domingo, 30 de junho de 2013

por Pedro Barnez Pignata Cattai

"Shakespeare – Hamlet – diria: estar pronto é tudo. ‘Estar pronto’ se parece com ‘estar preparado’, mas há uma sutil e decisiva diferença que tornam inimigas as duas fórmulas: ‘estar preparado’ nos exige ensaio, uma condição prévia; ‘estar pronto’ nos situa já no mundo, queiramos ou não, estejamos ou não preparados. E, no final das contas, ‘estar pronto’ é uma ação muito mais bela e licenciosa, livre, porque nos condiciona ao que podemos, não ao que deveríamos. Não se trata, pois, de um ressentido aprendizado da resignação: antes, ou situado um tanto lateralmente, seria como obter o movimento da vida na exata medida em que, entregando-se a ela, nela se imprima o que de si vibra: um tom, um estilo, uma cor... Em outras palavras, conforme nos ensina Spinoza, viver de acordo com o que seu corpo pode, estar sempre se ajustando na sua capacidade de ser afetado. Talvez Rosa repetisse: "A vida da gente faz sete voltas – se diz. A vida nem é da gente..." Pois é, a vida da gente é dos acontecimentos e de como nos dignamos a eles: seguramos o chapéu e acenamos de volta, talvez gentis, talvez contrários a eles, talvez gratos, talvez deles precisando fugir."

sábado, 29 de junho de 2013

A riqueza guardada nos 'filhos da dor'



"Mas se a gente acreditar, numa luzinha que mora no fundo do dentro da gente, a gente vorta a sonhá e vorta a saber que nóis, que gente foi feita pra inventar o mundo de novo, pra mudar e desmudar carregando alegria"
- Fulgêncio (personagem de um dos grandes espetáculos do Grupo Ponto de Partida, interpretado por Lido Loschi)

Os ‘filhos da dor’ exalaram amor na última sexta-feira (28/06). Impossível?! Os convidados ao espetáculo do Coral São Miguel Arcanjo presenciaram algo fabuloso. Aproximadamente trinta crianças e adolescentes com histórias dignas da atenção especial de toda a sociedade, acolhidas pela generosidade de Marco Roberto Bertoli, deram um show de interpretação, cantando e dançando com prazer e desenvoltura. Segundo Bertoli, ‘a Sociedade São Miguel Arcanjo nasceu da indignação, teimosia, miséria, dor, abandono e esperança’, o que justifica a beleza da apresentação do Coral. Se o originador dessa instituição foi capaz de transformar tantos sentimentos ruins em uma obra fascinante, que dirá de seus ‘filhos adotivos’ vendo este exemplo!
O espetáculo nos remete à consideração pertinente de Gilberto Freyre, de que a miscigenação brasileira produziu uma sociedade singular, caracterizada principalmente pela convivência pacífica entre etnias diversas.  Os ‘filhos do Brasil’, de uma sociedade decadente, sem amor, sem estrutura e privadas tantas outras características fundamentais para uma vida digna, mostraram através da arte que podemos crer num mundo agradável. O que muitos precisam é de oportunidade e um olhar, gesto, carinhoso, um bom exemplo a seguir. Algo que desperte o que há de melhor, que ‘amontoe neles brasas acesas’.


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Imagem: Arquivo pessoal


Vida longa aos preparadores vocais – João Melo e Heitor Araújo, à percussionista e ritmista Betânia Discacciatti, ao músico Pitágoras Silveira, Ercília Faria – confecção de figurinos, Waldir Damasceno – iluminação, aos produtores Edson Brandão e Suzana Moraes, à administradora Aparecida Moraes, secretária Márcia Mendes e às educadoras Edriana Savá e Michele Dias! Fizeram um trabalho exemplar.
Às crianças, – Aldair, Alessandro, Bruna, Bruno Nascimento, Bruno Silva, Cássio, Ellen, Fabrício, Geovane, Guilherme, Leandro, Maria Luiza, Nathaly, Ramon, Rick, Samira, Thiago, Victor, Wallas, Warley, Wellisson, Wallinsson, Yasmin, Cláudio, Edson, Maycon e Rafael – resta desejar que a vida seja generosa com todos! Que possam continuar motivando, e ensinando, outros a viver e despertar o que há de melhor na vida, pessoas e ambiente onde habitam. Parabéns ao Sr. Bertoli por cativar nessas crianças algo prazeroso!
Notamos que a arte possibilita a conquista da identidade, dignidade, resgata a harmonia do espírito.  Quem os escuta se sente iluminado e entende que há uma imensa riqueza dentro de cada ser humano.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Mais uma vez amor

