Espaço com expressõs de mentes anônimas e famosas. Aqui você encontra músicas, filmes, poesias, crônicas, pesquisas, frases ou todas elas na mesma postagem. Doses diárias de reflexão para você que tem a sensibilidade de compreender que a vida é uma arte sem fim.
‘A alma de um ser pertence a quem
a salva‘. Apesar de parecer
absurdo, é uma expressão muito simbólica. Sentimo-nos mesmo pertencentes a quem
nos salva da tristeza, carência, infelicidade. Há pessoas que parecem nascer
para dominar o mundo inteiro. No grande folhetim que é nossas vidas há
personagens que são eternos e preciosos ‘passarinhos verdes’. Considero os
pássaros como seres misteriosos, não místicos, mas misteriosos. Talvez pela
arte de bailar pelo ar de maneira tão espetacular. Acho que eles jamais saberão
como nos sentimos limitados quando os vemos dançar pelo céu afora. Mas suas
asas espalham nossos bons pensamentos pelos ares do planeta. Não era os
pássaros que queria destacar, e sim as pessoas que tornam melhor nossa existência.
Esses a quem pertencemos e dizemos constantemente que jamais viveríamos sem.
Alguns estão distantes, outros próximos. O fato é que sua presença, voz,
atenção mudam o ambiente em que chegam. Como me simpatizo com seres que exalam
energia positiva! Esses são sim responsáveis por nossas almas. Salvam-nos de
tantos males e não pedem nada em troca. Espalham o amor! São fontes
inesgotáveis de alegria. Basta que tais pessoas existam para que tenhamos razão
de ser. Da mesma forma, é uma grande felicidade poder ser recíproco a tanta
generosidade e boa vibração. É como se voássemos juntos bailando belamente
pelos ares. Como admiro as almas que me salvar da dor! E como aspiro salvar
almas da dor. Não por ser proprietário de uma, mas por sabe o bem que faz ser
responsável pela felicidade de alguém.
Era uma vez uma pessoa. E era uma vez outra pessoa. E era uma vez
um amor. E como se já não bastassem todas as complicações inerentes ao
amor, este vinha com um bônus: quilômetros.
Quilômetros de distância que estavam lá por alguma razão. Trabalho,
estudo, família, raízes, origens, destino, sorte ou azar. Quilômetros
estes pelos quais circulavam diariamente as tradicionais e inevitáveis
saudades, as inegáveis angústias, a latente ansiedade e a eterna
sensação de ser um pouco injustiçado pela vida.
Era uma vez essa história clássica, espalhada pelo mundo como vírus,
mas que é sempre nova e fresca e que vive em milhares ou milhões de
peitos com essa avassaladora capacidade de causar transtornos e alegrias
na mesma medida.
Seriam “amor” e “distância” palavras incompatíveis por natureza? Ou
seriam daquelas palavras que se atraem como imãs na sede de criar
histórias dignas de roteiros de cinema, atravessando oceanos, desafiando
o tempo e todas as probabilidades?
Seria uma espécie de teste? Uma prova para atestar o quão dispostos
estamos a nos dar? Seria provação? Uma avaliação para tentar demonstrar
nosso grau de interesse pelo amor?
Sei que, por vezes, parece piada de mau gosto do destino. Quando, por
exemplo, nos flagramos invejando um casal que está tendo o luxo de
passear de mãos dadas. Quando esticamos o braço na cama durante a noite e
tudo o que encontramos é espaço vazio. Quando descobrimos que o olfato
também sente saudades, como se todo o resto já não fosse suficiente.
E os palcos para as mais belas cenas de amor deixam de ser o
entardecer na praia ou a tarde chuvosa no campo para serem um saguão de
aeroporto às 7 da manhã de uma terça feira, uma rodoviária lotada no fim
do dia ou uma estação de trem cheia de rostos desconhecidos e
completamente alheios à sua história.
E você então descobre pequenas dores em atos que sequer fazia ideia
de que existiam: acariciar rostos em fotos; passar perfume para falar no
Skype; adormecer com o celular na mão, tentando vencer o sono e a
distância e acabar sucumbindo a ambos; fazer da vida uma contagem
regressiva, sem se lembrar que cada dia vencido é um dia a menos de
vida.
Descobre novos surtos e neuroses, nos quais a frase “vou tomar uma
cerveja” é lida como “vou tomar 14 cervejas, 8 whiskys e 5 doses de
tequila com 18 mulheres de 1,80m, cabelos sedosos e seios fartos”. Ou a
frase “vou sair para jantar” é lida como “vou sair para jantar de
cinta-liga, salto 15 e seguir diretamente para uma bunga bunga do
Berlusconi”. Acontece. Não é fácil não pirar.
E acaba descobrindo também algumas novas alegrias: as promoções de
passagens, o súbito momento em que o sinal do 3G é bom o bastante para
aguentar 7 minutos de Viber, o prazer de acordar com uma notificação
querida de whatsapp. É uma verdadeira arte de buscar ânimo em pequenas
coisas.
