segunda-feira, 7 de julho de 2014

- Roda do tempo -


Imagem: Reprodução


A roda leva a vagar
Circular ou elíptica
Cada corpo em seu lugar


Giros aparentemente desconexos
Se afinam em tempos diferentes
Que melodia eloquente!

O equilíbrio se encontra ao relativizar
E no dom da paciência ao esperar.
A roda do tempo gira
E tempo a faz girar...

Igor Daniel

domingo, 6 de julho de 2014

Almas que nos salvam da dor






Imagem: Reprodução




‘A alma de um ser pertence a quem a salva‘. Apesar de parecer absurdo, é uma expressão muito simbólica. Sentimo-nos mesmo pertencentes a quem nos salva da tristeza, carência, infelicidade. Há pessoas que parecem nascer para dominar o mundo inteiro. No grande folhetim que é nossas vidas há personagens que são eternos e preciosos ‘passarinhos verdes’. Considero os pássaros como seres misteriosos, não místicos, mas misteriosos. Talvez pela arte de bailar pelo ar de maneira tão espetacular. Acho que eles jamais saberão como nos sentimos limitados quando os vemos dançar pelo céu afora. Mas suas asas espalham nossos bons pensamentos pelos ares do planeta. Não era os pássaros que queria destacar, e sim as pessoas que tornam melhor nossa existência. Esses a quem pertencemos e dizemos constantemente que jamais viveríamos sem. Alguns estão distantes, outros próximos. O fato é que sua presença, voz, atenção mudam o ambiente em que chegam. Como me simpatizo com seres que exalam energia positiva! Esses são sim responsáveis por nossas almas. Salvam-nos de tantos males e não pedem nada em troca. Espalham o amor! São fontes inesgotáveis de alegria. Basta que tais pessoas existam para que tenhamos razão de ser. Da mesma forma, é uma grande felicidade poder ser recíproco a tanta generosidade e boa vibração. É como se voássemos juntos bailando belamente pelos ares. Como admiro as almas que me salvar da dor! E como aspiro salvar almas da dor. Não por ser proprietário de uma, mas por sabe o bem que faz ser responsável pela felicidade de alguém.

sábado, 5 de julho de 2014

Amores e distância

 
Imagem: Reprodução
 
 
 