“Quando alguém nos ama diz nosso nome de maneira diferente e cada um de nós é capaz de amor. E o mais curioso de tudo é que você só calcula o quanto ama alguém quando o vê passar por uma situação de ridículo.”
 – M. de Sousa-Aguiar

Até certo tempo esperava por um amor completo, que me ‘tirasse os pés do chão’, me fizesse sorrir sem nenhum motivo aparente. Um amor surpreendentemente bom! Sabe aquela pessoa que pensa em você o tempo todo? Que buscasse um jeito inédito para falar do nosso amor. O tempo passou e continuava pensando, sonhando, querendo viver essa experiência. Seria sorte demais olhar para esse ser e a pessoa estar ali à minha disposição, sempre da forma que o imaginário projetou. Alguém realmente importante!
Interessante que a teoria do quadro mental realmente funciona. Vivemos o que imaginamos nos transformamos nos personagens que admiramos. Vejo em seus braços o laço perfeito. O laço que nunca gostaria de ser libertado. Dizem que o amor é o avesso da dor, mas tenho minhas dúvidas. Na verdade, o amor da atualidade mudou de roupagem. Vivo e espero um amor do século XVIII, que é extremamente retrógrado. As pessoas falam constantemente de amor e acabaram o banalizando. Tentativas, foi nisso que esse sentimento se equiparou. Não quero tentar, quero que dê certo para todo o sempre. Sabe a pessoa que sorri com os olhos?! Então! Está por aí... Em algum aeroporto, precisando de um celular emprestado, sofrendo por um amor que não a valorizou, esperando por alguém que diz seu nome de maneira diferente e que também dirá o seu dessa forma. Talvez já tenha cruzado com tal pessoa pelas ruas, enquanto atravessava a faixa de pedestre distraidamente, ou no encontro de carros num trânsito caótico.
Um amor que não seja apenas uma forma de enganar sua carência, que saiba mostrar uma imensidão de cores no olhar, que transforme, transborde, o faça cantar e leva a qualquer lugar. O verdadeiro amor não engana, não é possessivo, não é medíocre. Pode ser secreto e doer, de vez em quando. Mas é chegado um momento em que ele se revelará. Afinal, “não se represa um rio, não se engana a natureza, faça a represa que quiser, pois o rio cedo ou tarde vai arranjar um jeito de rasgar a terra, abrir um caminho, e voltar a correr em seu leito de origem", já dizia Fernando Pessoa. O amor há de chegar algum dia!

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"Se Tem automóvel, chora de "barriga cheia'. Se Fala em voz alta, vive gritando. Se Fala em tom normal, ninguém escuta. Se Não falta ao colégio, é um 'caxias'. Se Precisa faltar, é um 'turista'. Se Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos. Se Não conversa, é um desligado. Se Dá muita matéria, não tem dó do aluno. Se Dá pouca matéria, não prepara os alunos. Se Brinca com a turma, é metido a engraçado. Se Não brinca com a turma, é um chato. Se Chama a atenção, é um grosso. Se Não chama a atenção, não sabe se impor. Se A prova é longa, não dá tempo. Se A prova é curta, tira as chances do aluno. Se Escreve muito, não explica. Se Explica muito, o caderno não tem nada. Se Fala corretamente, ninguém entende. Se Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário. Se Exige, é rude. Se Elogia, é debochado. Se O aluno é reprovado, é perseguição. Se O aluno é aprovado, deu 'mole'."
 - Jô Soares

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chove


Chove sobre a areia,
sobre o teto
o tema da chuva,
os largos eles da chuva lenta,
caem sobre as páginas
de meu amor sempiterno,
o sal de cada dia,
regressa chuva a teu ninho anterior,
volta com tuas agulhas ao passado,
hoje quero o espaço branco,
o tempo de papel para um ramo
de roseira verde e de rosas douradas,
algo da infinita primavera
que hoje esperava,
quando voltou a chuva
a tocar tristemente
a janela,
depois a dançar
com fúria desmedida
sobre meu coração e sobre o teto,
reclamando,
seu lugar,
pedindo-me um cálice
para enchê-lo uma vez mais de agulhas,
de tempo transparente,
de lágrimas.

