domingo, 30 de junho de 2013

por Pedro Barnez Pignata Cattai

"Shakespeare – Hamlet – diria: estar pronto é tudo. ‘Estar pronto’ se parece com ‘estar preparado’, mas há uma sutil e decisiva diferença que tornam inimigas as duas fórmulas: ‘estar preparado’ nos exige ensaio, uma condição prévia; ‘estar pronto’ nos situa já no mundo, queiramos ou não, estejamos ou não preparados. E, no final das contas, ‘estar pronto’ é uma ação muito mais bela e licenciosa, livre, porque nos condiciona ao que podemos, não ao que deveríamos. Não se trata, pois, de um ressentido aprendizado da resignação: antes, ou situado um tanto lateralmente, seria como obter o movimento da vida na exata medida em que, entregando-se a ela, nela se imprima o que de si vibra: um tom, um estilo, uma cor... Em outras palavras, conforme nos ensina Spinoza, viver de acordo com o que seu corpo pode, estar sempre se ajustando na sua capacidade de ser afetado. Talvez Rosa repetisse: "A vida da gente faz sete voltas – se diz. A vida nem é da gente..." Pois é, a vida da gente é dos acontecimentos e de como nos dignamos a eles: seguramos o chapéu e acenamos de volta, talvez gentis, talvez contrários a eles, talvez gratos, talvez deles precisando fugir."

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