terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre a Revolta dos R$ 0,20



Realmente lamentável a batalha campal ocorrida na última noite (17/06) na cidade do Rio de Janeiro.  Esta é a oportunidade de divulgarem que os manifestantes são vândalos e agem como animais. Neste caso, os movimentos pacíficos têm as redes sociais, tecnologia, a seu favor. É muito importante diferenciar o proceder de cada grupo.  Conhecer a real motivação dos movimentos. Estamos atravessando um momento singular na História do Brasil. Manifestantes insatisfeitos com o sistema se organizam através da rede e ganham destaque no cenário mundial.

“Povo nas ruas, civilizadamente, é a tão sonhada aurora da cidadania. É a sentença contra os desmandos e a corrupção."

Jorge Bastos Moreno


Ruth de Aquino define bem este cenário em seu artigo intitulado ‘O outono da ignorância’: “Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol, Carnaval e cerveja, que só se aglomerava em show, bloco e passeata gay ou evangélica? Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer lugar do mundo. Entre os que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus. Alguma novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou Istambul.” Estamos diante de personagens, sujeitos, históricos. A mídia internacional, em alguns casos, se limita a divulgar que as manifestações são apenas por causa da Copa 2014. Mas sabemos que não é isso. Os brasileiros se sentem lisonjeados de receber um evento como esse em seu país. Sediar a Copa do Mundo não é o problema! Isso é tão verdade que observamos manifestações solidárias ao Brasil pelo mundo.  Esses jovens cidadãos são realistas, e sabem que haveria corrupção, desvio de verbas e tantas outras atrocidades administrativas, mas se cansaram de apenas observar esses ‘espetáculos’ em silêncio. E não apenas por um aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus. A Copa custou dos cofres públicos cerca de R$ 33 bilhões, as Olimpíadas R$ 26 bilhões, um valor estimado de desvio e corrupção de R$ 50 bilhões enquanto o salário mínimo do trabalhador brasileiro é R$ 678,00. Esses manifestantes não querem que sua insatisfação fique restringida apenas às rodas de conversa em bares. 



A manifestação em São Paulo ocorreu sob forte chuva

A manifestação em São Paulo ocorreu sob forte chuva
Foto: Bruno Santos/Terra



Muitos dos líderes dos movimentos reconhecem que a violência, depredação de patrimônios e ataques aos policiais de nada ajudarão. É preciso agir de forma pacífica, consciente, com diálogo. O que falta é o diálogo! Muitos se perguntam: ‘mas foi preciso esperar gastar todo esse dinheiro para se revoltar?’ A questão não é apenas o dinheiro gasto e desviado nesse processo. ‘Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos para a juventude começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos Três Poderes continua. Ninguém aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo’, destaca Ruth.

Outros dizem: ‘quem se manifesta não utiliza ônibus, muitos compraram ingressos para os jogos’. Lembrem-se, nenhum manifestante disse que é contra a Copa no Brasil. E quanto à utilização de transporte público destaco a sábia consideração do nobre Felipe Andrade ao dizer que ‘em tempos de notícias tendenciosas, simulacros de informação e argumentos forjados na medida da boca da complacente classe média’, se lembra de um importante texto de Bertold Brecht, que parece autoexplicativo e apto como resposta a quem afirme “Eles nem usam ônibus”:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht

 

Somos testemunhas de um povo que deseja mudança. E muitos são os agentes que desejam participar nela.  Estamos presenciando protestos acima de tudo sociais. Notamos que há aqueles que se aproveitam do momento para derrubar partidos e promover campanhas partidárias e violentas. Ao que tudo indica essa luta não é partidária, é pelo povo e suas necessidades. Os manifestantes não estão pedindo o impeachment da presidente. Esses movimentos destacam que não têm partido, eles tem amor ao Brasil.




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