Obrigado, violinos

Obrigado, violinos, por este dia
de quatro cordas.
É puro som do céu,
a voz azul do ar.

 - Pablo Neruda

terça-feira, 25 de junho de 2013

"A vida não é feita de matéria, isso é uma ilusão que tocamos para nos enganar, a vida é feita dos pequenos átomos de sonhos que temos coragem de experimentar."
 - Caio Sóh

segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Com um coração de criança
Enfrente as preocupações do dia
Com um coração de criança
Transforme um problema em um jogo
Não precisa se preocupar, não precisa ter medo
Apenas estar vivo deixa tudo isso muito claro"

 - Composição: Henry Cosby / Sylvia Moy / Vicky Basemore
 (Interpretado por Micheal jackson

domingo, 23 de junho de 2013

Vamos pensar um pouquinho?



- Você foi ao protesto, mas tem NET gato,
- Você foi ao protesto, mas pede ao seu contador para da um jeitinho no IR;
- Você foi ao protesto, mas tem medo de uma criança negra que te pede dinheiro no sinal;
- Você foi ao protesto, mas recebe troco a mais e não devolve.
- Você foi ao protesto, mas não dá lugar para um idoso no ônibus lotado!
- Você foi ao protesto, mas sempre dá aquele "jeitinho brasileiro".

O maior protesto é com os atos da sua vida! Mudanças também começam em casa.

Se você não impactar a sociedade, com seus pequenos atos, não muito adiantará ir às ruas!

O calor do momento passará e o que você continuará fazendo?
Pense...
 -  Kamberlly Franco da Cunha

sexta-feira, 21 de junho de 2013

"Como nos contam os linguistas, um texto vai além das letras, das palavras isoladas, da construção sintática da frase, de sua composição gramatical. Um texto diz muito mais do que permite uma leitura rápida ou do que cada palavra sugere de materialidade ou significado. Para ser compreendido, solicita do leitor o preenchimento do que está ausente, do que não é explicito, do que necessita ser interpretado, relacionado e abstraído." - ECO 2004

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Fantoche




Foi pelo olhar?
No seu tocar?
Eu que quis amar?
Foi razão, felicidade
Foi tristeza e emoção
Você cantou...
E até me embalou
Sorriu...
Mostrou-se
Escondeu-se atrás da cortina
E nem me disse adeus
Você morreu?
Era só fantoche
Nem quis que fosse assim
Só ficou perfume
Melodia que nunca ouvi
Só restou saudade do que não sei se vivi

 - Dione Dias 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre a Revolta dos R$ 0,20



Realmente lamentável a batalha campal ocorrida na última noite (17/06) na cidade do Rio de Janeiro.  Esta é a oportunidade de divulgarem que os manifestantes são vândalos e agem como animais. Neste caso, os movimentos pacíficos têm as redes sociais, tecnologia, a seu favor. É muito importante diferenciar o proceder de cada grupo.  Conhecer a real motivação dos movimentos. Estamos atravessando um momento singular na História do Brasil. Manifestantes insatisfeitos com o sistema se organizam através da rede e ganham destaque no cenário mundial.

“Povo nas ruas, civilizadamente, é a tão sonhada aurora da cidadania. É a sentença contra os desmandos e a corrupção."

Jorge Bastos Moreno


Ruth de Aquino define bem este cenário em seu artigo intitulado ‘O outono da ignorância’: “Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol, Carnaval e cerveja, que só se aglomerava em show, bloco e passeata gay ou evangélica? Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer lugar do mundo. Entre os que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus. Alguma novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou Istambul.” Estamos diante de personagens, sujeitos, históricos. A mídia internacional, em alguns casos, se limita a divulgar que as manifestações são apenas por causa da Copa 2014. Mas sabemos que não é isso. Os brasileiros se sentem lisonjeados de receber um evento como esse em seu país. Sediar a Copa do Mundo não é o problema! Isso é tão verdade que observamos manifestações solidárias ao Brasil pelo mundo.  Esses jovens cidadãos são realistas, e sabem que haveria corrupção, desvio de verbas e tantas outras atrocidades administrativas, mas se cansaram de apenas observar esses ‘espetáculos’ em silêncio. E não apenas por um aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus. A Copa custou dos cofres públicos cerca de R$ 33 bilhões, as Olimpíadas R$ 26 bilhões, um valor estimado de desvio e corrupção de R$ 50 bilhões enquanto o salário mínimo do trabalhador brasileiro é R$ 678,00. Esses manifestantes não querem que sua insatisfação fique restringida apenas às rodas de conversa em bares. 



