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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Fazer mais que o prometido, pode não dar em nada?

Todo mundo já passou por uma situação assim: você está sentado em sua mesa de trabalho quando seu chefe repassa uma demanda. Pode ser algo simples ou um grande projeto que vai exigir meses de dedicação, mas o desfecho raramente foge destes três cenários.
No primeiro dos cenários, um problema aconteceu ao longo da execução e a entrega é comprometida. Não restou muita opção além de bater na porta do chefe e informar que o projeto não vai ser concluído. O combinado não será cumprido.
Na segunda opção, tudo corre como planejado, você entrega o combinado e não recebe nem obrigado. Sua obrigação é essa.
O terceiro e mais trágico dos cenários começa com boa vontade. Ao invés de apenas executar, você resolveu dar uma enfeitada, ir além do solicitado e fazer um agrado. Mas quando foi avisar que havia terminado, seu chefe acenou com a cabeça e pediu para dar licença, ele está atrasado para uma reunião. Nem deu atenção para o esforço extra investido. Dando a sensação de que nada daquilo valeu a pena.
Um artigo da Folha de São Paulo nos trouxe a confirmação destes cenários. O estudo mencionado aponta que quebrar uma promessa ou acordo gera nítida frustração, mas fazer além do combinado não parece afetar os níveis de satisfação em comparação com os que fazem apenas o combinado.
Ou seja, aquele agrado extra para um chefe ou cliente pouco será notado, não valendo a pena.
Mas será mesmo?
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“Tá, obrigado.”
O problema de observar estudos científicos de forma fria, principalmente se tratando de ciência comportamental, é a dificuldade de representar o mesmo resultado em outros cenários que vão além do escopo construído pelo estudo. Quem lê a notícia focado no cenário imediatista, recebe o sinal de que não vale a pena tentar ir além. Isso desmotiva os que se propõem a agradar um pouco mais. Só que nem tudo é preto no branco e, por isso, recomendo olhar um pouco mais afundo nesta perspectiva.
O primeiro ponto a se entender aqui é a expectativa de quem está executando o acordo. Sempre que fazemos algo esperando qualquer tipo de reação em troca, mesmo que seja apenas um agradecimento mais caloroso, o resultado provável será frustração, uma vez que é bem difícil estimar precisamente qualquer retorno. Acho que essa é uma provável causa para o estudo apontar não valer a pena.
Entretanto, o que acontece quando vamos além por nós mesmos? Pela simples garantia de não fazer algo abaixo do que nós mesmos gostaríamos, de estar dando tudo o que podemos.
Quem faz além, o faz pela chance de ver um sorriso extra, saber que não deixou alguém na mão e que, mesmo que algo não tenha sido solicitado, é importante observar que as vezes foi até por falta de atenção de quem pediu. Que seu dever como ser consciente é cobrir todos os furos, caso contrário estará entregando o que foi pedido, mas foi omisso em algo que ninguém mais viu, só você.
Meu trabalho atual envolve desenvolvimento de produtos e grande parte do esforço aplicado é criando elementos que não fazem parte do produto em si, que muitos clientes nem percebem, mas pra mim fazem toda diferença. Desde a caixa onde o produto vai, a etiqueta, enfeites e adesivos de brinde, tudo carrega uma mensagem unilateral de carinho e atenção. A maioria dos clientes não ligam pra isso, mas está tudo bem.
O importante é minha entrega e como me sinto através disso. O que fazemos uma expressão de como nos sentimos realizando aquela tarefa. Claro que eventualmente alguém reconhece, divulga algum elogio e fazem comentários, o que me deixa imensamente feliz, mas este é apenas um bônus de algo que fiz pela satisfação interior.
etiqueta
Utilizável como máscara ninja
Óbvio que, se tratando de trabalho e clientes, fazer mais do que a promessa pede tem outros benefícios que não podemos esquecer.
Existe muito ruído por aí, todo mundo disputando um lugar, atenção do cliente, oportunidade de trabalho, ser promovido, não ser demitido no downsize, qualquer coisa. O ruído é enorme e existem poucas formas de quebrá-lo, se diferenciando de quem só faz o básico. Deixando claro que isso não significa adicionar algo, às vezes apenas mudar a forma que os detalhes são apresentados pode fazer grande diferença.
Empresas têm investido rios de dinheiro procurando soluções para este fenômeno, algo que não apenas venda produtos, mas faça seu usuário sentir-se querido, não apenas falando acima da multidão, mas falando diretamente para o cliente e conquistando sua fidelização. Um cliente recentemente disse que “Dentro da caixa só faltou vir um abraço”, logo abaixo outro cliente adicionou: “Mas foi como se tivesse vindo.”
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Notícias como as da folha são muito perigosas. Tendemos a ler aquelas informações e vincular diretamente com nossa vontade de fazer menos ou até mesmo não fazer nada. Criando uma justificativa racional para nossa falta de atenção. Por isso, muitas vezes, é bom relembrar o discurso moderno de “fazer o que se ama”.
Quando fazemos algo por que sentimos vontade e prazer na ação, raramente precisamos nos preocupar se estamos fazendo o suficiente, menos ou além. Assim, o que fizermos vai naturalmente sair da melhor forma que conseguimos desenvolver, e se vai ser mais ou menos reconhecido é subjetivo a quem recebe.

