domingo, 12 de abril de 2015

A miséria que nos causam os pontos cegos de personalidade


 Por Carolina Vila Nova


Certa vez participei de uma conversa, que me calou por dentro. Um amigo perguntou para um conhecido, o que este fazia para aliviar seu stress. O colega em questão respondeu que não tinha absolutamente nenhum stress, pois tinha uma vida muito boa, por causa de seu emprego. Até aí, vê-se a sorte de alguém que gosta de seu trabalho. Mas o silêncio foi total. Isto por que a pessoa a dar esta resposta era simplesmente alguém que raramente sorria ou conversava com os outros. Alguém que parecia viver o stress constantemente. Eu conhecia seu comportamento e fiquei atônita com a resposta.
Ao mesmo tempo em que lamentei a falta de noção de felicidade por parte desta pessoa, também me lembrei de algo que a psicanálise chama de “Ponto cego de personalidade”. Todo ser humano possui o seu, assim como um espelho retrovisor. Ao me lembrar desta característica, que todos possuímos, imediatamente parei de julgar o colega e simplesmente refleti a situação.
Meu conhecido acreditava piamente que era feliz. Porém, olhando de fora, posso afirmar que esta pessoa estava quase sempre de mau humor, não sorria e não conversava com quase ninguém em seu trabalho. Irritava-se e ofendia com facilidade. É claro como água que se tratava de uma pessoa em stress. Mas o colega não mentiu ao dizer que não sofria stress algum. Eu percebi simplesmente que se tratava do “Ponto cego de personalidade” dele.
O “Ponto cego de personalidade” vem a ser uma ou mais características que se carrega e não se tem capacidade para enxergar, devido à dificuldade que se possui para mudar tal ou tais pontos em si mesmo. Todos veem, exceto o indivíduo em questão. E o defeito está ali, tão nítido, que o cidadão é até atacado por isso: falam-lhe pelas costas. E apesar de óbvio, só ele mesmo não é capaz de perceber.
Quem não conhece alguém assim? O mentiroso que acredita enganar a todos, quando ele mesmo é o único que não percebe sua óbvia falsidade. O fofoqueiro que fala da vida alheia, sem nunca se dar conta do quanto fala mal de si mesmo. O invejoso que sofre aquilo que não possui.  E tantos outros exemplos.
Por que afinal, não somos capazes de enxergar aquilo que todo mundo enxerga sobre nós mesmos? Por que é tão difícil? Todas as respostas vão em direção ao autoconhecimento. Maturidade, vontade de evoluir, sair do lugar do comum, dando adeus à zona de conforto de si mesmo. Entender quem se é, é o primeiro passo para se enxergar os pontos cegos de personalidade. Mais do que o conhecimento em psicologia ou psiquiatria, o se olhar para dentro: porque eu fiz isto? Por que eu agi assim? Por que me sinto magoado em determinada situação? Será mesmo que minhas atitudes são corretas neste ou naquele momento? Nada vale mais do que a reflexão sobre si mesmo.
Os Pontos cegos de personalidade não dependem de inteligência ou conhecimento. Meu conhecido, por exemplo, é uma pessoa inteligentíssima, mas que parece não ter noção da sua falta de inteligência emocional.
É fácil identificar o ponto cego de personalidade alheio. Mas reagir sobre nossos pontos e não sobre o dos outros é o que realmente muda alguma coisa. Vendo o que não se quer ver. De certa forma, somos todos vítimas de nós mesmos, de nossas misérias interiores e incapacidade de nos enxergarmos como realmente somos.
Com coragem e humildade devemos olhar os nossos pontos cegos e deixar de se espantar com os pontos dos outros. Pois mais vale uma boa miopia a ser melhorada a cada dia do que uma cegueira a vida inteira.


pontos cegos de personalidade



CAROLINA VILA NOVA:  colunista Conti outra
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Carolina Vila Nova é brasileira. Tem cidadania alemã, 39 anos. Escritora e Roteirista.
É autora dos seguintes livros:
“Minha vida na Alemanha” (Biografia),
“A dor de Joana” (Romance-drama),
“Carolina nua” (Crônicas),
“Carolina nua outra vez” (Crônicas),
“Vamos vida, me surpreenda!” (Crônicas) e
“As várias mortes de Amanda” (Romance-drama).
“O dia em que os gatos andaram de avião” (Infantil)
Disponíveis na Amazon.com e Amazon.com.br 
Mais matérias em: www.carolinavilanova.com

 Fonte: ContiOutra

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