivo ou pretexto. A tosse é a paixão sufocada. A paixão por dentro sem voz, sem comunicação, sem nada.
Ela tampouco imagina que seu coração está cuspindo.
Seu coração cospe. Intervalos longos em que o mundo para e desaparece.
Seu coração resmunga. Seu coração não é seu, ainda é dela, até quando?


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 21/9/2014 Edição N°17929

sábado, 20 de setembro de 2014

Doença de Alzheimer: o que é?

No dia mundial da Doença de Alzheimer assista este vídeo, afinal, à medida que a população envelhece mais pessoas serão afetadas... Ninguém está imune! (via Juliana Viggiani)


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Histórias reais do primeiro encontro


 Algumas roupas são tão importantes que nos remetem aos momentos inesquecíveis da vida. "Histórias Reais do Primeiro Encontro" traz à tona a memória afetiva que algumas roupas carregam. Por meio de fatos e personagens reais conta as histórias de amor de três casais. Assista e se emocione.



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Você pratica o amor ou apego?


Imagem: Reprodução
Vendo esta pergunta assim de primeira, eu tenho quase certeza que você vai disparar algo do tipo: Claro que pratico o amor! O problema é que o mundo que anda hostil e as pessoas cada vez mais individuais, e a gente acaba se blindando, se fechando e com medo de viver de peito aberto praticando o “amor”. Não é fácil.


Pois bem, há umas duas semanas atrás, o pessoal do O Lugar – um projeto de transformação coletiva por meio de contatos reais entre pessoas e troca de experiências – liberou um vídeo com uma entrevista incrível com a monja Jetsunma Tenzin Palmo em papo tranquilo, leve e de muita sabedoria sobre algo que confundimos muito: o amor romântico e o amor genuíno. Muitos – que não têm culpa, até – confundem os dois achando que se tratam da mesma coisa ou coisas muito próximas. Mas não são. Mesmo.
No vídeo, a monja compartilha seus conhecimentos de maneira sensata e sem parecer um papo viajante, mas sim algo que pode nos ajudar muito entender o que é praticar amor de maneira gratuita, sem joguinhos e de maneira verdadeira, nos fazendo enxergar que nosso exterior é reflexo do interior. São apenas 4 minutos, confiram:



Quanto mais agarramos o outro com força, mais sofreremos”.
Duro, pesado e tão sincero.
O bacana das falas da monja é que ela compartilha algo tão simples, mas que parece ser mais uma assombração na qual acabamos nos escravizando e mergulhando em mar de dúvidas, questionamentos e medos. Ela mostra, também, que atraímos o que emanamos e se você pratica um amor genuíno buscando a felicidade do próximo, independentemente de estar ou não com você, você está praticando um amor puro.
Idealmente, as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas e ficarem juntas apenas para apreciar isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar que elas não têm sozinhas”.
São falas e falas que fazem nossa mente ir longe e repensar se não complexamos muito as coisas e que na verdade o caos à nossa volta, é apenas resultado do nosso caos interior.
Estamos todos no mesmo barco e cuidar em levar algo ameno e tranquilo é um bom primeiro passo para cultivar valores que inexplicavelmente parecem ser ridicularizados na correria do dia a dia. Que o que a monja compartilhou de maneira simples seja um norte para como encaramos o amor e maneira como nos relacionamos com as pessoas, juntas e separadas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Para onde vai o amor?



Fabrício Carpinejar

 

Imagem: Reprodução




Quando deixo de amar, não fico aliviado, eu fico triste. Porque é se despedir de uma grande parte da própria vida, é se desapegar de um sentimento que julgava único.

É triste deixar de amar. Profundamente triste. É sacrificar a personalidade, é nunca mais usar um jeito de reagir e de falar, nunca mais usar um jeito de beijar e de abraçar, nunca mais usar um jeito de (...) ser feliz.

Passo a pensar: onde foi parar todo aquele amor? Onde é que ele se escondeu? Será que desapareceu ou apenas está dormindo?

Será que terminou mesmo ou é fingimento para suportar a falta? Será que minto para mim para não sofrer tanto?

Será que o amor é um segredo disfarçado de fim? Será que a minha solidão agora é soberba? Será que meu contentamento é uma cilada? Será que me embriaguei de palavras e esqueci o caminho de volta?

