sábado, 22 de março de 2014

AS FLORES NO DESERTO DA POLÍCIA E DAS FORÇAS ARMADAS!



Fábio Chagas
Doutor em História e Professor

No dia 6 de janeiro de 1999, o Policial Militar José Barbosa de Andrade, sob o terror das enchentes paulistanas, lançou-se nas águas do Rio Tamanduateí para salvar uma moradora de rua. O resgate era quase impossível, as águas estavam sete vezes acima de seu volume normal, mas o PM José Barbosa, corajosamente, desceu por uma corda e impediu a morte da mulher. Sua sorte foi outra, pois a corda se rompeu e o valoroso PM, que não sabia nadar, foi levado pelas águas!
Babosa foi heroico, dignificou seu povo e uma Instituição que abriga homens e mulheres honrados, a mesma Instituição que hoje representa medo e insegurança para a população, porque é ela que, nas periferias dos centros urbanos, efetiva o Estado Democrático de Direito, por meio de uma violência brutal e incontrolável. O Poder Público se ausenta e destina aos bolsões de pobreza aquilo que criou para ser um violento instrumento de repressão, garantidor das desigualdades sociais.
É preciso reinventar a Polícia, mas igualmente as Forças Armadas, porque, inacreditavelmente, ainda vociferam, de suas entranhas, anticomunistas histéricos e crentes de que existe no Brasil um “Inimigo Interno” chamado MST. Ligam o PT, agentes cubanos e venezuelanos a alguma Organização dedicada a implantar o comunismo na América Latina. Sinceramente, nem eles devem se levar a sério...
Embora ainda sobrevivam fanáticos ultradireitistas nas Forças Armadas, cumpre notar que importantes segmentos destas mesmas Forças, ou Armas, participaram de lutas democráticas em favor dos interesses dos trabalhadores. Não esqueçamos ainda a gloriosa FEB (Força Expedicionária Brasileira), a qual registrou nos livros da História, a participação brasileira na luta contra o nazi-fascismo.
Em 1964, forças políticas atrasadas implantaram o terror psicológico sobre a sociedade, de modo que oficiais das Forças Armadas, a 31 de março depuseram um presidente eleito e impuseram uma ditadura, sustentada por prisões arbitrárias, torturas, mortes e desaparecimentos. O Golpe, chamado cinicamente de “Revolução” ou “Movimento de 64”, foi amparado pelos EUA, empresários brasileiros e multinacionais.
No interior das mesmas FA, grande parte dos militares apoiava as transformações sociais daqueles anos que visavam beneficiar as camadas sociais excluídas há séculos. O governo de João Goulart, às vésperas do golpe, gozava de grande aceitação, segundo pesquisa IBOPE (oculta até 2003). De acordo com os registros, Jango contava com 86% de aprovação ao seu governo entre as camadas mais pobres.
Sendo assim, porque o governo foi derrubado?
Quem rasgou a Constituição e traiu a Pátria? A serviço de quais interesses?
Quem representa, hoje, estes interesses contrários às transformações sociais?
Depois de uma tragédia social, política e cultural de 21 anos (1964-85), muita gente nas Forças Armadas ainda alimenta versões absurdas sobre a morte de opositores e sobre os locais onde os corpos foram clandestinamente enterrados.
Militares que se opunham à Ditadura foram expulsos das Forças Armadas entre 1964 e 65, presos ou mortos. Outros militares se destacaram por não apoiar o Golpe, a ditadura e também recusarem-se a sujar as mãos de sangue na tortura. Este foi o caso do valoroso Capitão Sérgio “Macaco”, militar honrado.
Em junho de 1968, o capitão pára-quedista Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho (Sérgio Macaco) recebeu ordens dos Brigadeiros Hipólito da Costa e João Paulo Burnier, para explodir, no horário de maior movimento, o Gasômetro da Avenida Brasil (RJ). Cem mil pessoas, aproximadamente, morreriam, e a responsabilidade seria lançada sobre os ombros da Resistência à Ditadura, para, a partir disso, desatar-se-ia uma sangrenta e aniquiladora onde repressiva sobre todos os opositores.
O que os terroristas do Governo Militar não contavam era que o Capitão Sérgio “Macaco” se recusaria a levar adiante o plano diabólico. Mais ainda, o Capitão denunciou-o publicamente. Sérgio foi um patriota e recusou-se a assassinar seu povo. A Ditadura o perseguiu, puniu, reformou e o prendeu. Quando lhe ofereceram Anistia, recusou-a afirmando que só se anistia quem comete erros e, ele, estava ciente de que havia acertado ao evitar o massacre de cem mil brasileiros.
Sérgio “Macaco” caiu no esquecimento e, na década de 1990, quando vivia seus últimos dias, vitimado por um câncer, foi tratado por Itamar Franco com uma covardia singular. O Supremo Tribunal Federal havia decidido pela indenização ao Capitão, mas Itamar guardou-a no fundo de uma gaveta. Em 1994, “Macaco” se foi e, somente três dias após a sua morte, a Sentença da indenização é assinada.
Itamar, por medo dos militares, sequer indenizou um personagem histórico exemplar, que evitou a morte de milhares de compatriotas. Itamar, como a esmagadora maioria de nossos eleitos, nunca poderia ser grande como o Capitão Sérgio “Macaco”, assim como grande parte dos policiais jamais entenderá a grandeza e o heroísmo de um PM como José Barbosa.
O exemplo do Capitão Sérgio “Macaco” deve ser ensinado nas Academias Militares, para que, embora bastante tarde, as Forças Armadas rendam a devida homenagem ao Capitão e aprendam a agir como brasileiros que honram a farda.
Quanto ao PM José Barbosa, que sua bravura e desprendimento sejam transmitidas aos nossos filhos, ao nosso Povo...

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