quinta-feira, 1 de maio de 2014

“Mata-me depressa, pois já matas-te a minha ilusão...”



A cada vez que assisto PÉ NA COVA de Miguel Falabella, não é só o riso que me pega. É o que está por trás, desde a escrita a várias mãos, a direção requintada de Cininha e o apelo bom àquilo que o subúrbio tem de melhor: a vizinhança e seu entorno. Um entorno interpretado por gente que sabe fazer, e entendeu o espírito da coisa.
Quem nunca passou por clichês “pinimbados”, ou precisou - ainda que numa situação hesitante – de um vizinho? Uma xícara de café? Um ovo? Uma extensão ou um xarope pra tosse?
Nossos pés estão na cova por essa falta de delicadeza pra com o outro. Pela falta de sensibilidade pra superar preconceitos. Pela falta de ouvidos pra escutar seja causos ou lorotas, mas, que preenchem a vida de quem está ali, na sua frente relatando-os. E nem que seja uma vogal há de bater diferente lá no íntimo de quem ouve.
É como se a TV Globo por intermédio desses artistas todos expusesse feridas do cotidiano brasileiro que a própria mídia (incluindo ela) insiste em não mostrar. Ainda mais agora, que somos o país da Copa quando temos que valorizar menos o “pão com ovo” ou o “bife com batatas fritas” a “dei real”, pra comer a mesma coisa pagando “quarenta” pra ainda que no pseudo prato achar que se está fora do subúrbio. Fora do que somos nós.
O Brasil é suburbano... “Suburbano Coração”, como escreveu Naum, que me veio à mente no episódio de hoje com título cantado lindamente por Núbia Lafayette (aliás, as trilhas do programa são deliciosas e coerentes sempre). O que vi me levou à peça protagonizada por Lovemar, e suas loucuras por amor. Todos frustrados. A desilusão pela ilusão!
O amor ilude sim. Os sentimentos fortes – todos eles – que arrepiam e que arrebatam, que nos fazem chorar, são ilusórios. Em quase todo o seu tempo de existência. Mas, sem eles o que seria de nós? Seres já, lá dentro da cova, que nem precisariam ser “mortos depressa” porque a secura do coração já o teria feito antes.
Se a ilusão então é o engano dos sentidos, os olhos lacrimejantes de Rubens Araújo (Floriano) no episódio de hoje, vendo e revendo internamente uma serenata ao luar pra alguém que nem ali estava (Marília Pera), é a maior prova de que devaneios podem se tornar reais e nos encher de vontade de vida. Que eu, particularmente, acho que é o mote do programa.

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