Realmente lamentável a batalha campal ocorrida na última noite (17/06) na
cidade do Rio de Janeiro. Esta é a
oportunidade de divulgarem que os manifestantes são vândalos e agem como
animais. Neste caso, os movimentos pacíficos têm as redes sociais, tecnologia,
a seu favor. É muito importante diferenciar o proceder de cada grupo. Conhecer a real motivação dos movimentos. Estamos
atravessando um momento singular na História do Brasil. Manifestantes insatisfeitos
com o sistema se organizam através da rede e ganham destaque no cenário
mundial.
“Povo nas
ruas, civilizadamente, é a tão sonhada aurora da cidadania. É a sentença contra
os desmandos e a corrupção."
Jorge Bastos
Moreno
Ruth de Aquino define bem este
cenário em seu artigo intitulado ‘O outono da ignorância’: “Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram
passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol,
Carnaval e cerveja, que só se aglomerava em show, bloco e passeata gay ou
evangélica? Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou
multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer lugar do mundo. Entre os
que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e
xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus. Alguma
novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou
Istambul.” Estamos diante de personagens, sujeitos, históricos. A mídia
internacional, em alguns casos, se limita a divulgar que as manifestações são
apenas por causa da Copa 2014. Mas sabemos que não é isso. Os brasileiros se
sentem lisonjeados de receber um evento como esse em seu país. Sediar a Copa do
Mundo não é o problema! Isso é tão verdade que observamos manifestações
solidárias ao Brasil pelo mundo. Esses
jovens cidadãos são realistas, e sabem que haveria corrupção, desvio de verbas
e tantas outras atrocidades administrativas, mas se cansaram de apenas observar
esses ‘espetáculos’ em silêncio. E não apenas por um aumento de R$ 0,20 nas
passagens de ônibus. A Copa custou dos cofres públicos cerca de R$ 33 bilhões,
as Olimpíadas R$ 26 bilhões, um valor estimado de desvio e corrupção de R$ 50
bilhões enquanto o salário mínimo do trabalhador brasileiro é R$ 678,00. Esses
manifestantes não querem que sua insatisfação fique restringida apenas às rodas
de conversa em bares.

A
manifestação em São Paulo ocorreu sob forte chuva
Foto: Bruno Santos/Terra
Foto: Bruno Santos/Terra
Muitos dos líderes dos movimentos reconhecem que a violência, depredação de patrimônios e ataques aos policiais de nada
ajudarão. É preciso agir de forma pacífica, consciente, com diálogo. O
que falta é o diálogo! Muitos se
perguntam: ‘mas foi preciso esperar gastar todo esse dinheiro para se revoltar?’
A questão não é apenas o dinheiro gasto e desviado nesse processo. ‘Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não
revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos
para a juventude começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor
vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos
Três Poderes continua. Ninguém aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário
continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo’, destaca
Ruth.
Outros dizem: ‘quem se manifesta não utiliza ônibus, muitos compraram
ingressos para os jogos’. Lembrem-se, nenhum manifestante disse que é contra a
Copa no Brasil. E quanto à utilização de transporte público destaco a sábia
consideração do nobre Felipe Andrade ao dizer que ‘em tempos de notícias tendenciosas,
simulacros de informação e argumentos forjados na medida da boca da complacente
classe média’, se lembra de um importante texto de Bertold Brecht, que parece
autoexplicativo e apto como resposta a quem afirme “Eles nem usam ônibus”:
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