Ruth Manus


Era uma vez uma pessoa. E era uma vez outra pessoa. E era uma vez um amor. E como se já não bastassem todas as complicações inerentes ao amor, este vinha com um bônus: quilômetros.
Quilômetros de distância que estavam lá por alguma razão. Trabalho, estudo, família, raízes, origens, destino, sorte ou azar. Quilômetros estes pelos quais circulavam diariamente as tradicionais e inevitáveis saudades, as inegáveis angústias, a latente ansiedade e a eterna sensação de ser um pouco injustiçado pela vida.
Era uma vez essa história clássica, espalhada pelo mundo como vírus, mas que é sempre nova e fresca e que vive em milhares ou milhões de peitos com essa avassaladora capacidade de causar transtornos e alegrias na mesma medida.
Seriam “amor” e “distância” palavras incompatíveis por natureza? Ou seriam daquelas palavras que se atraem como imãs na sede de criar histórias dignas de roteiros de cinema, atravessando oceanos, desafiando o tempo e todas as probabilidades?
Seria uma espécie de teste? Uma prova para atestar o quão dispostos estamos a nos dar? Seria provação? Uma avaliação para tentar demonstrar nosso grau de interesse pelo amor?
Sei que, por vezes, parece piada de mau gosto do destino. Quando, por exemplo, nos flagramos invejando um casal que está tendo o luxo de passear de mãos dadas. Quando esticamos o braço na cama durante a noite e tudo o que encontramos é espaço vazio. Quando descobrimos que o olfato também sente saudades, como se todo o resto já não fosse suficiente.
E os palcos para as mais belas cenas de amor deixam de ser o entardecer na praia ou a tarde chuvosa no campo para serem um saguão de aeroporto às 7 da manhã de uma terça feira, uma rodoviária lotada no fim do dia ou uma estação de trem cheia de rostos desconhecidos e completamente alheios à sua história.
E você então descobre pequenas dores em atos que sequer fazia ideia de que existiam: acariciar rostos em fotos; passar perfume para falar no Skype;  adormecer com o celular na mão, tentando vencer o sono e a distância e acabar sucumbindo a ambos; fazer da vida uma contagem regressiva, sem se lembrar que cada dia vencido é um dia a menos de vida.
Descobre novos surtos e neuroses, nos quais a frase “vou tomar uma cerveja” é lida como “vou tomar 14 cervejas, 8 whiskys e 5 doses de tequila com 18 mulheres de 1,80m, cabelos sedosos e seios fartos”. Ou a frase “vou sair para jantar” é lida como “vou sair para jantar de cinta-liga, salto 15 e seguir diretamente para uma bunga bunga do Berlusconi”. Acontece. Não é fácil não pirar.
E acaba descobrindo também algumas novas alegrias: as promoções de passagens, o súbito momento em que o sinal do 3G é bom o bastante para aguentar 7 minutos de Viber, o prazer de acordar com uma notificação querida de whatsapp. É uma verdadeira arte de buscar ânimo em pequenas coisas.
Mas a verdade é que não é fácil. É bem mais difícil do que matar um leão por dia. Porque a saudade a gente não tem como matar. A falta a gente não tem como suprir. A ausência a gente não consegue aceitar sem uma certa relutância.
Mas é realmente incrível nossa capacidade de adaptação. O esforço do cérebro para tornar as lembranças um pouco sensoriais: a memória do toque, do cheiro, do gosto. O dia a dia que vai se ajeitando. O coração que se acalma um pouco, mas que continua batendo forte a cada pequena lembrança.
Tem dias em que a gente se questiona. Faz mesmo sentido? Até quando? Até onde vamos? Tem dias de “e se…”. E se não der certo? E se for perda de tempo? E se a gente não der conta?
Mas, no fim, a verdade é que, se é amor mesmo, a gente sabe que vale a pena. Cada passo, cada suspiro, cada quilômetro encarado. E a gente sabe que não tem saída: viver o romance impossível é mil vezes melhor que não viver o romance. E que, no fundo, essa ânsia dolorida faz com que a gente se sinta extremamente vivo a cada dia.
E amar no conforto, no sólido, no concreto é sempre lindo. Mas amar no desafio, no sacrifício diário, na corda bamba é gigante. É para os fortes. Os corajosos. Os dispostos. Os que declaram, seguros, para a vida:
“Vim para amar.
E vou amar.
Não importa como, eu vou.
E não me ofereça um amor mais fácil.
É esse que eu quero.
Esse é o meu.
Não tem outro.”.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Juizes diante do espelho