Fonte: Papo de Homem

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O mais absurdo dos vícios


Imagem: Reprodução



Fabrício Carpinejar

Se você acha que se apaixonar é ruim, existe algo muito pior: é se viciar em alguém.

É mais do que paixão: é vício mesmo.

Não terá saudade, mas abstinência.

Não terá memória, mas flashbacks.

Não ficará distraída, mas apagada.

Não conseguirá lidar com a paciência, com a calma, com a espera.

Você estará transtornada mais do que transformada.

Foi arrastada, muito além de um arrebatamento.

Sofrerá de dependência química das palavras, dos abraços, dos beijos.

Até a alegria será um desespero.

Você não calcula qual o motivo da ligação.

Odeia estar assim, mas ama estar assim, já que nunca esteve assim.

Só chama o outro de chato, irritante, insuportável, porém nada interrompe a proximidade.

Não tem como largá-lo. As justificativas que arruma para se distanciar acabam acelerando o próximo encontro.

Nenhuma desculpa produz distância, nenhum blefe, nenhuma ameaça, nenhuma cena de ciúme.

Você não terá razão porque já perdeu a razão.

Sua ânsia é por mais uma dose. Daquilo. Daquele jeito. Com aquela força.

Viverá na boca de fumo.

É capaz de vender seus bens, seu passado, as roupas, para sustentar o prazer.

Tudo é a maldita droga de estar junto. Não se importará com a opinião da família e dos amigos. Comprará briga com o mundo para pagar o vício.

Desmarcará compromissos, atenderá qualquer chamado. Pode surgir no meio da madrugada, no meio da manhã, no meio da tarde. Pois casa de traficante não tem hora.

Um "Eu te amo" não será suficiente: é "Eu preciso de você agora".

É um vício do corpo, do cheiro, da voz, do temperamento, que pode levar à loucura.

Vai emagrecer, não vai dormir, vai se isolar, vai se estranhar, vai chorar e rir ao mesmo tempo.

Há pessoas que viciam. Simplesmente viciam. E estará perdida para todo o sempre.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Temos de Ser Mais Humanos

Imagem: Reprodução


    "Abram os olhos. Somos umas bestas. No mau sentido. Somos primitivos. Somos primários. Por nossa causa corre um oceano de sangue todos os dias. Não é auscultando todos os nossos instintos ou encorajando a nossa natureza biológica a manifestar-se que conseguiremos afastar-nos da crueza da nossa condição. É lendo Platão. E construindo pontes suspensas. É tendo insônias. É desenvolvendo paranoias, conceitos filosóficos, poemas, desequilíbrios neuroquímicos insanáveis, frisos de portas, birras de amor, grafismos, sistemas políticos, receitas de bacalhau, pormenores. (...)
     A única atitude verdadeiramente civilizada é a fraqueza, a curiosidade, o desespero, a experiência, o amor desinteressado, a ansiedade artística, a sensação de vazio, a fé em Deus, o sentimento de impotência, o sentir-mo-nos pequeninos, a confissão da ignorância, o susto da solidão, a esperança nos outros, o respeito pelo tempo e a bênção que é uma pessoa sentir-se perdida e poder andar às aranhas, à procura daquela ideia, daquela casa, daquela pessoa que já sabe de antemão que nunca há-de encontrar."

     Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'