
Há tempos venho tentando elabora
algo concreto sobre algumas questões deixadas de lado nesse caminhar que é o
viver. Tenho recusado muitos convites – que sempre quis recusar, mas não o
fazia para manter o status social -, para reuniões sociais, happy hour e outras ocasiões. Imagino
que essa recusa tem causado desconforto em meus convidantes. E em alguns casos,
para mim totalmente libertador.
Recordo-me do tempo de
colegial em que fizemos uma pesquisa sobre a biografia da literária Clarice
Lispector. Um dos pontos altos de nossa
pesquisa foi a descoberta, a nível pessoal, da personalidade curiosamente
singular dessa escritora. Segundo nossas investidas na vida privada da autora,
Clarice tinha o hábito de ser convidada para jantares na casa de seus amigos
íntimos. Até aí tudo bem. A grande questão é que costumeiramente ela decidia ir
embora antes do jantar ser servido e sem dar explicações, como manda o ‘protocolo’.
Nunca me esqueci disso. Ficou marcado como tatuagem em minha memória. Depois
disso, nunca mais encontrei referências sobre essa informação. Repetíamos o
fato durante a Feira Cultural como um mantra. Era aprova de que havíamos feito
uma relevante pesquisa. Sempre quis ter a personalidade e coragem dessa mulher.
Me aprimorei ao ponto de recusar convites, não sendo preciso sair antes do
jantar ser servido. Em tempos de fotos em redes sociais para comprovar o quanto
somos desejados, amáveis e sociáveis isso é completamente exótico. Isso me fez
pensar sobre a felicidade e necessidade de esfregá-la na face alheia. O que é
ser feliz?
Recordo-me das palavras
de Clóvis de Barros Filho: “Vamos nos acostumando a admitir que, no momento em
que a vida é vivida, temos que suportar inconvenientes para que alguma coisa
melhor advenha. Mas não tem advindo. Portanto, faço um convite à vida. Um
convite à realidade, às coisas como elas são. E ainda preferirei que elas sejam
alegradoras. Se, com isso, eu tiver que pagar a pena do castigo eterno, da
criatividade comprometida, de uma aposentadoria curta, de uma existência pouco
longeva ou de um final de semana sem graça, pouco importa. Eu ainda prefiro a
alegria de uma semana inteira de trabalho do que happy hour de sexta-feira depois das 18 horas, apenas para fazer
uma pequena observação.”
Não posso resumir minha
felicidade a momentos exclusivamente selecionados como, por exemplo, finais de
semana, feriados prolongados e dias santos. A minha felicidade cabe em todo o
instante. Sim. No trabalho árduo, no ócio, na solidão escolhida, no momento que
desejo dividir com alguém, no prazer de não se explicar, no agir, no observar,
na ausência e presença de responsabilidade. A felicidade é propriedade e
receita particular de cada indivíduo. Busque a sua. Te convido a uma realidade
alegradora.
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