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Imagem: Reprodução |
E nossa maior fobia é perder a continuidade e utilidade. Mesmo que
inconscientemente, nos fazemos necessários, úteis. E fica a pergunta: Quem está
ao meu lado gosta do meu ser ou da minha ‘utilidade’? Enviaram-me um vídeo dia
desses, nesses grupos de amigos aos quais temos o hábito de pertencer, que
debatia sobre a importância de nossa utilidade. Somos capazes de amar quem não
tem ‘utilidade’? O amor –me refiro ao amor em todas as esferas de nossos
relacionamentos diários - está condicionado à troca de ‘favores’? Isso soa tão
feudal! O fato é que somos muitos mais medievais do que imaginamos. É como se
não conseguíssemos desvincular o material do abstrato. Tão complexo! Quando
pensamos a respeito começamos internamente, e espontaneamente, a alistar alguns
nomes de prováveis pessoas que nos amam na inutilidade. Sabe aquele julgamento
natural?! Colocamos em xeque todas as relações que conquistamos por toda nossa existência.
Alguns são apagados de nossa lista mental automaticamente, outros ficam ali
pairando. Shakespeare estava certo, a vida é um mistério. Os corações humanos
são carceragens sombrias e de difícil acesso. Por isso, é tão difícil ter
certeza do amor que nos é professado, sem considerar as experiências negativas
que já vivemos – essas são culpadas por muitas de nossas frustrações. Curioso
como o abstrato e material estão intrinsecamente relacionados, por mais que não
reconheçamos. E o tempo se encarrega de responder muitas de nossas perguntas. A
veracidade de um amor é uma delas. Como bem sabemos, e reconhecemos, nada em
nossa passagem por esse sistema é eterno. Um dia nossas forças diminuirão,
nossa ‘utilidade’ não será a mesma de tempos atrás e será o tempo de comprovar
o amor verdadeiro. Quando não sobra mais nada material – ou grande parte dele
fica no passado – o abstrato permanecerá. Sim! O que era inseparável
dissolverá, se for verdadeiro. E nós reconheceremos. Enquanto isso não acontece
o tempo passará moroso, como que tentando nos desafiar, nos treinando a paciência.
O que resta é apostar nossas fichas. Relacionar na esperança de que tudo seja
sincero. E que também estejamos amando além da ‘utilidade’. Sendo mais que
meros personagens feudais da modernidade.
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