Onde estão aquelas declarações apaixonadas? Em que parte distante de mim, já que não sobem mais aos olhos?

Para onde foram a algazarra da convivência, os passeios, as viagens, as mãos dadas, os risos, a cumplicidade das festas, as brincadeiras, o sono de conchinha, as conversas até tarde?

Para onde foram a ansiedade, o ciúme, a saudade, o desespero de não ver mais, as implicâncias ruidosas, as concordâncias silenciosas?

Para onde vai o amor após sumirem as fotos, os quadros, as mensagens de texto, os bilhetes de flores?

Quando não há mais dor para sinalizar onde se mantinha o amor. Quando não há mais desespero para apontar onde se guardava o amor. Quando não restam lápide, campa, cicatriz, rua, aliança para ostentar sua lembrança.

Em que parada de Porto Alegre desembarca a comoção perdida? Qual a estação em que o amor acena e evapora? Que planeta, que dimensão, que oceano?

Ou ele se transforma numa mania nova, num modo de suspirar, de virar o rosto, de mexer as orelhas?

Ou ele se converte em cinismo religioso, em maldade com os palhaços, em ironia com noivos, em raiva de qualquer save the date dos amigos?

Para onde vai o amor depois do amor? Me fale, por favor. As lágrimas, quando secam, permanecem eternamente na pele? Não sei. Mas meu rosto está cada vez mais salgado.

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4, 16/9/2014
Porto Alegre (RS), Edição N°17924

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A culpa das emoções


Imagem: Reprodução
  
Hoje eu queria falar de pressa, da urgência que temos das coisas e de culpa – culpa por não querer protelar as emoções. Na verdade, nesse momento, quero me ater ao discurso sobre o amor, ou melhor, à urgência que temos de amar, sem nos preocuparmos com julgamentos. De tanto amar errado, percebi que estamos muito mal acostumados com os padrões. Por exemplo: se conhecemos alguém, e em menos de 24 horas sentimos vontade de casar com essa pessoa, nos culpamos, pois aprendemos que mostrar interesse rápido por alguém nos faz perder o respeito do outro, nos faz parecer franzinos. Se nos encantamos no primeiro encontro, e saímos por aí divulgando isso aos quatro cantos, com um sorriso de fora a fora no rosto, somos precipitados, imaturos, iludidos. E é sempre assim: para a grande maioria, relacionamento só dá certo se um dos dois se faz de difícil. Teorias que não passam de teorias, apenas.
Não tenho tido muita paciência para ficar na fila do “mais do mesmo”. Talvez por isso tenho pedido menos conselhos, lido menos livros de autoajuda e me comparado menos com os outros. Levantei a bandeira, joguei a toalha, entreguei as cartas, saí fora dessa redoma que acha que felicidade é produto, que pode ser fabricada, que tem fórmula pronta – fórmula da indiferença, da cara feia, do nariz empinado.
Queria muito entender porque damos tanta importância ao que os outros pensam. Isso é cultural, eu sei. Vivi assim por anos. O que me intriga é ver essa seita com milhares de seguidores fiéis – milhares de pessoas que deixam de dizer ‘eu te amo’ porque isso só se pode dizer com o passar do tempo. Acho isso tão cruel: abafar felicidade. Acredito piamente que temos mais é que dizer as coisas no momento em que estamos sentindo. Sufocar emoção dói, angustia, nos traz um falso ar de superioridade – eu disse ‘falso ar de superioridade`. Deixar de dizer o que se sente não faz ninguém mais forte. Não existem argumentos para essa defesa. O problema é que pensar assim, sozinho, é complicado. Se o outro não entende e prefere dar valor a quem se faz de difícil, a quem deixa o ‘eu te amo’ entalado por tempos na garganta, é natural que você balance, titubei, chore, perca forças…Mas uma coisa é certa: nada dói mais que mentir pra si mesmo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A desconstrução de Chico


Vez por outra é bom ler opiniões diferentes, visões novas sobre um fato já 'tradicionalizado'. A desconstrução de Chico por Barrueco é interessante, o que abre espaço para um longo e instigante debate. Talvez ache que o texto é excelente, ou que é apenas um discurso feminista. E aí, Mulher, Chico te compreende? 

