É possível que, muito mais apaixonado do que “sóbrio”, me posicione
no sentido de apostar na radicalização das práticas pedagógicas,
ultrapassando largamente a mera presença dos DH em livros e cartilhas. A
meu ver, é imprescindível, no campo dos Direitos Humanos, e na
educação, de modo geral, a radicalização das práticas democráticas.
Por Fábio Chagas
A configuração político-ideológica do Congresso Nacional e a vigência
de programas televisivos descompromissados com a democracia e os
Direitos Humanos revelam uma sociedade aferrada a valores que represam o
desenvolvimento de uma cultura mais democrática. Lamentavelmente, nosso
atraso cultural é mantido e reproduzido por parte significativa dos
grandes meios de comunicação, donde a regulação dos mesmos se faz
urgente e inevitável.
Não será demais lembrar que, tanto a eleição de parlamentares, quanto
a audiência televisiva, são garantidas por largas faixas sociais da
sociedade. A verificação dos fatos, somada aos infinitos casos de
violação dos direitos mais elementares, cristalizam a
inquestionabilidade da vigência do autoritarismo, do racismo, da
intolerância à liberdade de gênero, sexual, entre outras tantas. Neste
cenário, então, desejamos as boas vindas à Secretaria de Direitos
Humanos em nosso estado.
Devemos ter claro que, embora a nova Secretaria seja capitaneada por
Nilmário Miranda, reconhecido e incansável lutador pela causa dos DH,
quase nada se poderá fazer sem o apoio e, principalmente, o envolvimento
de todos os/as ativistas dos Direitos Humanos de Minas Gerais.
Assim é que, em vista dos colossais desafios das muitas frentes de
ação, meu entendimento é o de que a Educação em Direitos Humanos deve
receber uma atenção especial, envolvendo, por seu turno, a Secretaria de
Educação (muito bem guarnecida pela professora Macaé Evaristo).
Longe de me posicionar como um especialista, mas como simples
professor e militante e, focando-me nos estudos sobre a Educação em DH,
faço notar que as práticas pedagógicas têm comportado um caráter
primordialmente jurídico, em detrimento de fatores pedagógicos. Muito do
trabalho da Educação em DH circunscreve-se à divulgação e
reconhecimento dos direitos e à divulgação dos canais legais para fazer
valer esses direitos.
É possível que, muito mais apaixonado do que “sóbrio”, me posicione
no sentido de apostar na radicalização das práticas pedagógicas,
ultrapassando largamente a mera presença dos DH em livros e cartilhas. A
meu ver, é imprescindível, no campo dos Direitos Humanos, e na
educação, de modo geral, a radicalização das práticas democráticas.
Entusiasma-me a possibilidade de ver alunos e alunas participando e
decidindo sobre o destino de suas escolas, por meio de plebiscitos e
ações coletivas concretas. Me anima pensar que em pouco tempo, talvez,
estudantes e comunidade discutam e deliberem sobre o melhor currículo às
suas realidades socioculturais.
Corajosamente, deveremos subverter as relações entre professores/as e
alunos/as para mobilizar os/as jovens numa espiral crescente. O
despertar para a liberdade de escolha pode estimular a organização e, ao
final, os mais resistentes podem se acalorar com o entusiasmo de seus
pares.
Seria uma irrealidade? Talvez, mas o imperativo de transformar e nos
transformamos exige propostas e ações mais ousadas. Não creio que ainda
tenhamos tempo para experimentar ações corretivas àquilo que insiste em
se mostrar incorrigível.
Fonte: Instituto Pauline
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