terça-feira, 21 de outubro de 2014

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Fabrício Carpinejar





Imagem: Reprodução
 



Ninguém vê televisão e todo mundo vê televisão.

Ninguém vê novela e todo mundo vê novela.

Se pego um amigo acompanhando Império, ele explica:

- Nunca assisto, é que estava trocando de canal.

Estranho que a troca de canal demora todo o capítulo. Estranho que ele conhece o nome de todas as personagens.

Minha mãe nunca assiste à novela e sempre está assistindo às novelas. Diz que é para esperar o Jornal Nacional. Faz isso há mais de trinta anos e não assume. Fica braba quando digo que ele não perde uma novela.

Se eu apareço no Jô Soares, as pessoas logo justificam:

- Nunca assisto, mas deu sorte.

Se eu apareço na Ana Maria Braga, amigos já se desculpam:

- Não tenho o costume de acompanhar, estava passando os olhos e fiquei te vendo.

Incrível como todo mundo vê televisão e sempre alega que foi um acidente ou uma exceção. Há um medo de aceitar a própria vontade, de se declarar fã de programas populares.

É uma mania metida a besta.

Saudade da sinceridade do escritor Caio Fernando Abreu, que era um grande intelectual e afirmava descaradamente que adorava novela, não perdia uma cena e mandava carta para os roteiristas para sugerir um final feliz.

 


Ouça o comentário na manhã de terça-feira (21/10) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina.

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