 

Sou mulher e Chico Buarque não me compreende




Dizem que Chico Buarque entende a alma feminina. Aí vão algumas razões para abandonarmos esse conceito de uma vez por todas.


hipnose?



Com mais de cinquenta anos de carreira, o romântico já cantou muito sobre relacionamentos, casamentos, ciúmes... já encarnou personagens traídas, saudosas e apaixonadas, divagando e explorando a condição da mulher. Parece unanimidade: Chico Buarque compreende a alma feminina.
Mas o que seria, de fato, a “alma feminina” além de um conceito equivocado de um sopro florido que une todas as mulheres do mundo? Porque me parece que é sobre isso que o Chico canta, e é disso que ele entende.
As mulheres que encontramos nas músicas de Chico são bastante parecidas entre si, é como se habitassem o mesmo universo fictício. Elas basicamente transbordam ou quietude e passividade ou histeria, e esses são dois lados do mesmo clichê. Um clichê que pode ser chamado de alma feminina.
A querida antropóloga Margaret Mead foi uma precursora dos questionamentos acerca da natureza da “alma feminina”. Ela viveu com algumas sociedades indígenas que ainda não haviam tido contato com a cultura ocidental, para descobrir se o comportamento dos gêneros era realmente ditado por fatores biológicos. Em seu livro Sexo e Temperamento, escrito a partir dessa vivência, Mead sugere que as características masculinas e femininas são construções culturais. Entre os Tchambuli da Nova Guiné, por exemplo, os homens são emocionalmente dependentes e irresponsáveis, se pintam, se enfeitam e dançam para as mulheres (carecas e detentoras da riqueza e patrimônio da tribo), apresentando comportamentos aparentemente inversos aos típicos da sociedade ocidental. É o que a filósofa Judith Butler chama de performatividade de gênero, ou seja, as condutas femininas e masculinas não passam de representações, performances , nessa sociedade do espetáculo em que estamos todos inseridos.
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Não se nasce mulher, torna­-se mulher. E as mulheres de Chico além de estarem envoltas em suas “almas femininas” têm mais algumas características em comum:
Primeiramente elas não têm profissão, a não ser que consideremos profissão cozinhar, rodopiar, ser fogosa ou esperar na janela. A espera feminina é representada em suas músicas como uma não­-ação cheia de melancolia, um forte símbolo de passividade. Ter esperança.
Ela e sua menina, ela e seu tricô (...) Da sua janela /Imagina ela /Por onde ele anda?” (Ela e Sua Janela)
"Morena, dos olhos d'água/ Tira os seus olhos do mar. (..) Seu homem foi­-se embora, Prometendo voltar já." (Morena dos Olhos D’agua)
"Quem madruga sempre encontra / Januária na janela." (Januária)
"Seis da tarde como era de se esperar /Ela pega e me espera no portão." (Cotidiano)
"Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde /E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe / Esperando, parada, pregada na pedra do porto." (Minha Historia)
As mulheres de Chico também não têm muitos questionamentos além da relação com seus respectivos homens ou questões da casa.
Esses dias estava escutando a música ‘Feijoada Completa’, que começa assim: “Mulher, você vai gostar: Tô levando uns amigos pra conversar.” Na hora fiquei feliz por esse marido pensar na mulher como amiga, que participa da conversa com os amigos dele. Parece simples, mas lembremos que estamos falando do universo das esposas que esperam na janela. Bom, a música segue e “..Mulher, você vai fritar/ Um montão de torresmo pra acompanhar/ Mulher, depois de salgar / Faça um bom refogado.” O que o marido realmente queria era que a esposa cozinhasse uma feijoada para os camaradas dele. Nossa, que notícia boa, ela realmente vai adorar.

