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Imagem: Reprodução |
Alguns
amores modernos me assustam. Esses amores efêmeros, frágeis,
superficiais. Esses amores que destoam assombrosamente do que um dia já
pudemos, com todas as letras e toda a certeza, chamar de amor.
Somos a geração das selfies, do beijinho no ombro, do rei do
camarote, do “promova o desapego”. A geração do egocentrismo cego. É
tanta mediocridade que o amor genuíno arrumou suas trouxas e foi-se
embora.
A verdade é que vivemos relações descartáveis. E se num dia o amor
parece transbordar pelos poros, converte-se, vertiginosamente, em ódio
ou desprezo, no momento em que a atração termina ou surge uma mínima
mágoa.
Ninguém ama o outro depois que a relação deixa de ser conveniente.
Pior do que isso, alguns não conseguem expressar sequer a mínima
humanidade em relação àquele que julgou amar um dia. Ninguém quer que o
outro seja feliz em outros braços – alguns preferem, aliás, vê-lo
mendigando afeto, chorando de saudade, lamentando o fim da relação. O
egocentrismo grita alto e ordena que, se o outro consegue superar o fim
do relacionamento, devemos nos sentir diminuídos. Que desejar a
felicidade do outro é incompatível com buscar a nossa própria
felicidade. O egocentrismo cego nos diz que temos que mostrar que não
nos importamos, que somos felizes e desapegados. Que temos que sorrir
cada lágrima do ex.
Nesse oceano de modernidade, é bom lembrar que não são os amores não
duráveis que me assombram; compreendo que a cada um assiste o direito de
trocar de parceiro como quem troca de roupa, se isto lhe faz feliz. O
que me assombra é a capacidade humana de converter amor em ódio, o bem
querer em desprezo, o apego em maldizer. É a velocidade com que fotos
românticas são substituídas por indiretas ácidas, e declarações de amor
por palavras amargas e cheias de mágoa.
Temo que a geração do egocentrismo já não saiba amar nada além de si
mesma. Temo que tenhamos desaprendido a, simplesmente, querer bem. A
manter o respeito pelo outro quando o próprio amor já não existe. Temo
que ninguém mais consiga elevar seu espírito de tal modo que o desapego
passe a ser uma consequência, e não uma busca implacável, uma mentira
deslavada que contamos para nós mesmos.
E que sejamos nobres o suficiente para querer bem ao outro sem que
precisemos esfregar a nossa felicidade na cara de ninguém. Que cada um
compreenda que estar de bem com a gente mesmo é o que importa, no fim
das contas, e que querer ver o fiasco daquele que um dia já nos fez
feliz não é exatamente uma atitude madura. Pior do que isso: é
mesquinho. E que o fato de amarmos – no sentido humano da palavra – a
quem nos fez sofrer por um instante não significa que não amamos a nós
mesmos. Às vezes, pode significar justamente o contrário:Por que só
distribuímos o que temos de sobra. E que um dia se possa compreender que
o amor genuíno nunca deixa de existir: ele só muda de forma.
Sobre Nathalí Macedo
Atriz por vocação, escritora por amor e feminista em tempo integral. Adora rir de si mesma e costuma se dar ao luxo de passar os domingos de pijama vendo desenho animado. Apesar de tirar fotos olhando por cima do ombro, garante que é a simplicidade em pessoa. No mais, nunca foi santa. Escreve sobre tudo em: facebook.com/escritosnathalimacedoFonte: Entenda Os Homens
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