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O mundo está dividido em diversos tipos de pessoas: as que gostam
mais do mar, as que preferem campo. As que esperam o inverno, as que
aguardam com afinco o verão.
E existem também as que ficam e as que vão.
Não é fácil ser do tipo que fica, nem do tipo que vai. Por vezes,
quem fica sente vontade de ir, já quem vai, sente uma imensa vontade de
ficar. É difícil entender que não há possibilidade de ter asas e raízes
ao mesmo tempo, ou então jogar a âncora na areia e içar velas. Você faz
ou um ou outro. Algumas raras pessoas conseguem mudar, afinal estamos em
eterna mudança, mas é difícil aquietar algo que já vem dentro da gente.
Aqueles que ficam sentem-se bem assim, e abandonar – pessoas, lares,
cidades, lembranças, é algo muito difícil. Quando a vida os incita a ir,
eles preferem continuar ali. Por vezes, são chamados de acomodados –
anos no mesmo emprego, anos com a mesma pessoa, nunca deixou sua cidade.
E a vida, e o mundo? Esses questionamentos podem mexer com eles, atiçar
algo em seus corações, mas quando olham a sua volta, apenas entendem.
Podem ir, desde que a condição seja voltar, rapidamente. Eles querem
ficar.
Ah, as pessoas que vão… Deixem-nas ir. Não significa que elas não
amem, não sintam saudades, não se importem – apenas o coração delas é
grande demais, e elas precisam sempre estar em expansão. Quando
enclausuradas, sofrem muito. Não cabem em escritórios, não cabem em
ternos, não cabem em si – movimento é a palavra de suas vidas. Alguns
acham que esse tipo de pessoa é indecisa, inquieta e até frustrada, pois
parecem estar sempre em busca de respostas. Não. Na verdade, pessoas
que vão não se importam tanto com as respostas – seu combustível é feito
pelas perguntas. Questionam o tempo todo, pensam o tempo todo, observam
o tempo todo. Encantam-se pela quantidade de maravilhas que o mundo
pode oferecer, seja em uma cidade da moda como Paris ou num boteco
abandonado de esquina.
Acontece, por vezes, de pessoas que ficam se apaixonarem por pessoas
que vão. Daí a vontade de içar e ancorar, criar raízes e voar, correr e
ficar parado. Eu poderia aqui escrever conselhos, poderia dizer fica,
vai, espera, aceita. Mas nada posso dizer. O amor é movimento, energia, é
vida pulsando dentro e fora de nós, e exatamente por isso é muito
pessoal. A única coisa que me arrisco em falar é: Sinta. Se permita.
Amplie o sentimento, não guarde para si. E aceite o tipo de pessoa que o
outro é também. “É difícil aprisionar os que tem asas”, disse o poeta.
Também é difícil arrancar os que são feitos de raízes.
publicado originalmente aqui.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/coffee_is_my_boyfriend/2014/12/sobre-raizes-e-asas.html#ixzz3OWSh2Isv
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