Em diversos momentos, Chico, assim como muitos compositores, vê as mulheres como musas, e é comum que elas sejam representadas em estado de romantismo, sem profundidade, como se vivessem para inspirar os homens.
"Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas / Não canso de contemplá-­la." (Essa Pequena)
Musa pode ser uma categoria um tanto redutora, mas esse não é nem de longe o destino mais cruel das moças que habitam a discografia Buarque de Hollanda:
Na música ‘Se Eu Fosse Teu Patrão’ um homem sonha em acorrentar a mulher ao pé do fogão, tratá-­la como escrava e estuprá-­la no chão da cozinha. No fim da música chega a vez da mulher dizer o que ela sonha fazer como patroa do homem, e ela contenta-­se em imaginar que continua servindo o marido, mas dando­-lhe um café pequeno, e afagando-­lhe como quem afaga um cão. Tudo isso cantado num ritmo alegre e com um tom despretensioso.
É inegável a importância de se chamar a atenção para aspectos da opressão sofrida por tantas mulheres pelo Brasil afora, e é importante que essas mulheres sejam representadas, que não sejam invisíveis. Mas ao retratar romanticamente relações abusivas, tão claras como essa, e também mais sutis como em tantas outras canções, Chico Buarque evita questionar a situação ou empoderar suas personagens. Pelo contrário, ele naturaliza e normatiza o machismo e pinta suas personagens femininas com um forte tom de resignação. “Assim que as coisas são, sem possibilidade de mudança, e tudo bem.”
"Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança/ Pra chorar o meu perdão, qual o quê! (...)E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado/ Ainda quis me aborrecer? Qual o quê! / Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato/ E abro os meus braços pra você." (Com açúcar, Com Afeto)
A autora Janaía Rufino sugere que Chico compunha músicas sobre relacionamentos amorosos opressores como forma de driblar a censura, e ainda assim representar a repressão, na época da ditadura. Não encontrei confirmação alguma do próprio Chico, mas acredito que possa ser o caso em algum momento. De qualquer forma as músicas existem sozinhas e falam por si, quer dizer, elas ultrapassaram a ditadura e sobreviveram, quer queira, quer não, como músicas românticas sobre relacionamentos amorosos.
Qualquer que tenha sido sua intenção inicial, Chico lançou foco e ajudou a reforçar um arquétipo da mulher brasileira, que está incrustado profundamente no nosso inconsciente coletivo e que precisamos, no mínimo, questionar. Esse arquétipo não é um reflexo de mulheres reais, a alma feminina não é um atributo que está no DNA, (ou no útero), de todas as mulheres, e sim uma série de características culturalmente construídas, que muitas meninas ainda hoje insistem em abraçar e que, em geral, enfraquecem as potencialidades delas.
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É importante lembrar que não somos todas “mulheres de Chico”. E que diferentes representações de diferentes individualidades existam em todas as artes e mídias. Mudar um conceito que foi forçado e reforçado durante várias gerações é um processo lento, mas acredito que estamos no caminho para que algum dia expressões como “alma feminina” deixem de fazer sentido.

© obvious: http://lounge.obviousmag.org/01100011_01110101/2014/09/sou-mulher-e-chico-buarque-nao-me-compreende.html#ixzz3DLol1QC8
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domingo, 14 de setembro de 2014

Para lembrar como o amor é simples



Sério. Antes de qualquer coisa, assista ao vídeo. São 8 minutos que valem a pena. Tipo Fred: vai te fazer sorrir.





Não é lindo? O filme é tão querido, fofo e real! O curta começa falando sobre como todos queremos ser amados e estar apaixonados. Depois, ele pergunta: estamos todos prontos para o amor?
Não sei. Quer dizer, acho que complicamos tanto o “amor” que nem lembramos muito bem como ele é. Quanto tempo gastamos imaginando mil monstros, fantasmas e minhocas (...) e encanando tentando complicar o que deveria ser descomplicado? Quantas mensagens você escreveu e não enviou! É que, na sua cabeça, a pessoa poderia pensar horríveis sobre você. Mas qual o problema? Quantas vezes imaginamos milhões de situações que nunca existirão e fantasiamos com coisas tão distantes da realidade? E quantos encontros divertidos perdemos por isso? Perdemos tudo ao não darmos uma chance para alguém apenas pelo fato de ele não se parecer com o marido (hellooo, acorda Cinderela) perfeito que você imaginou que teria um dia?
Com certeza, eu perdi vários momentos sinceros. A realidade me decepcionava porque minha criativa imaginação impedia. E foi isso que o video me lembrou: essa sensação gostosa de gostar e de ser simples, divertido e gostoso. E real.
Onde estou em relação ao amor? Numa jornada em busca da simplicidade da vida cotidiana e acho que não estou sozinha nessa. Por um amor divertido, leve, gostoso e, principalmente, sincero. Não mais fantasias mirabolantes em que o primeiro beijo só acontece no meio do deserto sob um céu cheio de estrelas [...]. Não mais sonhar em encontrar o príncipe encantado numa viagem para Dinamarca porque talvez o cara certo more bem aqui pertinho. Não mais esperar que as flores que ele traz serão sempre brancas, pois as flores sinceras não são perfeitas e tem manchas. As relações também. Elas acontecem nas horas mais inapropriadas dos jeitos mais inoportunos e sinceros depois que as minhocas e a imaginação dão espaço a encarar a vida real, como no video. Porque a realidade é mais simples e descomplicada do que a imaginação. E também muito mais gostosa de viver. 