A manifestação em São Paulo ocorreu sob forte chuva

A manifestação em São Paulo ocorreu sob forte chuva
Foto: Bruno Santos/Terra



Muitos dos líderes dos movimentos reconhecem que a violência, depredação de patrimônios e ataques aos policiais de nada ajudarão. É preciso agir de forma pacífica, consciente, com diálogo. O que falta é o diálogo! Muitos se perguntam: ‘mas foi preciso esperar gastar todo esse dinheiro para se revoltar?’ A questão não é apenas o dinheiro gasto e desviado nesse processo. ‘Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos para a juventude começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos Três Poderes continua. Ninguém aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo’, destaca Ruth.

Outros dizem: ‘quem se manifesta não utiliza ônibus, muitos compraram ingressos para os jogos’. Lembrem-se, nenhum manifestante disse que é contra a Copa no Brasil. E quanto à utilização de transporte público destaco a sábia consideração do nobre Felipe Andrade ao dizer que ‘em tempos de notícias tendenciosas, simulacros de informação e argumentos forjados na medida da boca da complacente classe média’, se lembra de um importante texto de Bertold Brecht, que parece autoexplicativo e apto como resposta a quem afirme “Eles nem usam ônibus”:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht

 

Somos testemunhas de um povo que deseja mudança. E muitos são os agentes que desejam participar nela.  Estamos presenciando protestos acima de tudo sociais. Notamos que há aqueles que se aproveitam do momento para derrubar partidos e promover campanhas partidárias e violentas. Ao que tudo indica essa luta não é partidária, é pelo povo e suas necessidades. Os manifestantes não estão pedindo o impeachment da presidente. Esses movimentos destacam que não têm partido, eles tem amor ao Brasil.




segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em tempos de notícias tendenciosas, simulacros de informação e argumentos forjados na medida da boca da complacente classe média, me lembro de um importante texto de Bertold Brecht, que me parece autoexplicativo e apto como resposta a quem afirme "Eles nem usam ônibus".

INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht
 
 - Extraído da página pessoal do historiador Felipe Andrade

domingo, 16 de junho de 2013

"Eu queria ser um sujeito autêntico, mas também gosto de ser esse desacerto
Isso me divide entre ser uma balela honesta ou honradamente um equivoco idêntico a mim
Discordar de todos esses outros meus, torna-me o ninguém mais original dos diversos de mim.
O meu antes ergue bandeiras enquanto o meu hoje vai ao cinema para esquecer que esse meu eu futuro caga para o tempo que gasto com meus todos."
 - Caio Sóh

sábado, 15 de junho de 2013

"Eles pensam que a maré vai, mas nunca volta.
Até agora eles estavam comandando
meu destino e eu fui. Fui, fui recuando,
recolhendo fúrias. Hoje sou onda solta
e tão forte quanto eles me imaginam fraca.
Quando eles virem invertida a correnteza,
quero ver se eles resistem a surpresa
e quero saber como eles reagem à ressaca!"

Chico Buarque e Paulo Pontes,
peça Gota D'água

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Teu Lugar - Luis Kiari e Tais Alvarenga

A música é a melhor forma de expressar o que há dentro de nós. Está entre as artes mais influentes do mundo, se não a primeira. Abaixo uma canção de Luis Kiari, que divide um momento lindo com a talentosa Tais Alvarenga com a canção Teu Lugar. E há quem diga que a música nacional não tem qualidade. Pode uma coisa dessas?! Confira a canção aqui em Pens’Antes.



 


GASOLINA apresenta Projetor #4

"TEU LUGAR"
Composição: Luis Kiari
Video: Gabriel Garcia
Áudio: Reprodutora / Montanha Studio