Imagem: Reprodução



Curioso como apenas uma sentença é capaz de ficar martelando em nossas mentes. ‘Respeite a todos, sem julgar quem “se dá ao respeito” ou não’. Como julgamos atos, pessoas, decisões! Somos juízes natos com constituições particulares. Podemos ser conservadores, liberais, neutros. Sempre de acordo com o que nos convém. Isso é demasiadamente perigoso. Os que se acham superiores por aceitarem modos de vida alternativos – se é que posso usar tal expressão - julgam os que não concordam e vice-versa. Estamos todos errados, no final das contas. De que vale o livre arbítrio? Somos todos cidadãos livres, nos aprisionamos nas cadeias que escolhemos. Aliás, grande bobagem essa de separar tudo em pequenas e reservadas caixas. O mais interessante seria entrarmos em acordo. E mais uma vez a palavra equilíbrio aparece em minhas considerações. O equilíbrio resulta em respeito. E respeito nada tem a ver com tolerância. Tolerar me remete uma situação pesada, insustentável. Aquela ‘coisa’ que você é obrigado aguentar, suportar. Esse é outro grande perigo! Suportar é como ter uma granada sem pino nas mãos. Em algum momento ele explodirá e destruirá tudo que conseguiu manter até aquele derradeiro momento. Agora o respeito é diferente. O respeito envolve compreensão. É não concordar com algo, mas deixar de lado a faceta humana tão mesquinha que é julgar bom, ou ruim, a decisão alheia. Na verdade, podemos ser, sim, grandes juízes. Mas sempre em frente ao espelho, consigo mesmo. Afinal, apenas você sabe o tamanho de suas dores, angústias, alegrias, amores, desamores, sonhos, desilusões. Você é o principal responsável por si. Ninguém pode decidir e viver por você. Desde muito pequeno minha avó dizia sabiamente, sem ter diploma de Filosofia: ‘Quem muito cuida da vida alheia se esquece de ajustar seus próprios passos.’ Nunca vou me esquecer! Mas discorrendo sobre o assunto acabo percebendo que estou naturalmente julgando quem julga e caindo no mesmo erro dos meus réus particulares. Mas refletir sobre o assunto é inevitável. Não desejo levantar nenhuma bandeira pró qualquer campanha específica. Quero apenas que cada indivíduo viva sua vida sem ferir o direito e espaço do outro. E eis que nos deparamos ‘num bico de sinuca’! Como determinar esse limite? Quer saber, deixa para outro dia porque esses pensamentos já estão embaralhando minha cabeça.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Não podemos esperar até amanhã



A violência doméstica tem sido um assunto recorrente nos meios de comunicação. Mais que claro que palavras são as imagens. O vídeo abaixo faz parte de uma campanha do governo da Croácia que alerta para o flagelo da violência doméstica, mostrando imagens chocantes que ilustram o pior que acontece em algumas casas, no mundo inteiro, todos os dias. Esse vídeo tem uma mensagem surpreendente. Um dos virais mais vistos na última semana. Apesar de o curta-metragem ter como personagem real uma mulher, não podemos esquecer que a violência doméstica tem como vítimas homens, mulheres, crianças e, até mesmo, idosos. Passou da hora de dizer ‘Basta!’. Por isso, é sugestiva a mensagem final. ‘Ajude-me! Não sei se posso esperar até amanhã.’


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Tentando viver num mundo cinza



Imagem: Reprodução


E prosseguimos tentando. Tentando ser feliz. Tentando viver com mais amor. Tentando, sempre tentando. Não tem sido fácil. Aliás, essa é a frase da moda. Não está fácil para ninguém! Há duas linhas invisíveis que nos move de um lado para o outro. A primeira é a que nos induz a fazer o que é bom, excelente. Esse fio, mesmo que emaranhado, nos direciona ao amor, felicidade e outros bons aspectos do viver. A segunda tem um poder negativo sobre nossa existência. Como aquela mão invisível que controla tudo o que há de ruim neste sistema. O equilíbrio, e também o autocontrole, nos ajudará a definir qual dessas linhas norteará nossas ações. Estamos rodeados por expressões de ódio, infelicidade, descontrole emocional. O ar deste sistema está por demais pesado. Irrespirável! Temos medo de nos socializar. Não nos apegamos mais nas relações. Tentamos ser felizes na infelicidade. Tentamos, apenas tentamos. É como se não enxergássemos mais um palmo a frente de nosso nariz. O céu parece cinza. Sim, cinza! O cinza talvez seja a cor da insegurança, do não saber o que vem a seguir. Pois quando tudo está claro vemos facilmente a dificuldade adiante. Já na escuridão é possível ver a luz no fim do túnel, por assim dizer. Vejo tudo cinza! Os olhares das pessoas não são mais os mesmos. O espelho está cada vez mais embaçado. A personalidade de muitos está cada vez mais cinza. Estamos desconfiando demais, confiando cada vez menos. Estava observando um debate entre amigos dia desses em que concluíram que o mundo está cheio de inocentes numa sociedade repleta de juízes e executores de uma justiça injusta. Eles estão com a razão. Há muita coisa errada, começando por nós mesmos. Julgamos cada um de acordo com nossas leis pessoais. Não podemos negar o quanto somos egoístas. E fica a pergunta, qual linha tem guiado minha existência? Como estou tentando ser feliz? Sinto que em um aspecto somos unânimes. Estamos saturados deste mundo cinza. Em alguns momentos tenho a impressão que ainda vou acordar e perceber que tudo o que vejo de lamentável fez parte de um pesadelo desagradável e que o sol brilha lá fora me convidando a viver um dia de paz. Acho que vou tentar acordar!