sábado, 13 de setembro de 2014

A descoberta da “onda de gravidade” do big bang reforça a criação bíblica, diz astrônomo

Alguns especialistas científicos cristãos acreditam que a descoberta da “onda de gravidade”, anunciada no início desta semana por cientistas que trabalham com um telescópio no pólo sul chamado BICEP 2, fornece confirmação para o relato bíblico da criação, apoiando a teoria do “big bang”.
“A Bíblia foi a primeira a predizer a cosmologia do big bang”, segundo Hugh Ross, presidente e fundador de Reasons to Believe, uma organização criacionista  que acredita que o cristianismo e a ciência são complementares.
hugh-rossEm entrevista ao The Christian Post na terça-feira, Ross explicou que a detecção de ondas gravitacionais de rápida expansão do universo, conhecida como “inflação”, mostra que “quando o universo tinha um trilionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo de idade, ela se expandiu mais rapidamente do que a velocidade da luz.”
Estas ondas de gravidade são de um tipo específico de flutuação quântica – pequenas ondulações no tecido do espaço-tempo – que mostram como rapidamente a propagação da luz e do universo se expandiu.
Estes resultados foram descobertos por um telescópio no pólo sul chamado BICEP 2, que é um acrônimo para: Imagem de fundo da polarização extra galáctica cósmica.
“A inflação é a teoria sobre o ‘bang’ do big bang”, afirma Chao-Lin Kuo, professor assistente de física na Universidade de Stanford e co-líder da colaboração BICEP 2 explica em um vídeo e artigo publicado no site da universidade.
As ondas parecem sugerir que o universo se expandiu a uma velocidade mais rápida do que a velocidade da luz por uma fração de segundo, um fato que Ross afirma ser essencial para a formação da vida humana.
“Se o universo não for termodinamicamente conectado, não terá a homogeneidade e uniformidade que é necessária para que a vida seja concebível”, disse Ross.
Ele explicou ainda que, se o universo fosse velho demais ou esfriasse muito rapidamente, as estrelas necessárias para a vida avançar iriam queimar antes que a vida pudesse aparecer.
Ross afirma que os seres humanos estão “no final da linha”, porque “não iria demorar muito até que o sol fosse muito brilhante para qualquer forma de vida na Terra.” Ele acrescentou que o universo inteiro é “hostil à vida avançar exceto no planeta terra”, e até mesmo a terra seria hostil se o universo não tivesse se expandido de acordo com a inflação.
Leslie Wickman, diretor do Centro de Investigação em Ciências da Azusa Pacific University, disse ao CP na terça-feira que “a evidência para o big bang, em geral, diz-nos que houve um começo”, e “se houvesse um começo, pela simples lógica de causa e efeito, que tinha de ser um iniciador.”
Wickman também acredita que a teoria do big bang suporta a visão de mundo cristã.
“Se você olhar para a história científica, a teoria que persistiu antes do big bang foi a teoria do estado estacionário do universo, que se encaixa bem com a famosa frase de Carl Sagan:” O universo é tudo o que sempre foi, tudo o que é e tudo o que nunca vai ser'”, disse ela. Ao sugerir um início concreto, o big bang aponta para a criação, em vez do universo eterno, como proposto por Sagan e apresentado na nova série “The Cosmos”, disse ela.
“Uma das minhas paixões na vida é levar as pessoas a compreender que não temos de escolher entre a ciência ou a fé. Você pode ser um bom cientista e um cristão fiel”, acrescentou Wickman.
Stephen Meyer, diretor do Centro para a Ciência e Cultura do Discovery Institute e autor do best-seller do NYT A Dúvida de Darwin: A origem explosiva da vida animal e defesa do Design Inteligente, disse ao CP na terça-feira que também acredita que “a teoria do big bang suporta uma compreensão bíblica da criação.”
Meyer sugere ainda que a evidência recente da inflação suporta a representação bíblica de um universo em expansão.
