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Imagem: Reprodução |
Conversa com Paulinha Inhotim. Uma mulher linda – que só namora com feios.
Maria Paula é linda de marré, marré, marré. Por isso recebeu o
apelido de Paulinha Inhotim. Sim, ela é mais bonita que o parque
mineiro. Loura, um sorriso de 88 teclas, praticante assídua de Pilates,
Ioga, Caratê e Dança do Ventre. Quando ela sorri, Deus toca “Love is a
Many-Splendored Thing”. E jornalista, escreve melhor que Susan Sontag.
Ou seja: se houvesse mesmo uma política séria de controle de armas no
Brasil, ela teria que andar com porte de Paulinha na bolsa.
Então Paulinha Inhotim é linda. E só namora com feio. Ela mesmo faz
questão de divulgar, com orgulho: o rosto do meu namorado atual parece
Marte. Um dia, Paulinha Inhotim estava dando sopa no bar, eu sentei do
lado dela – credenciado pelo fato dela conversar com feios. Quis
entender a preferência.
Primeiro, acho importante definir o “feio”. Há montes e montes de
pensadores que discutiram o assunto. Platão passou a vida tentando
precisar o belo, pra em oposição saber o que é feio. Aristóteles foi
outro. Nietzsche achava que o feio era o declínio do bonito, portanto
todos seremos medonhos na hora da morte. Pra Marx, não existia o feio –
porque se o sujeito tem dinheiro, ele fica lindo. Umberto Eco resolveu
razoavelmente bem: se o belo é o consagrado, o aceito por todos, então o
feio é aquilo que todo mundo desaprova. Aí, pronto. Se tem a ver com
aprovação, com o botão curtir do Facebook, eu consigo me defender numa
conversa.
Então sentei do lado da Paulinha. Puxei logo o assunto. Ela me tratou
com atenção. Ficou orgulhosa quando eu disse que o namorado dela é
feio. Não levou como ofensa, pelo contrário. E me explicou o que os
feios têm.
Pra começar, o homem bonito só fala dele. Está tão acostumado ao
aplauso geral que acha que é sempre o principal assunto do mundo. O
feio, não. O feio parte da crítica negativa, escuta – e aí se vira pra
inverter a situação.
O feio se reinventa, muda o jogo. Quem cresce acostumado com a
rejeição não pára na primeira recusa. E, ao insistir, dá valor à mulher.
Mas como insistir pode ser um troço chato, o feio se prepara. Estuda
pra pensar uma tática sedutora. A moça gosta de poema? O feio decora
Drummond (enquanto o bonito se acha a própria poesia).
O mal-diagramado investe em outras atividades, diversifica para
distrair a atenção do rosto. Ésopo, o das histórias, era mais feio que a
fome. Alguém lembra que ele era caolho, corcunda e provavelmente
corinthiano (porque grego)? Não: as pessoas só falam da “A Cigarra e a
Formiga”. Logo, hoje, Ésopo é lindo como uma fábula. A vida o absolveu.
Mas o principal do feio, segundo Paulinha Inhotim, é a coragem. A
maioria dos homens não tem a bravura necessária para conversar com ela. O
atual namorado da Paulinha não só puxou papo, como também convidou pra
sair e – suprema macheza – deu o bote. Confiança, desde que não vire
soberba, agrada. A mulher se sente protegida, a esposa de um lutador de
MMA. E a fama que o feio traz ? Paulinha entra com o namorado num
restaurante e todo mundo olha pra ela, perguntando com os olhos: o que
este cara tem ? E as hipóteses vão da inteligência superior à
centrimetragem heroica.
O feio é vira-lata: se defende nas ruas. Se precisar, revira o lixo
para alimentar a amada. Quer nobreza maior que essa ? – perguntava
Paulinha, segura e bem nutrida, antes de pedir mais um drinque.
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