quarta-feira, 16 de abril de 2014

Permita-se uma folga mental


Tirar uma folga mental de tempos em tempos é importante para ser mais criativa e viver bem

 

Roberta De Lucca

 

 

Segundo um estudo da Universidade da Califórnia, passamos 30% do nosso tempo devaneando
Foto: Renato Parada
Claro que é possível viver e curtir a vida numa rotina estabelecida, sem muitos riscos e surpresas que podem nos "tirar do prumo". Mas deixar-se levar pelos pensamentos e ideias desencadeados é um convite a novidades. Ao nos desligarmos do racional, abrimos caminho para o devaneio, para os pensamentos livres. Quando divagamos estamos, mesmo que inconscientemente, coletando e arquivando uma série de referências que podem vir a ser usadas em breve, para resolver um problema ou desenvolver um projeto.
Comprovação científica

É comum as pessoas relacionarem as palavras devaneio e viagem a ideias desconexas em relação à realidade. Mas isso é reflexo da imagem negativa que se construiu em cima da divagação.

O problema é que, hoje, o lema é: fazer, cumprir, apresentar. E tudo dentro de prazos determinados; não sobra muito tempo para viajar nas ideias e executar melhor ou de um jeito mais criativo, diferente. O devaneio vai contra esse mundo de produção e o lúdico é o único espaço disponível para se conhecer o mundo e a si próprio.

O psiquiatra Fernando Milton de Almeida, do Núcleo de Estudos do Imaginário e da Memória da USP, concorda com a ideia de que há quem olhe torto para o devaneio porque ele atrapalha a produtividade desejada pelos moldes atuais. "Mas devanear é parte da condição humana, mesmo que o conhecimento hoje seja acelerado e as pessoas ajam de maneira mais autômata". Com a mente livre, o ser humano exercita a imaginação e transita por outros lugares; fica mais receptivo a insigths.

Um estudo realizado por psicólogos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apontou que passamos cerca de 30% do nosso tempo devaneando. No experimento, enquanto liam romances como Razão e Sensibilidade e Guerra e Paz, os alunos pesquisados eram frequentemente indagados se estavam atentos ao livro ou se estavam com a cabeça em outro lugar. Diante das respostas, veio o veredito de que todo mundo divaga - é normal. "Eu creio que as conexões executivas do cérebro, que estão altamente comprometidas com o pensamento racional e lógico, também são ativadas no devaneio. Portanto, não considero o devaneio algo oposto ao pensamento racional", afirma Jonathan Schooler, um dos coordenadores do estudo.

O pesquisador diz que é importante percebermos quando devaneamos e que caminho percorremos durante essa viagem. "O segredo é ficar atento aos processos mentais para captar se o devaneio afeta suas tarefas. Se não atrapalha enquanto você está dirigindo, prossiga. Mas se desvia o foco, fazendo com que você freie em cima do carro da frente, tente ter mais consciência do que acontece ao seu redor". Segundo a pesquisa, a criatividade é maximizada quando as pessoas percebem que suas mentes estão devaneando. "Mas em todo processo criativo, seja na poesia, seja na matemática, é necessária também uma dose grande de disciplina mental. O ideal é um balanço, uma abertura para os dois lados", conclui.

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