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Arte de Juan Sánchez-Cotán |
Fabrício Carpinejar
E quando você descobre que seu pai é racista, o que fazer?
Quando você percebe que seu pai acha absolutamente normal chamar alguém de macaco, que seu pai acredita que negro é preto, que é absolutamente contra cotas, onde colocar seu desespero?
Aquele pai amoroso, afetivo, preocupado, atento, dedicado, que trabalhou o tempo inteiro para que pudesse viver bem, tem um outro por dentro e é um outro por fora.
Qual o desencantamento quando você entende que ele é seu pai biológico, mas não é seu pai ideológico, muito menos seu pai espiritual, que não concorda com nenhuma de suas convicções sociais?
Ele é uma aberração para a sociedade resmungando daquele jeito no almoço. Não difere de um nazista defendendo a discriminação enquanto procura retirar com os dentes a carne do osso da costela.
Não usa guardanapo para falar, assim como usa para comer.
Eu não imagino o quanto o filho deve sofrer. Não é somente decepção, é uma humilhação interminável.
Pela distância de geração, não tem como convencê-lo. Ele se considera pai e superior, ele se considera pai e sábio, ele se considera velho e esclarecido. Grita e gesticula suas verdades equivocadas como se fossem naturais.
Espera que obedeça e concorde, mas é impossível ser indiferente.
Você apenas não consegue encaixar aquele pai educado e gentil com aquele pai preconceituoso e criminoso.
Mas são a mesma pessoa. A mesma gente.
Você tem amigos negros, já teve namoradas negras, o preconceito dói em si como se arrancasse sua pele, e seu pai encarna o que mais abomina: o ódio burro, a raiva escravocrata.
Como continuar sendo seu filho? Como cortar o cordão umbilical do abraço?
Não sei a resposta. Não sei o que dizer.
É um desencanto maior do que a morte.
Como separar os momentos felizes paternos das palavras coléricas e espantosamente injustas contra toda uma cultura?
Como falar depois disso que seu pai é ótimo, é sensível, é perfeito? Como escrever cartões elogiando sua emoção?
[...]
Quando você percebe que seu pai acha absolutamente normal chamar alguém de macaco, que seu pai acredita que negro é preto, que é absolutamente contra cotas, onde colocar seu desespero?
Aquele pai amoroso, afetivo, preocupado, atento, dedicado, que trabalhou o tempo inteiro para que pudesse viver bem, tem um outro por dentro e é um outro por fora.
Qual o desencantamento quando você entende que ele é seu pai biológico, mas não é seu pai ideológico, muito menos seu pai espiritual, que não concorda com nenhuma de suas convicções sociais?
Ele é uma aberração para a sociedade resmungando daquele jeito no almoço. Não difere de um nazista defendendo a discriminação enquanto procura retirar com os dentes a carne do osso da costela.
Não usa guardanapo para falar, assim como usa para comer.
Eu não imagino o quanto o filho deve sofrer. Não é somente decepção, é uma humilhação interminável.
Pela distância de geração, não tem como convencê-lo. Ele se considera pai e superior, ele se considera pai e sábio, ele se considera velho e esclarecido. Grita e gesticula suas verdades equivocadas como se fossem naturais.
Espera que obedeça e concorde, mas é impossível ser indiferente.
Você apenas não consegue encaixar aquele pai educado e gentil com aquele pai preconceituoso e criminoso.
Mas são a mesma pessoa. A mesma gente.
Você tem amigos negros, já teve namoradas negras, o preconceito dói em si como se arrancasse sua pele, e seu pai encarna o que mais abomina: o ódio burro, a raiva escravocrata.
Como continuar sendo seu filho? Como cortar o cordão umbilical do abraço?
Não sei a resposta. Não sei o que dizer.
É um desencanto maior do que a morte.
Como separar os momentos felizes paternos das palavras coléricas e espantosamente injustas contra toda uma cultura?
Como falar depois disso que seu pai é ótimo, é sensível, é perfeito? Como escrever cartões elogiando sua emoção?
[...]
É tão comum testemunhar filhos que amam seus pais, mas que não tem como amar o que seus pais acreditam. O que fazer? Como prantear essa distância filial? Como enterrar a admiração pelas pessoas mais importantes de sua vida?
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