quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Não mande flores, mande você

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Há muito, muito tempo, eu li a seguinte frase e nem me lembro onde foi: Não mande flores, mande você. Salvo uma falha no pente da minha memória, acho que era do meu conterrâneo e publicitário Washington Olivetto e se referia a como agir quando alguém que conhecemos atravessa um momento difícil, seja uma doença física ou um perrengue emocional. Achei-a linda, linda, linda…

Penso da mesma maneira, embora ache delicadíssimo e de bom tom o gesto de mandar flores a alguém – uma bela braçada de flores coloridas transforma para melhor o dia de qualquer ser humano, creio eu, e pode até fazer a gente suspirar pelos cantos. Esqueça aquela bobagem que dizem desdenhosamente que as flores morrem; nós também morremos, não é mesmo? Somos a soma de instantes e nada levaremos daqui, portanto mande flores, bombons, mande beijos ou abraços apertados enquanto ainda temos tempo.

Economizar a si mesmo é o maior ato de egoísmo possível; negar abraços, sorrisos ou carinho é mesquinho demais. Não se compartilhar quando alguém precisa dos nossos braços para levantar e prosseguir vai contra toda a interdependência que nos classifica como humanidade, a mesma que mantém o delicado equilíbrio de existir como um todo. A vida é cíclica – um dia sorrimos só pelo vento acarinhar o nosso rosto, noutro, estamos em posição fetal querendo sumir da face da Terra, mortos por dentro. Ninguém está imune às vicissitudes, tolo de quem pensa o contrário. Os dados rolam o tempo inteiro e a sorte não conhece dono.

Tenho amigos que, nesse exato momento, estão passando por momentos duros. Uns perderam pessoas que amavam, outros enfrentam imensos obstáculos, como doença na família. Espero que eu esteja sendo uma boa amiga agora tanto o quanto sou nas farras, sinceramente. É nessas horas que a gente sabe quem é amigo de verdade.

Por isso, mande flores se quiser, mas nos momentos difíceis da vida, a sua presença é o que conta de verdade. Nem a orquídea mais bonita da Terra seria capaz de substituir um abraço, um colo, um conforto, um vai-ficar-tudo-bem. Tem dias que tudo parece tão difícil que a gente trocaria a eternidade pela sensação de termos um ombro onde apoiar. E quando a maré ruim passa, quando tudo volta a ficar bem, quando recuperamos a sanidade, estaremos mais prontos do que nunca para retribuir aquele afeto quando um amigo precisar.

Tudo passa na vida – inclusive as flores. O que não passa nunca é a gratidão de poder ter tido com quem contar quando a gente achava que aquela dor não passaria jamais.

  - por Corina Haaiga

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