sábado, 8 de março de 2014

No Dia Internacional da Mulher, a luta é de todos nós!

 Fábio Chagas
Doutor em História e Professor
 

 


















A História faz as leis e nunca o contrário. A História se modifica, muitas vezes, violando-se as próprias leis, pois a Justiça e o Justo são maiores e bem diferentes que os Sistemas de Leis. As greves já foram ilegais, mas os trabalhadores as fizeram, e isto levou à conquista de direitos sociais e trabalhistas. As próprias greves se tornaram legais.
No século XIX apenas os ricos votavam, mas a classe trabalhadora, em luta, conquistou o direito de eleger e ser eleita. As sociedades capitalistas não admitiam a participação política do povo, mas este, abriu caminho violando as regras do jogo das elites.
A luta das mulheres, suas dificuldades, derrotas e vitórias, devem ser entendidas dentro deste mecanismo de ação política. Em momentos cruciais da História, elas jogaram um papel decisivo.
Na Guerra Civil Espanhola (1936-39), mulheres de várias partes do mundo lutaram para impedir a ascensão do nazi-fascismo, mas lamentavelmente, o Ocidente capitalista omitiu-se por enxergar a possibilidade de destruir o socialismo soviético.
Em Stalingrado, na Rússia, durante a batalha mais sangrenta de toda a História (1942-43), as mulheres desempenharam funções militares, como nas baterias antiaéreas, e detiveram o avanço da poderosa Força Aérea Alemã.
Em 1942, o Exército Vermelho se retirou de uma frente de combate e as tropas alemãs avançaram perigosamente. Neste momento decisivo, as mulheres socialistas (soviéticas), se apresentaram para expulsar os alemães, sob condições incrivelmente difíceis. Vitoriosas, marcharam até Berlim, lado a lado, com os homens do Exército Vermelho, para derrotar a máquina de guerra hitlerista e libertar o mundo do nazismo.
No Brasil, dezenas de mulheres abriram mão de seus projetos pessoais para se engajar na luta contra a Ditadura Militar (1964-85). Lutaram corajosamente, e tristemente, várias delas pagaram o preço da humilhação, das torturas bárbaras, e da morte.
Embora não cessem os exemplos em torno da grandeza e da importância decisiva da mulher na vida política e social dos povos, grandes desafios ainda estão colocados para o universo feminino.
As sociedades, pelo mundo, de modo geral, continuam masculinas, machistas e patriarcais. As mulheres continuam exercendo as mesmas funções que os homens, mas recebendo menos. As mulheres continuam sendo vítimas da violência por todas as partes. Na Europa, por exemplo, uma em cada três mulheres já sofreu alguma violência física ou sexual. No Brasil, o número de estupros aumentou e a Lei Maria da Penha ainda não foi capaz de reduzir a violência contra as mulheres.
A lei não faz a História, a luta faz a lei.
Do ponto de vista da participação da mulher na política, temos caminhado pouco, e muito lentamente, posto que o universo feminino, apesar de representar 51,7% dos eleitores, ainda é muito baixo na política brasileira (aproximadamente 9%).
Poderosos complexos de comunicação como a Rede Globo, através de “concursos femininos” ou programas ultrajantes como “Zorra Total” prestam um grande “desserviço” social e político à Nação. Nossas mulheres são apresentadas como objetos, mercadorias e aquelas, tomadas como “feias”, são estimuladas a agradecer pelas “encoxadas” no metrô ou pela generosidade sexual do estuprador.
Ser pobre no Brasil é um problema, quase um crime, mas ser pobre, negro, e pior, mulher negra...
A televisão brasileira perpetua a ideia de que a mulher negra é um cartão postal para o turismo sexual. Negras aqui são mercadoria para sexo, tal como os senhores da Casa Grande buscavam suas negrinhas na senzala...
A mulher negra brasileira não é mãe de família nas propagandas de TV, revista etc, não é juíza, dentista, engenheira, advogada ou médica. Varre o chão, limpa banheiros e raramente apresenta programas de TV ou coisa do gênero. Para a cama e para o samba...mulatas do Brasil!
Por tudo isto, pouco se pode comemorar, e muito ainda há por lutar. Avançamos no campo das leis, mas no terreno da cultura, das mentalidades, enfrentamos um perverso processo de reprodução do machismo, do sexismo e do racismo, porque isto, em boa medida, serve a um tipo de economia de mercado.
Vários caminhos precisam ser trilhados, porém, indiscutivelmente, precisamos democratizar, e radicalmente, os meios de comunicação no Brasil, porque estes continuam nas mãos de uma dúzia de famílias multimilionárias que não representam os reais interesses do Povo brasileiro.
Por fim, embora o feminismo jogue papel político importante na sociedade, e que algumas conquistas não sejam desprezíveis, a verdadeira independência da mulher só poderá acontecer com a emancipação de homens e mulheres, hoje, submetidos à lógica do capital, destruídos em sua essência, em favor da economia de mercado e do sistema financeiro.
Desta maneira, não podemos apenas apoiar as mulheres, devemos lutar lado a lado!

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