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Viajar sozinho é um grito existencial de liberdade. Estar a deriva,
jogado ao acaso, se virar na lei global da selva, sorrir quando não se
sabe dizer, descobrir espaços em você que até então estavam dormentes.
Deixar bagagens mentais e problemas que vieram junto se diluírem pelo
caminho. Você a as nuvens. Não, não é tão difícil assim; vai depender
das suas escolhas.
Costumo dizer que quando fazemos um caminho e nos perdemos, se
estivermos acompanhados de alguém isso se torna até algo divertido,
prazeroso, se perder de dois nunca é tão grave assim. Mas quando se está
sozinho, se perder sozinho só é agradável caso você esteja viajando. A
coisa que eu mais gosto de fazer quando viajo é isso, me perder.
– One information please? How can i lose my self?
Posso afirmar que tudo que de melhor me aconteceu em minhas viagens
foi me perdendo, me entregando a situações que não tinham hora para
fechar, que não tinham batalhões turísticos tirando foto, que não tinham
no meu guia Frommer’s.
Foi assim que em uma madrugada
no Havaí, pulei a cerca de um parque que já estava fechado, atravessei
um vale carbonizado por uma hora e me deparei com um lindo vulcão que
despejava lava contra o mar, o Kilauea.
Foi assim que em Berlim fui parar em uma cervejada dentro de uma
estação espacial desativada toda feita de motivos ufológicos, a beira do
rio Spree. Nela haviam senhores loucos falando sobre extraterrestres,
vários videos reveladores em projeção, muita piração e cervejas do leste
europeu.
Foi assim que em Golden Coast na Austrália, eu fui parar em um parque
de diversões de um brinquedo só. O brinquedo era o oposto do elevador
do Playcenter. Ele te lançava para o espaço com uma rapidez de querermos
vomitar o estômago. E o mais legal, ele tinha duas vagas, e eu fiz
amizade com uma muçulmana que topou ir comigo.
Quando viajamos sozinhos não se faz necessário negociar nossa
liberdade com o outro. Você se reinventa, você é livre até para ser quem
você (não) é, pra decidir cancelar todo o roteiro do dia e sentar numa
praça só para ver a vida passar, puxar assunto com gente nativa e saber
um pouco mais sobre como é morar naquele lugar. Mas não se entristeça. É
possível viajar sozinho, mesmo se estando acompanhado. Os companheiros
ideais de viagem são aqueles que te deixam livre, que não pesam com a
presença.
Que são capazes de entender quando você não está a fim de ir no
Louvre e que aceitam se separar por um dia para que cada um faça o que
está a fim, que aceitem “relacionamento aberto” em viagens. Lembrando
que isso vale mais para amigos e parentes; em casal isso fica mais
difícil de se aplicar.
A última dica para se viajar “sozinho em dois” é quase uma regra: nem
sempre o seu melhor amigo é o melhor companheiro de viagem. Às vezes
aquela escolha aleatória decidida no meio de uma conversa com um meio
amigo pode render uma bela viagem. Sim, é geralmente assim que aparece a
pessoa ideal para nos acompanhar.
Um dos melhores lados de viajar sozinho é saber que no seu destino
tem sempre alguém te esperando, e geralmente esse alguém ainda não sabe
que está. Viajar guarda o lado mais bonito do encontro, ou do
reencontro.
Fonte: Escrito por: Eduardo Benesi – Via: Entenda os Homens
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