quarta-feira, 23 de abril de 2014

A insustentável leveza de ser negro



Douglas Rafael da Silva Pereira / Imagem: Página Oficial de DG na Internet


Mais uma vez não consigo dormir por mais um capítulo da injustiça humana, injustiça de uma instituição que deveria zelar por minha segurança . Carregamos um fardo pesado na história deste país, da desigualdade produzida pela elite alva deste ‘reino’. Dessa vez um jovem de 26 anos, dançarino, negro, residente de uma comunidade fluminense, com todas as características do estereótipo criado dos bandidos desse país. Me perdoem a indelicadeza, mas bem sabemos onde estão os verdadeiros bandidos desta nação e que cargos ocupam. Mais uma vez levantamos a bandeira ‘Somos todos...’. Sim! Somos ‘Amarildos’, ‘Cláudias’ e, agora, ‘Douglas’. Outra vez um negro marca pontos no índice de vítimas da violência urbana. Eis a guerra civil que não consigo ver o seu fim.
Presencio pela enésima vez uma mãe clamando por justiça, por verdade. Tal verdade que apenas seu filho morto sentiu em seus últimos momentos de vida. Verdade que todos nós sabemos, conhecemos, e insistimos em dizer  que está tudo dentro da normalidade. Sinto muito, mas não é normal pessoas morrerem por serem confundidas com bandidos. Não é normal um agente preparado para zelar por nossa segurança agir precipitadamente e matar um inocente. Não é legal ligar a TV e testemunhar mais uma vida perdida pelo erro tático de uma instituição que deveria ser exemplo de legalidade e esquema de segurança. Não desejo mais ver qualquer que seja a pessoa - negra, asiática, indígena, caucasiano, de qualquer origem - vítima de um descaso como esse. Quem lidera as manifestações como demonstração de revolta ao tratamento que o Estado impõe é o mesmo povo que paga o salário de quem deveria estar ali para os proteger, e jamais oprimir.
O curioso é que estes homens que vestem a farda e são ‘símbolo’ da segurança muitas vezes tem sua origem nas comunidades. Ou será que somos ingênuos de acreditar que os filhos da burguesia almejam tal cargo? Tais homens deveriam, mais do que ninguém, saber que nem todos que estão nas comunidades estão a serviço da ‘badidagem’. O que precisamos é de seres com princípios. Pessoas que não reproduzam o preconceito da elite com ações autoritárias e subjugadoras.  Precisamos de humanidade! Nunca trarão a vida de Douglas de volta. O que nos resta é esperar pela verdade, que já sabemos, mas a justiça ainda prefere se fazer de cega. Aliás, é completamente compreensível tal reação.
Ser negro no Brasil é sair de casa e não saber se iremos voltar vivos, pois podemos facilmente ser confundidos com bandidos e não ter direito a defesa. Ser negro no Brasil é não saber se teremos uma morte digna, ou seremos assassinados por engano e jogados numa vala qualquer. Ser negro no Brasil é ser taxado de cognitivamente insuficiente. Ser negro no Brasil é ser olhado com preconceito por outro negro. Ser negro no Brasil é viver com desconfiança e insegurança. Ser negro no Brasil é ser alvo de piadas na roda de amigos numa mesa de bar. Ser negro no Brasil é carregar um fardo pesado demais.

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