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Imagem: Reprodução |
Observar as obras do
Criador pela fechadura, assim prossigo minha existência. Há alguns anos tive a
oportunidade de conhecer o mundo a partir da visão de Vitor Hugo através de sua
obra Os Miseráveis. Seus personagens me pareciam particulares, próximos. Pessoas
que lutavam por sua dignidade mudando seu comportamento diante da vida, apesar
de carregar um pesado fardo por seus erros passados e já pagos. Dia desses, ‘reconheci’
um desses personagens modernos. Já por algum tempo tenho analisado o
comportamento de Vlad (o denominarei assim). Vlad é o homem que meu imaginário
havia criado. Homem de coração nobre e que a vida não lhe foi generosa. Pai de alguns
filhos, busca no uso de entorpecentes a desconexão de todo o sofrimento vivido
e padrão de vida digno que não pode dar aos seus filhos. Mais uma vítima do
sistema. Numa dessas manhãs de caminhada ele me abordou de forma desesperadora.
Relatou suas histórias particulares de forma sincera e como se eu fosse capaz
de desembolar cada nó que vida fez, desde a sua infância feliz até o revés que
sua história sofreu ao mudar de cidade e perder todos os sonhos de criança. Nos
sentimos impotentes diante de um poder que nos é confiado e não o temos. O meu
ser interior estava desinquieto, enquanto o exterior demonstrava um controle
invejável. Quantas vezes nos obrigamos ser fortes para não enfraquecer outros!
Descobri que sou capaz de demonstrar empatia. Aliás, me colocar no lugar do
outro é o que mais me obrigo a fazer nessa minha breve existência. E isso não é
fácil! Me coloco no lugar daquele ser que me ama e não posso ser recíproco.
Imagino o quanto isso é doloroso. Mas essa é outra história. Ainda sobre Vlad,
eis um homem marcado para sofrer por toda vida. E essa profecia me parece
demasiadamente cruel. Me sinto como se estivesse sentando no trono do Criador.
Mas minha reflexão é sobre como a vida trilha caminhos diferentes para cada
ser. Na verdade, existe algo secreto em cada um. Aquela parte da história que
deixamos de contar. Senti que havia um fio solto nas falas de Vlad. Algo que
faria toda sua história fazer sentido. E acreditem, a vida tem sentido! Fazemos
parte de um grande emaranhado de fios em que tudo se conecta e conclui algum
ciclo. Vlad vive uma versão moderna de Jean Valjean. Se arrependeu de
seus erros, mas sofre com o julgamento de toda uma sociedade. A mesma sociedade
que prega o perdão e não a pratica. Por isso, muitas vezes tenho impressão que
minhas ideias não se juntam. Ao mesmo tempo que sento no trono do Criador me
retiro dele, pois nossa existência não deveria haver espaço para julgamentos. E
falando dessa forma demonstro incoerência por já estar julgando. O fato é que
não consigo ver como a história de Vlad há de ter fim. Às vezes, olhar pela
fechadura nos deixa com a pulga atrás da orelha.
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