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“Eu fui criada no cristianismo. Aprendi a ser
humilhada em silêncio”. Essa frase me causou um turbilhão de questionamentos.
Toda vez que passo por um período de extrema felicidade – e tenho medo da
solidão, que provavelmente se aproxima – leio Miguel como uma forma de manter
esse momento e fortalecer seu significado. Dessa vez não procurava um texto
específico, por isso escolhi de maneira aleatória. Sempre achei Miguel um
mestre das palavras, me toca profundamente com seus textos e crônicas. Essa
leitura teve um ‘quê’ diferente, um peso inesperado. Esse momento de euforia se
encerra, coincidentemente, com o fim dos dias de sol e início de um período
nublado, característico do inverno. Aprendi a sofrer, ser humilhado, a ser
feliz, a amar em silêncio. Somos moldados assim todos os dias. O mundo do ‘politicamente
correto’ não nos tem permitido viver com transparência. Ser feliz em excesso é
considerado errado, injusto, sempre haverá algo de errado nesse estado. Amar.
Tarcísio disse que as pessoas não amam mais. Concordo. Não consigo definir se
por medo, desinteresse, falta de tempo ou outra desculpa qualquer. As pessoas
simplesmente não parecem se importar mais. Vivo num tempo em que pareço não
pertencê-lo. Quanto à humilhação essa tem mesmo que ser no mudo. Temos a
obrigação de nos mostrar fortes, principalmente se nos tornamos a âncora
emocional de alguém. Passamos por humilhações gélidos, sem qualquer tipo de
reação. Sofrer é sinal incontestável de fraqueza. Na era das redes sociais
muitos fingem desconhecer a existência e significado desse sentimento abstrato.
A verdade é que me esvaziei, como um refrigerante que foi deixado
acidentalmente aberto e perdeu todo seu gás. Aprendi a ser muita coisa em
silêncio por medo, por aceitação, por conveniência. Fui vítima e réu de
promessas desfeitas, de lembranças confusas, de certezas absurdas. Tornei-me um
labirinto infindável de mim mesmo. Sou o personagem que criei ou o que
realmente sou? Quem me consegue interpretar, definir, sem as lentes da admiração,
amor, maldade, desprezo? Quem me enxerga do tamanho que realmente sou? Aliás,
quem enxergaria? Gosto dessas perguntas. Não tenho as respostas. Aprendi a me
perguntar em silêncio e ouvir o silêncio como resposta.
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