Mas a verdade é que não é fácil. É bem mais difícil do que matar um
leão por dia. Porque a saudade a gente não tem como matar. A falta a
gente não tem como suprir. A ausência a gente não consegue aceitar sem
uma certa relutância.
Mas é realmente incrível nossa capacidade de adaptação. O esforço do
cérebro para tornar as lembranças um pouco sensoriais: a memória do
toque, do cheiro, do gosto. O dia a dia que vai se ajeitando. O coração
que se acalma um pouco, mas que continua batendo forte a cada pequena
lembrança.
Tem dias em que a gente se questiona. Faz mesmo sentido? Até quando?
Até onde vamos? Tem dias de “e se…”. E se não der certo? E se for perda
de tempo? E se a gente não der conta?
Mas, no fim, a verdade é que, se é amor mesmo, a gente sabe que vale a
pena. Cada passo, cada suspiro, cada quilômetro encarado. E a gente
sabe que não tem saída: viver o romance impossível é mil vezes melhor
que não viver o romance. E que, no fundo, essa ânsia dolorida faz com
que a gente se sinta extremamente vivo a cada dia.
E amar no conforto, no sólido, no concreto é sempre lindo. Mas amar
no desafio, no sacrifício diário, na corda bamba é gigante. É para os
fortes. Os corajosos. Os dispostos. Os que declaram, seguros, para a
vida:
Curioso como apenas uma
sentença é capaz de ficar martelando em nossas mentes. ‘Respeite a todos, sem julgar quem
“se dá ao respeito” ou não’. Como julgamos atos, pessoas,
decisões! Somos juízes natos com constituições particulares. Podemos ser
conservadores, liberais, neutros. Sempre de acordo com o que nos convém. Isso é
demasiadamente perigoso. Os que se acham superiores por aceitarem modos de vida
alternativos – se é que posso usar tal expressão - julgam os que não concordam
e vice-versa. Estamos todos errados, no final das contas. De que vale o livre
arbítrio? Somos todos cidadãos livres, nos aprisionamos nas cadeias que
escolhemos. Aliás, grande bobagem essa de separar tudo em pequenas e reservadas
caixas. O mais interessante seria entrarmos em acordo. E mais uma vez a palavra
equilíbrio aparece em minhas considerações. O equilíbrio resulta em respeito. E
respeito nada tem a ver com tolerância. Tolerar me remete uma situação pesada,
insustentável. Aquela ‘coisa’ que você é obrigado aguentar, suportar. Esse é outro
grande perigo! Suportar é como ter uma granada sem pino nas mãos. Em algum
momento ele explodirá e destruirá tudo que conseguiu manter até aquele
derradeiro momento. Agora o respeito é diferente. O respeito envolve
compreensão. É não concordar com algo, mas deixar de lado a faceta humana tão
mesquinha que é julgar bom, ou ruim, a decisão alheia. Na verdade, podemos ser,
sim, grandes juízes. Mas sempre em frente ao espelho, consigo mesmo. Afinal,
apenas você sabe o tamanho de suas dores, angústias, alegrias, amores,
desamores, sonhos, desilusões. Você é o principal responsável por si. Ninguém
pode decidir e viver por você. Desde muito pequeno minha avó dizia sabiamente,
sem ter diploma de Filosofia: ‘Quem muito cuida da vida alheia se esquece de
ajustar seus próprios passos.’ Nunca vou me esquecer! Mas discorrendo sobre o
assunto acabo percebendo que estou naturalmente julgando quem julga e caindo no
mesmo erro dos meus réus particulares. Mas refletir sobre o assunto é
inevitável. Não desejo levantar nenhuma bandeira pró qualquer campanha
específica. Quero apenas que cada indivíduo viva sua vida sem ferir o direito e
espaço do outro. E eis que nos deparamos ‘num bico de sinuca’! Como determinar
esse limite? Quer saber, deixa para outro dia porque esses pensamentos já estão
embaralhando minha cabeça.
A violência doméstica tem sido um assunto recorrente nos meios de comunicação.
Mais que claro que palavras são as imagens. O vídeo abaixo faz parte de uma
campanha do governo da Croácia que alerta para o flagelo da violência
doméstica, mostrando imagens chocantes que ilustram o pior que acontece em algumas
casas, no mundo inteiro, todos os dias. Esse vídeo tem uma mensagem
surpreendente. Um dos virais mais vistos na última semana. Apesar de o curta-metragem
ter como personagem real uma mulher, não podemos esquecer que a violência doméstica
tem como vítimas homens, mulheres, crianças e, até mesmo, idosos. Passou da
hora de dizer ‘Basta!’. Por isso, é sugestiva a mensagem final. ‘Ajude-me! Não sei se posso esperar até amanhã.’
E prosseguimos tentando. Tentando ser feliz. Tentando viver com mais
amor. Tentando, sempre tentando. Não tem sido fácil. Aliás, essa é a frase da
moda. Não está fácil para ninguém! Há duas linhas invisíveis que nos move de um
lado para o outro. A primeira é a que nos induz a fazer o que é bom, excelente.
