segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sincericídio


The_Kiss,_1907-08.gif
Imagem: Reprodução
Em tempos de amores líquidos, ataques sincericidas ou kamikaze love me tender.Há algum tempo, com algumas pessoas específicas, o termo "sincericídio" tem sido usado no sentido de que, em meio aos limites legais do que é crime em nossa sociedade, e o que foge da seara dessas frágeis arestas da legalidade, tem-se o marginalizado sentimento que, na maioria dos casos, predomina em qualquer tipo de ação, legal ou ilegal.
A tipificação do que, corriqueiramente, permeia o vocabulário e a mídia da legalidade, em sua margem, na qual encontramos as emoções, e assim como tudo que faz parte das relações, desde os tempos atávicos, os sentimentos desenfrados não escapam à responsabilização. Responsabilização que gera uma consequência difícil de suportar quando o limite da condenação por determinada emoção e sua ação, é o lidar consigo, propriamente, e sua parcela social. O sincericídio nada mais é que dar, gratuitamente, sua parcela sentimental de forma que o outro, psicanaliticamente, falando, o outro possa manejar e entender da forma pretendida, por si próprio, o que fazer com essas emoções, geralmente, atiradas em forma de palavras contra quem atingido e seu espaço social. Muitas vezes, os respingos molham desavisadas vítimas.
Quem comete o sincericídio em tempos de relações líquidas que evaporam noir é considerado análogo a um terrorista, mas em específico ao sentimento, um terrorista afetivo. O terrorismo é datado desde a Antiguidade. Os franceses utilizam muito a palavra "horror" para contar sua história. O sentimento causado por um terrorista é a ansiedade. Quando o domínio da palavra passa a ser do outro, o que ela vai sofrer em termos de entendimento e afetação, muitas vezes, com a dificuldade de comunicação com tantas opções de formas de expressão, vai ser o julgamento ou o jogamento no lixo das emoções. O outro ao não corresponder, não responder, não ser afetado pelas palavras serve como um aparato flexível, um boomerang que não absorverá o impacto e a palavra voltará de forma tão veloz e de intensidade equivalentes que o maior atingido será seu próprio parlante.
Muitas pessoas sofrem de sincerícidio. Elas não conseguem se neutralizar na modernidade dos afetos e saem armadas de palavras. Ao avistarem um possível e, muitas vezes, não correspondido, alvo para sua pontaria, atiram. Entre mortos e feridos, o saldo pode ser avaliado como o mais do mais de si mesmo.
Terrorista kamikaze (palavras ao vento é um clichê indispensável) love me tender é um novo termo específico para quem munido de palavras, não desiste de se afetar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário