quinta-feira, 19 de junho de 2014

O amor além da ‘utilidade’


Imagem: Reprodução


E nossa maior fobia é perder a continuidade e utilidade. Mesmo que inconscientemente, nos fazemos necessários, úteis. E fica a pergunta: Quem está ao meu lado gosta do meu ser ou da minha ‘utilidade’? Enviaram-me um vídeo dia desses, nesses grupos de amigos aos quais temos o hábito de pertencer, que debatia sobre a importância de nossa utilidade. Somos capazes de amar quem não tem ‘utilidade’? O amor –me refiro ao amor em todas as esferas de nossos relacionamentos diários - está condicionado à troca de ‘favores’? Isso soa tão feudal! O fato é que somos muitos mais medievais do que imaginamos. É como se não conseguíssemos desvincular o material do abstrato. Tão complexo! Quando pensamos a respeito começamos internamente, e espontaneamente, a alistar alguns nomes de prováveis pessoas que nos amam na inutilidade. Sabe aquele julgamento natural?! Colocamos em xeque todas as relações que conquistamos por toda nossa existência. Alguns são apagados de nossa lista mental automaticamente, outros ficam ali pairando. Shakespeare estava certo, a vida é um mistério. Os corações humanos são carceragens sombrias e de difícil acesso. Por isso, é tão difícil ter certeza do amor que nos é professado, sem considerar as experiências negativas que já vivemos – essas são culpadas por muitas de nossas frustrações. Curioso como o abstrato e material estão intrinsecamente relacionados, por mais que não reconheçamos. E o tempo se encarrega de responder muitas de nossas perguntas. A veracidade de um amor é uma delas. Como bem sabemos, e reconhecemos, nada em nossa passagem por esse sistema é eterno. Um dia nossas forças diminuirão, nossa ‘utilidade’ não será a mesma de tempos atrás e será o tempo de comprovar o amor verdadeiro. Quando não sobra mais nada material – ou grande parte dele fica no passado – o abstrato permanecerá. Sim! O que era inseparável dissolverá, se for verdadeiro. E nós reconheceremos. Enquanto isso não acontece o tempo passará moroso, como que tentando nos desafiar, nos treinando a paciência. O que resta é apostar nossas fichas. Relacionar na esperança de que tudo seja sincero. E que também estejamos amando além da ‘utilidade’. Sendo mais que meros personagens feudais da modernidade.

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