Esse fio, mesmo que emaranhado, nos direciona ao amor, felicidade e outros bons
aspectos do viver. A segunda tem um poder negativo sobre nossa existência. Como
aquela mão invisível que controla tudo o que há de ruim neste sistema. O
equilíbrio, e também o autocontrole, nos ajudará a definir qual dessas linhas
norteará nossas ações. Estamos rodeados por expressões de ódio, infelicidade,
descontrole emocional. O ar deste sistema está por demais pesado. Irrespirável!
Temos medo de nos socializar. Não nos apegamos mais nas relações. Tentamos ser
felizes na infelicidade. Tentamos, apenas tentamos. É como se não enxergássemos
mais um palmo a frente de nosso nariz. O céu parece cinza. Sim, cinza! O cinza
talvez seja a cor da insegurança, do não saber o que vem a seguir. Pois quando
tudo está claro vemos facilmente a dificuldade adiante. Já na escuridão é
possível ver a luz no fim do túnel, por assim dizer. Vejo tudo cinza! Os olhares
das pessoas não são mais os mesmos. O espelho está cada vez mais embaçado. A
personalidade de muitos está cada vez mais cinza. Estamos desconfiando demais,
confiando cada vez menos. Estava observando um debate entre amigos dia desses
em que concluíram que o mundo está cheio de inocentes numa sociedade repleta de
juízes e executores de uma justiça injusta. Eles estão com a razão. Há muita
coisa errada, começando por nós mesmos. Julgamos cada um de acordo com nossas
leis pessoais. Não podemos negar o quanto somos egoístas. E fica a pergunta,
qual linha tem guiado minha existência? Como estou tentando ser feliz? Sinto
que em um aspecto somos unânimes. Estamos saturados deste mundo cinza. Em
alguns momentos tenho a impressão que ainda vou acordar e perceber que tudo o
que vejo de lamentável fez parte de um pesadelo desagradável e que o sol brilha lá
fora me convidando a viver um dia de paz. Acho que vou tentar acordar!
Casar virou namorar, namorar virou ficar, ficar virou provar. Acredito que todo mundo casa fácil porque é também muito fácil se separar. Nos anos 70, o casamento era medido por décadas. Mesmo quando um casamento fracassava, durava no mínimo duas décadas. Nos anos 80, o casamento era medido por anos. Mesmo quando um casamento desmoronava, durava no mínimo cinco anos. O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel. Agora, o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa. Las Vegas do divórcio é aqui.
Você pode sair de manhã, eufórico e confiante, extremamente disposto,
seguro do romance, e quando voltar à noite não encontrar mais ninguém ao
seu lado. Se cometeu uma falha, nem terá oportunidade de se explicar. Se não errou, nem terá chance de entender e desfazer confusões.
É tão simples se divorciar que ninguém mais pretende se estressar. Não
há nem o civilizado e educado aviso de despejo. É dar as costas, largar o
passado e seguir adiante. Quebrou o amor, troca! Quebrou o amor, compra
outro! Quebrou o amor, não vale investir consertando! Os casais
não brigam mais até cansar para, então, se separar. Não brigam mais até
esgotar as possibilidades para, então, se separar. Não tentam durante
semanas e semanas expor as dores, as feridas e a raiva para, então, se
separar. Não recorrem ao choro, à histeria, ao perdão, ao abraço, ao
exorcismo, aos centros religiosos, aos amigos, aos parentes para, então,
se separar. A separação vem antes. A separação é a regra. A separação é o hábito. A separação é seca, definitiva, sem explicações.
As pessoas se separam primeiro para depois discutir. As pessoas se
separam primeiro para depois conversar. As pessoas se separam primeiro
para depois desabafar o que incomoda. Elas arrumam todas as
malas, esvaziam os armários, realizam a limpa no apartamento e depois,
se houver vontade, se encontram e sentam frente a frente para resolver
as diferenças. São uniões interrompidas com silenciadores, distante de estampidos e gritos. Ninguém se separa de fato, todo mundo deserta, todo mundo abandona a convivência.
É uma irresponsabilidade extraordinária com o outro, é uma indiferença
tremenda ao que foi construído com o outro, é um desprezo ao que foi
sonhado a dois. E os motivos podem ser os mais loucos e
insignificantes. O desenlace não ocorre mais por justificativas duras
como adultério e deslealdade. Há gente que se separa por
incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o
correto seria incompatibilidade de burros). Há gente que se separa porque não suporta o medo de ser traído. Há gente que se separa porque estava muito feliz e não aguentava tamanha pressão. Há gente que se separa porque se viu entregue ao relacionamento e estava perdendo a identidade. Há gente que se separa porque não sabia mais o que estava fazendo da vida. Há gente que se separa porque não esperava que fosse assim. Atualmente entra-se numa relação e não se fecha a porta – a porta permanece encostada o tempo inteiro.
Publicado no jornal Zero Hora Revista Donna, p.6 Porto Alegre (RS), 29/6/2014 Edição N° 17844