sábado, 16 de janeiro de 2016

Reaproxime-se de alguém que ficou distante (...)

Deixe de lado pré-julgamentos e picuinhas, disponha-se a ouvir com atenção plena e cultive interesse por aqueles que, (...), ficaram longe

Jader Pires

* * *

Eu tenho um péssimo defeito que é usar a brincadeira de ser cria de uma família italiana para me desculpar com coisas que faço de errado. Uma delas é a davendetta, a vingancinha burra e silenciosa muito praticada no cotidiano.

Precisamos nos lembrar a todo instante que não somos um floco de neve belo e único, pessoas especiais que necessitam de atenção especial pelo simples fato de ocupar o tão cobiçado umbigo do mundo. Você, assim como eu, não é importante. Mas tem vezes que isso me pega de jeito e faço a famosa picuinha de esfriar a relação, me afastar propositalmente, ser mais áspero ou desatento. Me torno, por mesquinharia, indisponível.

Ainda bem que o primeiro passo é sempre admitir. Sabendo dessa faceta e tendo plena noção de que minha linhagem carcamana nada tem a ver com isso, constantemente me policio para voltar a dar abertura e atenção para as pessoas que se afastam em minhas relações. 

Não se esqueçam, elas sempre seguem.

Se colocar disponível

Em vez de reencontrar alguém que mantém uma relação distante com cobranças – "poxa, cê tá sumido, hein", "Orra, cê não é mais o mesmo, cara" – ou justificativas – "Ah, eu dei uma sumida, né" –, apenas se coloque disponível e atento, aberto para escutá-la. As pessoas querem ser ouvidas, acolhidas.

Coloque-se em uma posição de interesse.

As pessoas se alegram com nosso florescimento

Quando avançamos nas coisas que fazemos e vivemos de modo mais amplo, com abertura, a aproximação também acontece. Todos queremos melhorar e nos aproximamos do que vai nos facilitar esse processo.

Prosperamos, expandimos nossas vidas e deixamos espaço aberto para quem quiser trocar e absorver e as pessoas vão imediatamente querer avançar também, desenvolver-se junto conosco.

Como se reaproximar de alguém que ficou distante (...)

O interesse pode surgir naturalmente ou com direcionamento, lembrando de alguém ou procurando pessoas que se afastaram (...). A grande sacada é não ficar com opiniõezinhas ou julgamentos, mas apenas com a abertura genuína de interesse.

"Como será que está essa pessoa?"

Pergunte isso a ela. Se interesse por suas proezas e dramas, apenas como ouvinte. Você não precisa resolver o problema de ninguém, muito mais interessante é deixar a postura aberta pra ela trocar, se ver acolhida na conversa. Não há necessidade de adulação nas conquistas, apenas ouvido aberto e olhos vigilantes, estar com a mente presente no que está sendo falado.

Disponha-se.

Volta pra me contar. Gostaria muito de escutar os relatos de vocês com suas impressões sobre ele.

Grande abraço!

Jader Pires

É escritor e editor do Papo de Homem. Seu livro de contos é o Ela Prefere as Uvas Verdes. Está no Facebookno Instagram e escreve semanalmente sua newsletter, a Meio-Fio, com contos/crônicas e uma curadoria cultural todas às sextas, direto no seu e-mail.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Amizade sem trato

Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos. Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental. Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família. E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho muito mais do que dois ou três. São uma cambada. Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica?

Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa, de repente sabemos até de uma fofoca sobre eles, mas amigos? Nem perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes.Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição. E o mais importante: o carinho não precisa – nem deve – vir acompanhado de um motivo. As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor – tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato. Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena. Você não precisa de uma razão. Basta sentir a falta da pessoa. E, estando juntos, tratarem-se bem.Difícil exemplificar o que é tratar bem.

Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio. Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias. Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente. Cumplicidade? Mais do que cumplicidade. Sintonia?Acho que é amor. Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno. E para não invejarem as vitórias um do outro. Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços – mas liga quando o sumiço é exagerado. Tudo isso é amizade com trato. Se amigos assim entraram na sua vida, não deixe que sumam.

Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção. Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha. E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem doisamigos pra valer. E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma destes dias de hoje, tão emergenciais, tão individualistas. Nada disso. A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso.

Martha Medeiros

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O que não fazer para ter (uma boa vida)

Por Fernanda Young

Roteirista de séries como Os Normais, Fernanda Young preparou uma lista de coisas que você precisa deixar para trás (na vida).

Não repetir os mesmos erros. (Dia) novo, erros novos. Burrices, todo mundo faz, mas pouca gente sabe aprender com elas. Figurinhas e burrices: troque as repetidas.Não tirar selfie fazendo bocas que você não faz quando não faz selfie.Não trollar os posts dos outros, aproveitando o anonimato da internet. É feio. Mais feio que qualquer foto feia. Lembre-se da lei do (retorno): tudo que você faz volta para você, algum dia.

Não comprar uma coisa só porque é tendência. Tendências tendem a desaparecer rapidamente e as pessoas tendem a ficar ridículas usando tendências.

(...) E lembre-se que a internet é que nem tatuagem: depois que botou não tem como tirar.

Não colocar a culpa de tudo nos outros. Mesmo sabendo, como nós sabemos, que a culpa de tudo é dos outros mesmo.

Não empurrar as coisas com a barriga. Aliás, não ter barriga para empurrar as coisas seria um conselho melhor ainda, mas está provado que as barrigas vieram para ficar e barriga negativa é pura ilusão de ótica. Barrigas são positivas — apenas cuidado para não exagerar na positividade.

