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Imagem: Reprodução |
E ressurgiu feito uma fênix em minha memória. O
sorriso leve, generoso, humilde, singelo e inocente. O olhar límpido,
cristalino. E a presença diáfana. Sorri espontaneamente e sem motivo para os
que me rodeavam e jamais poderiam imaginar o que meus olhos foram ordenados a
visualizar pela imaginação. Veio o cheiro. Coisa mais estranha! Parecia que
havia me enviado um recado pelos ares da cidade, sem compromisso com o tempo de
entrega, mas com grande carga de sentimento. É sempre assim. As lembranças são
nossas passagens para uma viagem agradável ao passado. Um passado sereno, sem
compromisso, sem responsabilidades, cobranças ou coisas do gênero. E seu lugar
ainda está reservado, intacto. O lugar da mesma pessoa que meu terapeuta queria
de alguma forma saber o nome e desatar as amarras que impus sobre nossa
relação. Ele nunca soube, apesar de ter certeza que havia alguém. Como pude
esconder isso dele? Sempre escondemos. De alguma forma muitas de nossas reais
intenções ficam escusas. Por medo. Ai como detesto e convivo bem com tal
sentimento! O medo é o grande controlador, ou ‘descontrolador’, dos corações
timidamente apaixonados. Faz-nos pensar que tudo é ilusão, que ninguém nunca
nota o amor nos nossos olhos e expressões corporais, que ninguém percebe nosso
coração parar quando estamos diante daquela pessoa. E é totalmente o contrário.
O medo denuncia. Agimos ridiculamente, mudamos a voz, o assunto, ficamos sem
assunto, nos reservamos, damos a maior pinta, mas nunca o suficiente para a
declaração. E com o passar do tempo a nossa historia ficou apenas nas
conjecturas, no mundo das possibilidades. É bom perceber que alguém fez parte
da sua vida a ponto de te fazer sorrir sem motivos, à distância,
espontaneamente e sem compromisso com o tempo. Talvez jamais saberá que foi
protagonista de tal evento, assim como muitos são e não imaginam. A vida é
mesmo um emaranhado de mistérios deliciosos, dúvidas instigadoras, medos
descontrolados, um labirinto de sensações e imaginações inimagináveis. Você mora
aqui e talvez se sinta indigente. Que descontrole paradoxal!
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