“Nós encontramos repetidas vezes no Antigo Testamento, tanto nos profetas e nos Salmos, que Deus alongou ou está estendendo os céus”, observou ele, sugerindo que há “pelo menos uma dúzia de referências” a esta ideia nas Escrituras.
“O espaço expandiu-se muito rapidamente, e esta é uma evidência adicional de suporte da inflação”, disse ele, referindo-se ao estudo.
Nem todos os cristãos que praticam ciência, no entanto, acreditam que o big bang apóia o relato bíblico da criação.
Danny Faulkner, um professor de astronomia do Museu da Criação que tem um Ph.D. no campo, disse ao CP, “O meu problema com o big bang é que não é bíblico.”
Faulkner acredita em uma interpretação de 24 horas dos “dias” de Gênesis 1, e afirma que o universo tem apenas 6.000 anos de idade, enquanto que o modelo do Big Bang estima a idade do universo em torno de 13,8 bilhões anos.
“Na Bíblia, vemos que a terra estava lá desde o início, e as estrelas vieram mais tarde”, disse ele.
Ele também sugeriu que os cristãos não devem tentar integrar uma cosmovisão bíblica com as descobertas científicas, já que muitas vezes a ciência muda.
“Quando os cristãos tentaram incorporar o pensamento cristão sobre as teorias da época, o paradigma muda e desacredita a Palavra”.
Faulkner mencionou a revolução copernicana, a descoberta científica de que a Terra gira em torno do sol, como um exemplo do que acontece quando os cristãos incorporam a ciência em sua leitura das Escrituras.
“O problema é que as pessoas estão tentando interpretar a Bíblia em termos do pensamento corrente da cosmologia, ao invés de fazê-lo o contrário”, explicou Faulkner.
Ele ainda argumentou que a descoberta científica de ondas gravitacionais pode ser resultado de uma necessidade da inflação do modelo do big bang.
“Se a inflação não aconteceu, então o modelo do big bang está com problemas”, por isso “tem havido uma corrida para julgamento por muitas pessoas.” Faulkner leu o relatório, e disse: “eles estão basicamente argumentando que ‘pensamos que podemos ter encontrado’, o que não é o mesmo que dizer que definitivamente encontraram.”
Os experimentos, observou, descartam uma hipótese contra a inflação que não prova que a inflação aconteceu.
Em resposta, Meyer afirmou que compreende a nota de advertência, mas acrescentou: “o suporte para um universo finito tem sido estabelecido desde 1900.” Ele também disse que “é muito estranho para as pessoas de uma perspectiva criacionista negarem uma teoria que diz que o universo começou a partir do nada físico.”
Ross também citou as Escrituras para argumentar contra os seis dias literais da criação de 24 horas, e citou Hebreus 4, John 5 e Salmo 95 para apoiar seu ponto de vista de que a humanidade está vivendo no sétimo dia da criação.
De acordo com Gênesis 1, Deus fez o homem, macho e fêmea, no sexto dia. Ross acredita que esses seis dias devem ter sido um longo período de tempo, porque Gênesis 2 narra que Adão cuidava do jardim, com o nome dos animais e percebeu que ele estava sozinho antes de Deus criar Eva.
Meyer também apontou para três grandes descobertas científicas do século passado, que apoia o relato bíblico da criação: o big bang, que diz: “o universo teve um começo,” “o princípio antrópico do ajuste fino do universo”, que afirma que as regras da matéria agem de uma forma mais adequada para a vida humana, e evidência das propriedades portadoras de informação do DNA que os blocos básicos da vida têm uma espécie de conhecimento.
Ele também comentou sobre seu artigo “O retorno da hipótese de Deus“, que apenas o teísmo, não o deísmo, panteísmo ou materialismo, pode ser responsável ​​por estas novas descobertas.
Meyer reiterou sua crença de que os cristãos devem usar as melhores evidências científicas disponíveis e nos melhores conhecimentos disponíveis da Bíblia e conciliar os dois.