sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Os salários “sem juízo” em Minas Gerais

Fábio Chagas
Doutor em História e Professor

Nossa sociedade, liberal, capitalista, se rege pelas regras do mercado, da competição e do individualismo, esvaziando o ser humano em suas essência e existência. Somos medíocres e vivemos como estúpidos, nos matamos pelo santo dinheiro e por mercadorias que ele pode comprar. Não pensamos no coletivo, e, por isso, não pensamos em nós mesmos. Estamos mortificados!
Quando prestamos um concurso público, pensamos apenas nos salários e no emprego que nunca perderemos. Raros, talvez pensem, que um servidor público deve servir ao seu povo..o resto é salário e emprego garantido...Ao invés de algo elevado como dar o melhor de si, pelo outro, boa parte dos funcionários trata os usuários com um poder de burocratizar e emperrar as necessidades dos cidadãos.
Quando isso se espraia para o Poder Judiciário, tudo se complica.
Em Minas Gerais, Juízes e Desembargadores acham que ganham pouco e lutam agora para receber nada mais do que modestos 28 mil reais, além dos “benefícios”, é claro...
Seguindo a História e a literatura brasileiras, notamos nossa vocação para ser o país dos Bacharéis, dos doutores e dos funcionários públicos. Nesse sentido, sugiro a leitura do maravilhoso Lima Barreto.
O Diploma conferia status, poder social e facilidades para se arrumar emprego.
Médicos e advogados viraram doutores, sem saber o que é a pesquisa científica e a defesa de um doutoramento (quem vive de joelhos os chama de doutores)
Já os juízes, no Brasil, são “super doutores”, acima do bem e do mal, sem ideologias, partido ou classe social. Dizem trabalhar muito mas, será que apenas eles trabalham muito?
Sua profissão é tão mais importante? Qual seria tão menos importante?
Os juízes querem receber R$ 28.059 e mais alguns benefícios como:
1. auxílio para compra de livros
2. aumento do abono de férias
3. pagamento de R$25 mil para os que precisarem mudar de comarca
Acaso, quem recebe 28 mil reais, precisa destes privilégios?
Qual trabalhador brasileiro recebe tanto dinheiro e ainda é presenteado com tais benefícios?
Os juízes podem merecer, como muitos merecem, mas:
Não será indecente e profundamente antidemocrático, receber 28 mil reais, e outros tantos privilégios, num país em que dezenas de milhões vivem com salário mínimo (R$ 724,00) e Bolsa Família?
Receber salários altíssimos vai melhorar o Aparelho Judiciário em que?
Aumentar salários criará novos Tribunais e melhorará o atendimento estrangulado?
O Estado mineiro gastará mais 40 milhões de reais com o reajuste, ou seja, os cidadãos trabalharão para melhorar a renda dos Juízes e Desembargadores, sem que o acesso à Justiça melhore em nada.

Nosso tempo carece de homens públicos, voltados para o coletivo, e não apenas para seus salários.
Esta Democracia das desigualdades gritantes produzirá qual tipo de paz social?
Que Justiça se faz quando um Juiz ganha, no mínimo, 38 vezes mais que um trabalhador humilde?
A distribuição desigual da renda e dos salários gera uma terrível distorção no acesso à cultura e ao lazer e, obviamente, gera uma educação para os filhos dos bem pagos e outra, para os filhos dos mal pagos. Obviamente que isso não democratiza e não pacifica nenhuma sociedade, apenas perpetua as desigualdades, as injustiças e os preconceitos.
Ganhar 38 vezes mais já resulta em violência, a qual, por sua vez, gera outras violências...
...inclusive aquelas que levam os jovens aos Tribunais.

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