Não exigir demais de você. Mas também não exigir de menos.

Não deixar que a preguiça atrapalhe seus planos. Ela vai vir, e vai tentar de tudo para te convencer, mas você tem que ser forte. Desistir é sempre mais fácil, mas a facilidade é a morte da paixão.

Não fazer barulhos que atrapalhem a vida dos outros. Nosso mundo anda muito barulhento, cultive um pouco de silêncio. Cuidado, especialmente, com a tentação de fazer obras desnecessárias em seu apartamento. Perturbar o vizinho é sabotar a própria paz.

Não fazer cobranças (a menos que você trabalhe no departamento de cobranças de uma empresa). Todos reagimos de maneiras diferentes às coisas, aí que está a graça da coisa. Se você espera que as pessoas reajam como você reagiria, pode se preparar para se decepcionar diariamente. Quando você cobra uma atitude de alguém, você perde a razão e uma boa oportunidade para ficar calado. Cada um tem seu jeito, e seu tempo.

Não se levar muito a sério. Saiba encontrar a graça até na própria desgraça, ela está lá em algum lugar. Você vai ter dias bons e dias ruins (...) então não estresse mais do que o necessário (...). Toda tragédia, depois de um tempo, vira comédia.

Não ficar checando o celular, quando estiver com alguém. Se a pessoa com quem você está não é interessante, não esteja com essa pessoa. Aliás, qualquer pessoa ao vivo, na sua frente, é mais interessante que qualquer post interessante — basta olhar direito.

Não ter medo de experimentar coisas novas. Por mais que você conheça, você não conhece quase nada. O mundo é absurdamente imenso, as possibilidades são infinitas. Ficar preso ao que você já conhece é se fechar para a maravilhosa imprevisibilidade da vida.

Não se auto-sabotar. Você é o pior inimigo que você pode ter. E nosso pequeno sabotador interno se aproveita de momentos de crise para detonar nosso amor-próprio. Saiba diferenciar auto-crítica de auto-trollação.

Não defenda ideias em que você não acredita. Seguir a opinião dos outros é a maneira mais rápida de não fazer diferença. Faça diferença, é para isso que você está aqui. Tenha a sua própria opinião, é saudável e grátis.

Não guarde rancor. Se tiver algum guardado, recicle. Rancor reciclado se transforma em energia.

Não vacile com os outros. As pessoas contam com você e vacilar com elas seria péssimo. Dê o melhor de você em tudo, é a melhor receita para não ter insônia de noite.

Não engula sapos. Sapos tem glúten, mesmo os orgânicos, com sotaque de Minas. Sabe aquela gosma em volta dos sapos? É gordura-trans. Sapos engolidos triplicam o colasterol. Enfim, invente qualquer besteira como essas, mas não engulam sapos. Não mais. Resumindo, a principal coisa para não fazer (na vida é o que de errado fez até hoje).

Obs.: Texto modificado ao original.

Fotografia: Rafael Alencar e Alice Cristina

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Não quero te perder pra depois valorizar você

 

Márcio Rodrigues

Eu tenho certeza do jeito que gosto de você. E isso aconteceu quando eu pensei na sua ausência. No meio tempo entre entender se o que eu sentia por você era só uma atração ou uma vontade de dividir meus dias, eu imaginei como seria a minha vida sem a sua. Me forcei viver com o vazio da sua presença e a saudade da sua risada. E não foi bom.

Eu te valorizo hoje para não ter que te lamentar amanhã.

Eu não quero sentir o sabor da saudade por algo que eu deixei escapar. E isso quer dizer que eu não quero me ver sofrendo depois só porque eu não fiz o bastante para te deixar ficar. Por isso eu quero ser uma pessoa diferente.

Sendo tão incompleto, um pouco mais por dia você me faz mais completo. É quando me vem o som da sua risada numa hora qualquer do dia e eu me pego rindo feito bobo é que penso: eu quero ouvir muito mais! Eu quero mais momentos como esse! É na sua torcida para que a minha vida dê certo, seu incentivo para eu continuar lutando e também pelo seu puxão de orelha, é por essas e outras tantas coisas, juro, por coisas como essas que eu quero ter você sempre por perto comigo.

Lembro dos nossos bons momentos planejando outros melhores. É um sentimento crescente, um mantra pessoa sobre a vontade de continuar vivendo bons dias. Quanto mais coisas boas eu pensar para nós dois, mais longe ficaremos das ruins.

Por isso não quero te perder para depois valorizar você. Eu já sei do bem que me faz, de cada uma das coisas. Me cabe saber reconhecer isso e agradecer todos os dias pelo privilégio de ter alguém ao meu lado para me ajudar. E isso é muito mais que amor! Não é sobre alguém pra amar (...)! É sobre alguém te falar na cara que você está errado, é sobre alguém estender a mão para segurar a bronca com você, é sobre alguém preferir o “vamos” do que o “vai”.

O amor é só uma embalagem bonita do presente que é a vida. Amor sozinho não é tudo. Responder “eu também” depois de um “eu te amo” não significa tanto. Aliás, repetir “eu te amo” incansavalmente também não garante nem comprova amor nenhum. O amor é o todo dentro do tudo que se pode ter com alguém.

Só quero continuar com os nossos dias. Quero continuar riscando nossos planos e traçando novos. Quero mais cinemas e descidas lentas nas escadas rolantes. Quero prolongar os nossos bons momentos, e tudo para isso para não te valorizar só depois de te perder. Quero esbarrar na sua mão mais vezes quando for pegar pipoca no pote durante o filme.

Fonte: Site EntendaOsHomens