quarta-feira, 22 de julho de 2015

O silêncio como resposta


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“Eu fui criada no cristianismo. Aprendi a ser humilhada em silêncio”. Essa frase me causou um turbilhão de questionamentos. Toda vez que passo por um período de extrema felicidade – e tenho medo da solidão, que provavelmente se aproxima – leio Miguel como uma forma de manter esse momento e fortalecer seu significado. Dessa vez não procurava um texto específico, por isso escolhi de maneira aleatória. Sempre achei Miguel um mestre das palavras, me toca profundamente com seus textos e crônicas. Essa leitura teve um ‘quê’ diferente, um peso inesperado. Esse momento de euforia se encerra, coincidentemente, com o fim dos dias de sol e início de um período nublado, característico do inverno. Aprendi a sofrer, ser humilhado, a ser feliz, a amar em silêncio. Somos moldados assim todos os dias. O mundo do ‘politicamente correto’ não nos tem permitido viver com transparência. Ser feliz em excesso é considerado errado, injusto, sempre haverá algo de errado nesse estado. Amar. Tarcísio disse que as pessoas não amam mais. Concordo. Não consigo definir se por medo, desinteresse, falta de tempo ou outra desculpa qualquer. As pessoas simplesmente não parecem se importar mais. Vivo num tempo em que pareço não pertencê-lo. Quanto à humilhação essa tem mesmo que ser no mudo. Temos a obrigação de nos mostrar fortes, principalmente se nos tornamos a âncora emocional de alguém. Passamos por humilhações gélidos, sem qualquer tipo de reação. Sofrer é sinal incontestável de fraqueza. Na era das redes sociais muitos fingem desconhecer a existência e significado desse sentimento abstrato. A verdade é que me esvaziei, como um refrigerante que foi deixado acidentalmente aberto e perdeu todo seu gás. Aprendi a ser muita coisa em silêncio por medo, por aceitação, por conveniência. Fui vítima e réu de promessas desfeitas, de lembranças confusas, de certezas absurdas. Tornei-me um labirinto infindável de mim mesmo. Sou o personagem que criei ou o que realmente sou? Quem me consegue interpretar, definir, sem as lentes da admiração, amor, maldade, desprezo? Quem me enxerga do tamanho que realmente sou? Aliás, quem enxergaria? Gosto dessas perguntas. Não tenho as respostas. Aprendi a me perguntar em silêncio e ouvir o silêncio como resposta.

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