domingo, 21 de dezembro de 2014

Dos amores que perdemos nas esquinas


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Seus olhares se cruzaram inocente e despretenciosamente. Eles se conheceram sem dizer uma palavra. Abriram toda sua intimidade, necessidades, medos, aspirações, desejos ocultos. Perceberam que podiam se amar por toda a eternidade. O mundo parou literalmente. Que loucura! Nunca haviam se visto antes. O diálogo mudo durou pouco menos que um minuto, mas foi o suficiente para marcar aquelas almas. Mas o mundo externo os desconectaram rapidamente e um deles se foi sem se despedir, como se aquele momento fosse fruto da imaginação de uma das partes. E o mundo ‘real’ o fez esquecer aquela experiência, não permitiu correr atrás – nem que fosse apenas com os olhos – daquele possível eterno amor. Deixamos o amor passar diante dos nossos olhos, muitas vezes por distração. A distração pode atrasar nossa felicidade – e isso não é papo de um romântico incorrigível. Mas há quem diga o contrário. E vem a coincidência. Sim! A coincidência, pois não acredito no destino – somos autores de nossas histórias. Somos responsáveis por nossas escolhas. Voltando aos acontecimentos, seus olhos voltaram a se cruzar inesperadamente. E dessa vez eles se reconheceram e não sabiam de onde. E esse encontro foi a prova que precisavam, tinham tudo a ver um com outro. Como nada é de ‘mãos beijadas’, como dizem por aí, haviam barreiras. Foram monossilábicos, mas se renderam ao mesmo gosto musical, literário – exatamente como haviam se apresentado com os olhos anteriormente. Depois da distração, o maior destruidor de grandes histórias é o medo. O medo fez com que eles se esquivassem. Desistissem daquele encontro. E assim acabou o amor ao separarem seus corpos numa fatídica esquina. Ao contrário de suas mentes, que continuam de alguma forma conectadas aguardando que a coincidência lhe seja generosa e contribua para um próximo encontro. Aguardam um desfecho diferente, mas tudo indica que nunca mais se verão outra vez. É como digo, o amor está pelos ares das cidades, mas difícil é encontrá-lo meio a tanta poluição. Quando o encontrar ‘não o perca, não se perca’ – li isso em algum lugar a jamais esqueci. Mas os personagens do dia ainda não haviam lido isso. Cada vez que perdemos a oportunidade de ser recíproco a um amor permitimos que parte de nós se desfaça até não restar absolutamente nada.

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