sexta-feira, 16 de maio de 2014

HOMUSDIGITUS

HOMUSDIGITUS

     Dia destes entrei num elevador. Tinha 4 pessoas. Todas digitando o celular. Em seguida,  entro no estúdio e vejo 3 colegas na mesma posição. No metrô não é muito diferente. Cada vez tem mais pessoas com o celular na mão.
    
 Eu ainda resisto um pouco. O aplicativo mais avançado do meu celular se chama Bina.  Tento não me deixar levar, porque desconfio que andar freneticamente  pendurado ao celular possa  ser neurotizante  e além disso,  já navego bastante.   

Vejo que todo mundo se queixa da velocidade do tempo e acho que isto é causado principalmente por esta tecnologia que me parece nos fazer querer ocupar todos os segundos do dia. Então não se suporta ficar apenas sentado num banco de metrô, ou numa praça. Tira-se o celular do bolso, (da bolsa muito mais, pois as mulheres são mais adeptas) e vá teclar.  As mulheres se utilizam, também, do celular na via pública para fugirem de olhares e cantadas. É uma forma de ficarem alheias ao que gira em volta e assim, sentirem-se mais seguras.

Voltando ao assunto, acho que queremos, cada vez mais, a resposta rápida. Quando clicamos e não abre imediatamente ficamos irritados. Não temos mais paciência nem com as máquinas mais velozes. Não conseguimos ler uma página de um livro sem perder a concentração. Para se ler é preciso paciência. Já não a temos.   

     Tenho pensado numa maneira de dar uma freada no tempo, já que ando descobrindo que  tempo é ouro. Achar uma forma de desacelerar, diminuir este ritmo vertiginoso. 

Na semana que passou,  fui assistir a uma peça e a atriz deu o seguinte aviso: “óh, to de olho em vocês!!! Se estiverem digitando, a cara de vocês vai ficar iluminada!!!”  é isso mesmo. As pessoas deixam no silencioso, mas não conseguem ficar sem teclar. Cinema, teatro, show. Teclar, fotografar, colocar na rede, no grande campeonato de felicidades que é a rede, para que todos saibam, para que todos vejam. 

 Andei observando também um casal num  restaurante, (tá, eu sou fofoqueiro)  um de frente pro outro, com iphones gigantescos, digitando ferozes até o momento em que ele parou com aquilo e colocou a mão na frente do visor do celular da mulher, com delicadeza, mas interrompendo a função dela. Ela concordou em parar, mas a cara de desagrado foi fulminante.  15 minutos depois já estavam os dois possuídos novamente pela teclagem. 

Desconfio de que esta parada esteja esquisita.  Desconfio, mas não tenho certeza. Isto tudo pode ser também o começo de um caminho para uma nova forma. Um novo ser. O ser que nos tornaremos.

 Pode ser que, num futuro talvez não muito distante, o homenzinho das placas de trânsito  venha a  ser simbolizado por uma figura humana  em pose de digitação celulárica.

Fernando Corona




















Dia destes entrei num elevador. Tinha 4 pessoas. Todas digitando o celular. Em seguida, entro no estúdio e vejo 3 colegas na mesma posição. No metrô não é muito diferente. Cada vez tem mais pessoas com o celular na mão.

Eu ainda resisto um pouco. O aplicativo mais avançado do meu celular se chama 'Bina'. Tento não me deixar levar, porque desconfio que andar freneticamente pendurado ao celular possa ser 'neurotizante' e além disso, já navego bastante.

Vejo que todo mundo se queixa da velocidade do tempo e acho que isto é causado principalmente por esta tecnologia que me parece nos fazer querer ocupar todos os segundos do dia. Então não se suporta ficar apenas sentado num banco de metrô, ou numa praça. Tira-se o celular do bolso, (da bolsa muito mais, pois as mulheres são mais adeptas) e vá teclar. As mulheres se utilizam, também, do celular na via pública para fugirem de olhares e cantadas. É uma forma de ficarem alheias ao que gira em volta e assim, sentirem-se mais seguras.

Voltando ao assunto, acho que queremos, cada vez mais, a resposta rápida. Quando clicamos e não abre imediatamente ficamos irritados. Não temos mais paciência nem com as máquinas mais velozes. Não conseguimos ler uma página de um livro sem perder a concentração. Para se ler é preciso paciência. Já não a temos.

Tenho pensado numa maneira de dar uma freada no tempo, já que ando descobrindo que tempo é ouro. Achar uma forma de desacelerar, diminuir este ritmo vertiginoso.

Na semana que passou, fui assistir a uma peça e a atriz deu o seguinte aviso: “óh, to de olho em vocês!!! Se estiverem digitando, a cara de vocês vai ficar iluminada!!!” é isso mesmo. As pessoas deixam no silencioso, mas não conseguem ficar sem teclar. Cinema, teatro, show. Teclar, fotografar, colocar na rede, no grande campeonato de felicidades que é a rede, para que todos saibam, para que todos vejam.

Andei observando também um casal num restaurante, (tá, eu sou fofoqueiro) um de frente pro outro, com IPhones gigantescos, digitando ferozes até o momento em que ele parou com aquilo e colocou a mão na frente do visor do celular da mulher, com delicadeza, mas interrompendo a função dela. Ela concordou em parar, mas a cara de desagrado foi fulminante. 15 minutos depois já estavam os dois possuídos novamente pela 'teclagem'.

Desconfio de que esta parada esteja esquisita. Desconfio, mas não tenho certeza. Isto tudo pode ser também o começo de um caminho para uma nova forma. Um novo ser. O ser que nos tornaremos.

Pode ser que, num futuro talvez não muito distante, o homenzinho das placas de trânsito venha a ser simbolizado por uma figura humana em pose de digitação 'celulárica'.

Fernando Corona

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