Assumir a culpa é um fator importante para se livrar da angústia das suas escolhas impensadas, seguir adiante e viver melhor
Rafael Tonon

Livre-se as angústias assumindo suas culpas por atitudes impensadas
Foto: Renato Parada
Foto: Renato Parada
Transferir nossas responsabilidades é um comportamento normal, que todo mundo invariavelmente comete. Trata-se de uma tendência de autopreservação, um mecanismo de defesa a que nossa mente recorre quando a carga fica pesada. "Na medida em que projetamos sobre uma pessoa nossos impulsos inconscientes, diminuímos nossa ansiedade", explica a psicóloga Vera Chvatal, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp.
Liberdade responsável
O filósofo Renato Janine Ribeiro questiona a relação liberdade e responsabilidade tal qual a conhecemos. Ele defende que a responsabilidade é que pressupõe a liberdade, não o contrário. "Só quando sou capaz de responder pelos meus atos é que eu tenho a liberdade para fazer minhas escolhas", afirma. Diante da nossa realidade e da responsabilidade que ela nos impõe é que somos livres para fazer outras escolhas, tomar novas decisões.
O primeiro passo para nos tornarmos livres é assumir quem somos. "Se eu negar o que eu sou, minha liberdade fica muito mais difícil. Afinal, você só consegue fazer escolhas a partir daquilo que você já é. E só é possível mudar quando assumirmos nossa condição", completa.
A culpa alheia
"A questão é que o alívio de transferir responsabilidades para os outros é ilusório", explica a escritora e filósofa americana Marietta McCarty, autora do livro How Philosophy Can Save Your Life ("Como a filosofia pode salvar sua vida”, sem edição no Brasil). "Se a culpa é do outro, ela não me pertence, então não tenho nada a fazer a respeito", pensamos. Dessa forma, acabamos nos isentando não apenas da culpa, mas da capacidade de lidar com ela.
Essa isenção sobre nossos atos começa a se formar durante a infância. Quando nascemos, nossa família começa a nos passar a noção de responsabilidade a partir de valores pessoais, sociais, culturais e aprendemos a responder a uma autoridade superior que primeiramente serão os nossos pais. "Se esses valores não nos foram inculcados passaremos a atribuir a culpa de nossos atos aos outros", afirma a psicóloga Vera Chvatal.
É preciso, como defendia Kant, sair desse estado de infância e passar a assumir responsabilidades para termos uma vida mais plena. Porque o preço da inocência é mesmo a impotência. Isso pode eximi-la das conseqüências dos seus atos, mas ao mesmo tempo lhe tira o prazer de viver livremente.
LIVROS
Foi Apenas um Sonho, Richard Yates, Alfaguara
O Governo de Si e dos Outros, Michel Foucault, Martins Fontes
A Última Razão dos Reis, Renato Janine Ribeiro, Companhia das Letras
Fonte: Vida Simples
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