A inauguração oficial da ‘Associação Olhar
Down – Amor sem Limites’, nesta sexta-feira (22), me fez pensar em contos de
fadas. Mães que por excesso de zelo e amor, prefiro compreender dessa forma,
confinam seus filhos com SÃndrome de Down em seus lares, sem convÃvio com a
sociedade, na tentativa de se protegerem e também seus filhos,
inconscientemente assumindo o papel de antagonistas nesta história. Mas o
capÃtulo vivenciado nesta noite foi diferente, várias mães que retiraram seus
filhos e filhas de seus ‘castelos’ e os apresentaram à sociedade por meio desse
belo projeto, Olhar Down.
Tivemos o privilégio de conhecer pequenos
cidadãos contagiantes, vibrantes, confiantes que merecem seu devido lugar na
sociedade, e em nossas vidas. Compreendemos nesta oportunidade que a SÃndrome
de Down não é uma doença, não devemos tratar quem é Down como coitados. Coitado
é de quem ainda pensa assim. Como já disse, são cidadãos, como qualquer um de
nós. O que os torna diferentes? O número do documento? Isso me faz diferente de
qualquer pessoa. Sou diferente porque tenho lábios grossos, caracterÃstica
notável de todos da minha etnia. Outro indivÃduo pode ser diferente por ser
muito magro. Eles são diferentes porque são Down. Ser diferente é normal, mas
não caia no erro que repetir essa frase incontáveis vezes, como um mantra, e
fazer perder seu real sentido. Conhecemos pessoalmente o Dudu do Cavaco
que é exÃmio no instrumento pelo qual é conhecido, já este redator não sabe
sequer segurar este objeto. O que torna Dudu especial? Resposta: sua habilidade
para a música. Se Dudu não tivesse os olhos puxados e outras caracterÃsticas
fÃsicas de um Down, provavelmente ele não seria tratado ‘diferente’. Ele é um
artista como qualquer outro, capaz de nos encantar com sua arte. E diga-se de
passagem: Que arte!
Parabéns às mães amorosas que nos deram a oportunidade de viver um
momento tão sublime. Especialmente à Sâmila Monna Lisa, que por seu amor
percebeu o quanto a vida é ‘Bela’. Que aprendeu com a pequena princesa Isabela
que a vida é uma arte sem fim, que exige muita luta para alguns, que muitas
vezes temos que ser o primeiro exemplo para uma mudança significativa na
sociedade e no nosso interior. Um grande exemplo para uma sociedade egoÃsta e
covarde a qual vivemos.
Ver aquelas mães emocionadas ao declamar a
canção ‘Como é grande o meu amor por você’ foi como voltar ao tempo e fazer o
mesmo para o meu irmão, há cinco anos, quando o vi pela última vez. Compreendi a
imensidão do amor daquelas mulheres, bem como dos pais, que também amam. Na
verdade um Down é diferente sim, capaz de despertar em nós uma alegria
transcendente, apenas pessoas iluminadas conseguem fazer isso.
Não permita ser moldado por uma sociedade estereotipada. Não padronize.
Não tenha preconceito. Essas foram as mensagens que soaram pelos ares nesta
noite. Esse evento não gritou por igualdade, num ato desesperado. Foi como um
sussurro convidativo, que dizia: ‘Venha conhecer o que você taxa como
diferente, mas não é!’ Conheça e sinta esse amor sem limites.
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