terça-feira, 1 de julho de 2014

Separações líquidas

Imagem: Reprodução
 
Fabrício Carpinejar

Casar virou namorar, namorar virou ficar, ficar virou provar.
Acredito que todo mundo casa fácil porque é também muito fácil se separar.
Nos anos 70, o casamento era medido por décadas. Mesmo quando um casamento fracassava, durava no mínimo duas décadas.
Nos anos 80, o casamento era medido por anos. Mesmo quando um casamento desmoronava, durava no mínimo cinco anos.
O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel.
Agora, o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa.
Las Vegas do divórcio é aqui.
Você pode sair de manhã, eufórico e confiante, extremamente disposto, seguro do romance, e quando voltar à noite não encontrar mais ninguém ao seu lado.
Se cometeu uma falha, nem terá oportunidade de se explicar. Se não errou, nem terá chance de entender e desfazer confusões.
É tão simples se divorciar que ninguém mais pretende se estressar. Não há nem o civilizado e educado aviso de despejo. É dar as costas, largar o passado e seguir adiante. Quebrou o amor, troca! Quebrou o amor, compra outro! Quebrou o amor, não vale investir consertando!
Os casais não brigam mais até cansar para, então, se separar. Não brigam mais até esgotar as possibilidades para, então, se separar. Não tentam durante semanas e semanas expor as dores, as feridas e a raiva para, então, se separar. Não recorrem ao choro, à histeria, ao perdão, ao abraço, ao exorcismo, aos centros religiosos, aos amigos, aos parentes para, então, se separar.
A separação vem antes. A separação é a regra. A separação é o hábito. A separação é seca, definitiva, sem explicações.
As pessoas se separam primeiro para depois discutir. As pessoas se separam primeiro para depois conversar. As pessoas se separam primeiro para depois desabafar o que incomoda.
Elas arrumam todas as malas, esvaziam os armários, realizam a limpa no apartamento e depois, se houver vontade, se encontram e sentam frente a frente para resolver as diferenças.
São uniões interrompidas com silenciadores, distante de estampidos e gritos.
Ninguém se separa de fato, todo mundo deserta, todo mundo abandona a convivência.
É uma irresponsabilidade extraordinária com o outro, é uma indiferença tremenda ao que foi construído com o outro, é um desprezo ao que foi sonhado a dois.
E os motivos podem ser os mais loucos e insignificantes. O desenlace não ocorre mais por justificativas duras como adultério e deslealdade.
Há gente que se separa por incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o correto seria incompatibilidade de burros).
Há gente que se separa porque não suporta o medo de ser traído.
Há gente que se separa porque estava muito feliz e não aguentava tamanha pressão.
Há gente que se separa porque se viu entregue ao relacionamento e estava perdendo a identidade.
Há gente que se separa porque não sabia mais o que estava fazendo da vida.
Há gente que se separa porque não esperava que fosse assim.
Atualmente entra-se numa relação e não se fecha a porta – a porta permanece encostada o tempo inteiro.

Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 29/6/2014 Edição N° 17844