Não sou perfeita, nunca tive essa ambição. Tenho plena consciência de
que as pessoas mais interessantes que já conheci são discrepantes,
ousadas e não me dão vontade de abraçá-las o tempo todo. São as arestas
que tornam alguém marcante, a perfeição é nada mais que uma projeção
intangível ou uma visão turva, rasa e infantil do que quer que seja.
Aliás, o conceito de perfeição é pueril.
Lembra de quando você vivia [ou sobrevivia] seus tenros e
inexperientes anos de adolescência? Lembra do príncipe encantado? Você
sabia exatamente o que queria dele. Na minha lista, admito, constava até
a textura das mãos da criatura hipotética. Ele apareceu? Se apareceu
foi por algumas horas e logo desceu à condição humana ou de sapo mesmo.
Mas certamente apareceu um cara melhor do que você pode imaginar
naquela época. E ele não carregava um sorriso 24h por dia no rosto mas
quando o abria, iluminava tudo em volta, como se o mundo tivesse
começado naquele momento.
A s pessoas só crescem quando descobrem que a perfeição é nada mais
que ilusão. Nada é perfeito, ninguém é realmente perfeito. Pessoas são
personagens bi, tridimensionais, serão boas e más dependendo da situação
[aliás, nada mais limitado que o conceito de bom e mau]. Perfeito é
fotografia com um único plano e só. Viver a vida real é admirar apesar
das imperfeições. Só assim a gente cresce.
Pessoas autênticas jamais serão perfeitas ou desejarão sê-lo. A
autenticidade está em aceitar-se, respeitar cada centímetro da própria
personalidade. Seus amigos não são perfeitos, seus professores não são
perfeitos, seus pais também não. São só pessoas e portanto não merecem
apreço só pelos seus atos, destina-se afeto a alguém pelo que traz
dentro de si, pelo modo como faz você se sentir.
Alguém um dia me disse que as pessoas que marcam de verdade a vida da
gente vão nos decepcionar em algum momento, é a única garantia. As
crianças guardarão seus brinquedos, se trancarão e irão para casa, para o
seu lugar seguro, idealizar a perfeição, idealizar “Tristão e Isolda”.
Contudo, os adultos saberão lidar com essa decepção assim como sabem
conviver com as suas próprias arestas. Os adultos amarão na
contemporaneidade, sem mitos, sem projeções, simplesmente vivendo a
realidade. E amarão mais que a projeção de seus próprios valores, amarão
pessoas.
Clarice Lispector escreveu “não faz sentido dividir as pessoas em
boas ou más. Pessoas são apenas encantadoras ou monótonas”. Posso
acrescentar que por conseqüência, não existem pessoas perfeitas. E se
você ainda as busca, por favor, volte logo ao Jardim de Infância.
- Bruna Barievillo
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