Fabrício Carpinejar
São tantas as conquistas femininas ao longo do tempo, de independência
do jugo masculino, que não vale jogar fora por uma noite. Não se rebaixe
a sujeitos que pensam que podem comprá-la por conforto e ostentação.
Dinheiro não traz paz de espírito.
Não aceite, por exemplo, que o homem pague bebida, ele vai supor que está a fim dele e entender errado. A cortesia custará caro. Não troque seu charme por um favor ou uma dose de vodca. Não alcance esperança se não existe nem atração. Não faça o tipo acreditar que tem chance apenas para baratear o custo da balada. Não transmita a ideia de que um camarote representa alguma vantagem ou preliminar. Ser VIP é uma ilusão. O cercado vira uma prisão. Não se diminua esteticamente, a ponto de decorar o ambiente, suportando o anfitrião se vangloriando de suas coxas à mostra. A pulseira colorida não amadurecerá em aliança. Não admita metade do preço das baladas e bares. É uma cilada machista. É tratar a mulher como manada para atrair homens. Pague o valor integral, para não ser vista como uma isca. Ao sair, preveja condições de ir e voltar, sem depender de milagres. A autonomia protege a escolha. Passe a mensagem correta, doa a quem doer. Quer sexo ou amor? Já venha com a pergunta definida de casa. Homem não tem complexidade para perceber os dois juntos. Dificulte a vida do pretendente – homem se apaixona ao ser desafiado. A dúvida cria o mistério. Brigue, conteste, não concorde com tudo fingindo que é agradável. Bajulação é demonstração de submissão. Primeiro, estabeleça o contato. Depois, aceite a cantada. Não adianta reclamar do imprevisível e se lamentar como vítima do destino. Desde antes, diga o que deseja. Quebre a coluna vertebral das palavras, explore a sinceridade e a realidade, não simule que será uma história de amor ao perceber grosseria e laconismo. Não force a barra por visibilidade e confiança perante as amigas. Homem emprega o artifício de deixar rolar para não se comprometer. Recuse o expediente da passionalidade, da mágica, do encontro astrológico. Fundamente a opção com boa conversa e cuidado. Quando o homem escuta, não significa que esteja concordando. Provoque sua fala, para que ele se denuncie e entregue suas contradições. Se ele não sabe falar, não saberá amar. Muito menos aposte no trago para criar empatia. A bebida não tornará ninguém melhor, somente piora o que já existe. Não seja contra o cavalheirismo, é um indício de relacionamento sério. Perder tempo é dedicação. Não se oponha a que ele puxe a cadeira, segure o guarda-chuva, abra cervejas. Educação nunca faz mal. Um homem educado é o princípio de um homem gentil. Gesto é sempre honra, não moeda. A vulgaridade envelhece. Não ponha vestidos que não permitam respirar. Tubinhos que fazem todas parecerem iguais e prontas para o sexo. Com a barra na altura da calcinha. É o uniforme do desespero. Aproveite a moda como ideologia: vestidos coloridos, combinações descoladas, vivas, com traços de sua personalidade. A aparência é a alma do olhar. Aja para o amor verdadeiro com espontaneidade. Não guarde vergonha de suas crenças e convicções. [...] Homem enumera as mulheres que pegou aos amigos. Não seja um número. Se ficou com um, não fique com outro da mesma turma. Será vítima de bullying sexual. [...] Romance não é sobremesa, precisa vir com o prato principal. Liberdade é jamais faltar respeito consigo. Ao identificar que ele não respeita seu ritmo, dispense. Não atalhe com medo de perder alguém. O atalho é o caminho mais longo, cheio de explicações, remorsos e desculpas. A paciência é sinônimo de sedução. Dispense frases de para-choque de caminhão. Procure despertar o improviso, a inquietação, a novidade. Não se convide para dormir na residência de um desconhecido, jurando que tem boas intenções. Ainda que não aconteça nada, ele se envaidecerá de expor seu apartamento disputado para a vizinhança. Não dê oportunidade de flerte a homem comprometido. Que o estado civil se transforme em pré-requisito, não alimente suspense para descobrir do pior jeito na semana seguinte. Preferível o constrangimento ao vexame. Intimidade vem com a ternura, jamais para quem tem pressa. Publicado no jornal Zero Hora Coluna semanal, p. 6, 02/12/2014 Porto Alegre (RS), Edição N°18001 |
Espaço com expressõs de mentes anônimas e famosas. Aqui você encontra músicas, filmes, poesias, crônicas, pesquisas, frases ou todas elas na mesma postagem. Doses diárias de reflexão para você que tem a sensibilidade de compreender que a vida é uma arte sem fim.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
DINHEIRO NÃO COMPRA TUDO
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