
Jhonatan Rocha
O verde nunca foi tão cinza quanto nessa manhã. Acordamos para trabalhar
opiniões, argumentos, e ao mesmo tempo não ter nada de concreto a dizer.
Repensamos a grande ironia e efemeridade que é o viver. Estamos usando a hastag
#SomosTodos..., #EstamosCom..., #Vamos..., #DescanseEmPaz e tantos outros.
Hoje somos uma só bandeira. Recebemos textos em nossos aplicativos de
mensagens com temas que nos fazem refletir sobre o quanto devemos ser um, o
quanto é urgente viver. Despertamos para a solidariedade, empatia, comoção.
Reavaliamos sonhos. Notamos o peso da humildade. Repetimos frases. Reclamamos
que a TV só fala sobre esse tema, mas inconscientemente queremos saber cada vez
mais detalhes diferentes. Nas rodas de conversas queremos ter informações
exclusivas.
Tecemos teorias da conspiração. Buscamos justificativas plausíveis.
Procuramos culpados. Queremos ter acesso a imagens. Desejamos conhecer a
história familiar de cada vítima. Julgamos as reações dos familiares ao receber
a notícia. Tentamos imaginar como seria se nada disso tivesse acontecido. A
vida toma uma dimensão trágica. A sensação de biografias incompletas. Não. Não
é impressão. Toda biografia é incompleta, principalmente quando interrompida
por um acidente. Há explicação para tudo ou os eventos são aleatórios? Por que
essas vidas são tão importantes?
Ficamos com a conclusão de Karnal: “Estamos todos por um fio e é
importante viver plenamente. Os que ficamos aprendemos com os que deixaram de
existir: vamos viver de verdade, sem adiamentos, sem meio termo. A vida segue
um pouco mais melancólica.” Ao acordar amanhã poderemos não dar mais a mesma
importância à queda do British Aerospace BAe 146, mas sem dúvida estaremos
melhorados e reflexivos.
Talvez a grande lição do dia seja a inutilidade de viver divididos por
bandeiras e importância de doar. Ressaltando que este é o dia da doação.
Começamos por doar nossos sentimentos. A vida é uma crônica sem fim.
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